Estuário do Sado é o mais rico do país
Autoridades alertam para a sua preservação
De acordo com um estudo do Instituto de Oceanografia da Faculdade de Ciências de Lisboa, o estuário do Sado é o mais rico do país em quantidade e em variedade de peixe e, ao mesmo tempo, um dos mais ricos da Europa. Com uma comunidade ictíica muito diversificada, o estuário apresenta 111 espécies, o que do ponto de vista nacional e europeu é considerado muito invulgar. O resultado do estudo não surpreende a entidade que protege a Reserva Natural do Estuário do Sado que deixa avisos à navegação com vista a preservar este ecossistema.
A riqueza do estuário do Sado está nas suas características marinhas, contrariamente ao estuário do Tejo, onde a água doce predomina. Quem o diz é Miguel Henriques, o biólogo marinho do Parque Natural da Arrábida/Reserva Natural do Estuário do Sado (PNA/RNES), que ao longo dos últimos anos tem vindo a estudar e a monitorizar o sistema de vida desta zona natural e, ao mesmo tempo, a verificar que o sistema marítimo permite a entrada e permanência de dezenas de espécies impedidas de viverem em água menos salinizada.
Apesar de não ter ficado surpreendido pelo resultado do estudo, uma vez que se trata “da confirmação do que já tinha sido detectado”, Miguel Henriques está satisfeito com a publicação do relatório uma vez que ele poderá servir de estímulo à preservação daquele ecossistema único no país. É que embora o Sado esteja relativamente saudável, as suas águas estão constantemente sujeitas a actos de poluição por via dos esgotos urbanos e dos efluentes industriais e agrícolas.
Receando que o sistema estuarino não resista muito mais tempo se não forem tomadas medidas que contrariem as descargas sem tratamento para o estuário, o biólogo marinho alerta para a necessidade de “uma intervenção global” e de um estudo integrado sobre o estado desta zona natural da região. E como considera que a vida do rio depende de “um somatório de intervenções” feitas a jusante e a montante do estuário, Miguel Henriques alerta para os projectos isolados que só por si “ficam no limiar de não fazerem mal ao estuário”, mas que em conjunto com as outras intervenções que têm vindo a ser feitas, “podem originar surpresas desagradáveis”.
É o caso da poluição que poderá levar ao desaparecimento de espécies, tal como aconteceu entre os anos 60 e 80, à alteração da hidrodinâmica por via da mudança das correntes do estuário, e à uma ruptura da salinidade do estuário que levará ao afastamento da maior parte das espécies que agora fazem do Sado o estuário mais rico do país.