Alegando a criação de “um falso problema”
Funcionários da Visteon contestam sindicato
As suspeitas lançadas por uma delegada sindical da Visteon, sobre a origem de mortes e de abortos que terão ocorrido entre trabalhadoras da fábrica, não caiu bem junto de cerca de 900 funcionários da empresa de Palmela que, por isso, decidiram subscrever um abaixo-assinado demarcando-se da posição do Sindicato das Indústrias Eléctricas (SIESI). A contestação foi mais longe porque, dias depois de uma manifestação frente às instalações da fábrica, entregaram o documento na Inspecção de Trabalho. O sindicato, por seu lado, afirma que os trabalhadores estão a ser pressionados pela administração.
Centenas de trabalhadores da antiga Ford Electrónica, de Palmela, pararam as máquinas para se manifestarem frente às instalações da fábrica de auto-rádios depois de conhecidas as denúncias da delegada sindical, Helena Severino, sobre alegados receios acerca de eventuais relações entre algumas mortes e abortos espontâneos e as condições de trabalho na empresa.
É que as declarações da representante do SIESI caíram mal junto de 900 dos cerca de 2000 trabalhadores que, por não concordarem com a posição do sindicato, decidiram demarcar-se através de um abaixo-assinado por considerarem que os sindicalistas resolveram criar “um falso problema”.
Segundo os subscritores do documento, não há razões para as suspeitas apontadas até porque dizem não ter conhecimento dos casos indicados pelo sindicato a quem acusam de “tentar denegrir a imagem da empresa” colocando em risco os postos de trabalho. Quanto às denúncias sobre abortos, o documento indica que, dado o facto da população fabril ser composta maioritariamente por mulheres, os casos referidos “não comprovam a veracidade das acusações” sobre abortos espontâneos devido a radiações.
Quem não se atemoriza com tal posição é o Sindicato das Indústrias Eléctricas que acusa a administração da empresa de “pressionar os trabalhadores”. O dirigente do SIESI, Nelson Baptista, vai mais longe e garante mesmo que a delegada sindical “está a ser perseguida pela empresa”. Face ao abaixo assinado, o sindicato acusa ainda a fábrica de “utilizar mistificações e transferir para terceiros as suas próprias responsabilidades”.
Por isso adverte que, a continuar assim, o SIESI “irá utilizar todos os meios para investigar os factos relacionados com os recentes problemas de saúde” no sentido de “responsabilizar criminalmente” a Visteon. Nelson Baptista sustenta todas as declarações proferidas por Helena Severino, até porque, segundo adianta o sindicato, se nem o SIESI ou qualquer outro trabalhador podem assegurar que os problemas de saúde decorrem das condições de trabalho, o certo é que “também ninguém pode dizer o contrário”.
Para este responsável, os receios “são legítimos” e “apenas a realização de estudos” por entidades idóneas e subordinadas à Direcção Geral de Saúde, “poderão confirmar” ou desmentir tais suspeitas. Escandalizado com “a perseguição” à delegada sindical o dirigente do SIESI lança um desafio à Visteon, no sentido de “demonstrar publicamente” e junto da Direcção Geral de Saúde, “que não existe qualquer relação entre os problemas de saúde na fábrica e as condições de trabalho“.