[ Edição Nº 127 ] – Entidades oficiais de Setúbal mantêm o silêncio sobre co-incineração na Arrábida.

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Co-incineração continua a agitar Setúbal
Entidades oficiais remetem-se ao silêncio

        A decisão governamental de levar à letra o relatório científico e querer instalar a co-incineração de resíduos industriais tóxicos na cimenteira do Outão, em Setúbal, continua na ordem do dia mesmo depois do ministro do Ambiente José Sócrates ter garantido ‘a pés juntos’ os benefícios deste sistema de tratamento de lixos industriais e desarmar temores de ‘eternização’ da Secil por via desta nova actividade. Contudo, os receios avançados pela Quercus e pelo Grupo de Cidadãos pela Arrábida, parecem não ter reflexo junto das entidades regionais directamente ligadas ao Governo.

Se a co-incineração poderá vir a entrar no dia a dia do Parque Natural da Arrábida (PNA) e na vida de mais de cem mil setubalenses, o mesmo irá acontecer com as centenas de doentes e profissionais que diariamente se encontram o Hospital Ortopédico do Outão, mesmo ao lado da cimenteira. Uma situação que tem vindo a preocupar alguns funcionários hospitalares, pelo menos a avaliar pelas intervenções efectuadas por enfermeiras daquele estabelecimento de saúde, durante as acções promovidas ao longo das últimas semanas pelo movimento de cidadãos.

Contudo, o director daquela unidade de saúde, Lacerda Cabral, recusa pronunciar-se sobre este assunto, uma vez que diz desconhecer o estudo científico e, por conseguinte, não dispõe de dados para tecer comentários. Mas uma coisa o director do hospital quer deixar clara em todo este processo onde já se receia os efeitos da co-incineração junto dos doentes e funcionários: é que a unidade da fábrica que poderá vir a receber os resíduos não é a que serve para cargas e descargas, mas sim a segunda unidade que fica distante do hospital “em cerca de 4 km”.

Entretanto, quem não parece ter dúvidas sobre a co-incineração são os deputados do partido ecologista Os Verdes, uma vez que as parlamentares eleitas por Setúbal já intervieram na Assembleia da República no sentido de inverter o processo que consideram errado. Assim, Heloísa Apolónia e Carmen Francisco apresentam um projecto de decreto lei que prevê a revisão da lei 20/99, sobre o tratamento de resíduos industriais tóxicos, onde é prevista a suspensão do actual relatório e a elaboração de um outro a apresentar até Dezembro deste ano e onde conste uma inventariação completa bem como todas as alternativas de tratamento destes lixos industriais.

Enquanto os políticos discutem a co-incineração no parlamento, a população de Setúbal parece não querer baixar os braços, pelo menos a avaliar pelas iniciativas desencadeadas pelo Grupo de Cidadãos pela Arrábida. Depois do desafio para a colocação de panos pretos às janelas em sinal “de luto e de luta” como refere um dos dirigentes do movimento, João Bárbara, agora é a vez de um cordão humano pelo centro da cidade em protesto contra a queima de resíduos na cimenteira. O cordão humano, que irá contar com a presença de políticos da região e de alguns deputados da oposição, está marcado para as 18 horas de dia 6 de Junho.