[ Edição Nº 125] – Bloco de Esquerda organizou Jornadas Parlamentares em Setúbal.

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Jornadas Parlamentares do BE em Setúbal
“Temos a direita mais estúpida da Europa”

          Os deputados do Bloco de Esquerda, (BE), escolheram Setúbal para organizar as Jornadas Parlamentares. Assim, nos dias 20 e 21 de Maio, os parlamentares Francisco Louçã e Luís Fazenda percorreram vários locais do distrito onde estabeleceram contactos com a população e com os activistas, procurando fazer aquilo que denominaram de “prestação de contas e ouvir os cidadãos”.

O ponto alto dos trabalhos foi o debate organizado por aquele partido na sala de Sessões da Câmara Municipal de Setúbal, sobre toxicodependência e alternativas. Um debate dominado, na primeira parte, pela intervenção de um convidado especial, o responsável pelo gabinete de intervenção no Casal Ventoso, Carlos Fuga. Um início de debate que começou bem para as teses anti-proibicionistas do BE, já que este médico psicólogo “politicamente independente”, concluiu que “a forma como a luta contra droga está ser encetada só pode conduzir ao desastre”.

Classificando o destino de quantos se deixaram “agarrar” pelas drogas duras, Carlos Fugas separou-o em três tipos: 30 a 40% tratam-se ou saem da droga; 30 a 40 por cento não se tratam e, “mesmo que façamos o pino, continuam a consumir”; 10 a 20 por cento “podem morrer a qualquer momento, devido à Sida ou a descontrolo do consumo”.

Questionando os presentes sobre a razão que leva a que, nos meses de Verão, o haxixe seja a droga mais vendida no Casal Ventoso, o médico psiquiatra haveria ele próprio por dar a resposta, ao afirmar que estes são os meses de férias dos estudantes, nacionais e estrangeiros: “Vêm em grupos de quatro ou cinco para comprar a droga”. Mas no final do Verão, “como por encanto, o haxixe desaparece, e destes quatro ou cinco pelo menos dois ficam agarrados pela heroína”.

Com esta constatação, procurou demonstrar a importância da demarcação dos mercados de consumo, retirando os consumidores ocasionais de drogas levas das zonas onde são vendidas as drogas duras. Idêntica posição foi defendida pelo também médico Carlos Durval, que falou da sua experiência no Centro de Saúde de Amora. Todos concordaram que a administração de metadona – fármaco que atenua a reacção física provocada pela ausência da droga – não resolve por si o problemas porque o consumidor “acaba por tomar a metadona e ir à procura da ‘pica’ da heroína à mesma”, disse depois Carlos Fuga.

A finalizar o debate, Francisco Louçã começou por classificar Setúbal como “um dos distritos mais importantes para o futuro do Bloco de Esquerda”. Iniciando o balanço da actividade de um ano do grupo parlamentar, o deputado não deixou de estabelecer comparações com o maior grupo político do parlamento, o do PS, ao lembrar “os 26 projectos de lei apresentados pelo BE, contra os quatro apresentados por todo o grupo parlamentar do PS”. Destes, destacou a lei contra a violência doméstica e a proposta de iniciativa legislativa popular, bem como o projecto sobre a despenalização do consumo de drogas, a ser discutido brevemente a par de projectos sobre o mesmo assunto apresentados pelo PCP e JSD.

O deputado do Bloco de Esquerda debruçou-se ainda sobre o tema do debate e, foi nesta circunstância que afirmou que “temos a direita mais estúpida da Europa”. Uma referência a Paulo Portas, que Louçã integrou “naqueles políticos que acham que é mais fácil fazer uma peixeirada na feira e mandar as milícias populares contra os arrumadores de automóveis”, do que enfrentar o problema da droga de uma forma diferente como, segundo afirmou, “já acontece na Espanha, na Alemanha e na Holanda”.