[ Edição Nº 118] – CRÓNICAS DA BEIRA-MAR por Raul Oliveira.

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Tão democratas que nós…éramos

         A classe política continua a surpreender-nos a cada passo, eis a conclusão a que podemos chegar quando sabemos de certas tomadas de posição de alguns políticos que, pessoalmente até tínhamos em boa conta, e que resolvem, como soe dizer-se , ‘borrar a pintura’.

Muito embora nos queiram convencer que a política é uma arte nobre, onde prevalecem os valores, onde se pugna pelo melhor para os povos, que os políticos muito “sacrificadamente” governam, blá blá, na volta salta-lhes o ‘pé p’ra chinela’ e lá ficamos nós mais uma vez desiludidos.

Depois do folhetim de mau gosto que foi a reacção (ou falta dela) da família socialista, aos ataques soezes de uns ‘democratas’ de Angola ao patriarca Soares e son enfant, o último caso que trouxe à luz do dia os dotes democráticos do presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, aumentou a nossa desilusão.

O caso é tanto mais insólito porquanto o que o fez despoletar os ataques a Mário Soares foi, precisamente, ele ter usado a sua liberdade de opinião e de ter tido a coragem de denunciar, quer os constantes atropelos cometidos pelos governantes angolanos contra os direitos do seu próprio povo, quer a prisão do jornalista Rafael Marques, por alegadas ofensas ao intocável presidente José Eduardo dos Santos.

Almeida Santos, como defensor assumido (pelo menos até agora) da liberdade de imprensa, certamente terá aplaudido a posição do seu amigo e camarada Mário Soares, usa afinal dois pesos e duas medidas.

Se o jornalista é português e ‘belisca’ os ‘seus’ interesses, Aqui d’El Rei que é preciso credenciar SÓ os de confiança para poderem trabalhar no parlamento, onde Sua Excelência é dono e senhor, ou quer ser.

Nesta altura do campeonato, esses arroubos totalitários e anti-democráticos, para além de extemporâneos, já não colhem porque, embora nalguns casos a nossa democracia possa eventualmente não estar completamente consolidada, há coisas que os portugueses já não aceitam e, uma delas é serem tutelados por falsos democratas.

Portanto, senhor presidente da Assembleia da República, com todo o respeito, será aconselhável que modere os seus serôdios ataques de arrogância e aceite democraticamente a crítica porque, em democracia, NINGUÉM a ela deve estar imune.

A talhe de foice, seria interessante que o líder do Partido Socialista Monsieur Guterres, comentasse este caso, sob pena de ser acusado de conivente por omissão de uma situação que não prestigia nada a família socialista.


P.S.
Ainda se este caso se tivesse passado com um ‘democrata’ chamado Rosado Fernandes, que recentemente teve a topete de acusar os militares de Abril de “primatas fardados”, (ele será o quê? um troglodita à civil?), não nos espantaria tanto, porque a sua noção de democracia nunca foi diferente da do seu gurú: Salazar.