[ Edição Nº 130] – Tecido empresarial quer incremento da indústria automóvel na região.

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Incremento da indústria automóvel na região
Tecido empresarial quer mais parcerias

, e que no dia 27 reuniu em Palmela diversos especialistas ligados à economia e ao desenvolvimento regional.

A necessidade de reflectir sobre o futuro da indústria automóvel e os caminhos que esta deve desbravar no sentido de se proteger dos recuos cíclicos do sector a nível internacional, levou dezenas de industriais, empresários e responsáveis pelas áreas laboral e social da região a participarem no encontro promovido pela Comissão Executiva do PEDEPES, em Palmela, o concelho da península de Setúbal onde se concentra a maior parte desta indústria de componentes que, no total, é responsável por mais de 20 mil postos de trabalho.

Uma das possíveis soluções para a fixação das indústrias de componentes na região – que na sua maioria ainda depende das necessidades da Auto Europa – pode mesmo residir no incremento do conhecimento profissional e tecnológico das empresas sedeadas na região, no sentido de se afirmarem no mercado “como parceiras” em todo o processo industrial “desde a fabricação de componentes à criação de novos designs“. Arménio Santos, da Associação Empresarial da Região de Setúbal (AERSET), é um dos maiores defensores desta via de desenvolvimento porque acredita ser uma aposta “capaz de fixar a indústria na região e de vir a ser uma garantia de equilíbrio” face às convulsões do mercado internacional provocadas pela globalização da economia.

A ideia de estratégia avançada no encontro colheu opiniões favoráveis junto dos participantes ligados à indústria automóvel, que defenderam também a ampliação do mercado deste sector de maneira a que as indústrias se transformem em parceiros nacionais e em fornecedores internacionais de componentes como, aliás, aconteceu com a Continental. Criada em 1982, a empresa começou por fabricar componentes exclusivamente para a Auto Europa mas entretanto decidiu apostar no conhecimento tecnológico e expandir a área de negócios, pelo que, actualmente cerca de 80% da produção é já virada para o mercado externo.

Um caso que, no entender dos especialistas, pode servir de exemplo de como “uma actividade dependente pode servir de alavanca para a afirmação” das indústrias de componentes e a sua consequente fixação na península de Setúbal. Mas como para isso é necessário que se aposte também nas tecnologias e na massa crítica, Manuel Fonseca, do Centro de Empresas e Inovação de Setúbal (CEISET) defende o incentivo à criação de mais profissionais nesta área, uma tarefa que acredita não ser difícil, uma vez que a região dispõe de três estabelecimentos de ensino superior vocacionados para a área tecnológica.

Aposta na massa crítica

A questão da qualificação de profissionais no ramo automóvel, aos níveis médio e superior, acabou por revelar-se um dos pontos mais defendidos para uma estratégia de desenvolvimento regional nesta área de negócio, uma vez que “o saber fazer e estar à frente” significa a diferença entre a estagnação e a capacidade de competir. Uma mais valia que, no entender de Manuel Fonseca, poderá significar a garantia de uma economia estável e de criação de mais postos de trabalho na península de Setúbal.

Para José Maia, docente na Escola Superior de Tecnologia de Setúbal (EST), a questão assumiu tanta importância que decidiu lançar o repto aos industriais do sector e à própria Comissão Executiva do PEDEPES, no sentido de “um trabalho em conjunto para tomar pulso à necessidade concreta de criação de licenciaturas” em engenharia mecânica. Uma nova dinâmica que a EST diz estar pronta a criar a curto prazo “se tal se revelar necessário” ao incremento da capacidade tecnológica e de inovação na indústria automóvel. O desafio do docente foi lançado numa altura em que a EST acaba de colocar no mercado de trabalho os primeiros bacharéis em engenharia mecânica.

A vertente laboral e social deste processo de desenvolvimento foi também uma das questões em cima da mesa neste primeiro encontro/reflexão ao abrigo do PEDEPES. Lançada pelo dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos, Joaquim Escoval, a questão recaiu sobre as acessibilidades, transportes, especialização dos trabalhadores e condições oferecidas pelas indústrias. No entender deste responsável, torna-se urgente resolver “problemas de fundo” já que “não se pode falar em competitividade” quando trabalhadores como os da Auto Europa “não dispõem de transportes públicos” para o complexo industrial e quando as acessibilidades “não são as melhores“.

Ao nível da qualificação dos funcionários, Escoval alertou para a falta de pessoal especializado ou de nível superior. “Não é porque não existam candidatos” mas sim porque, segundo garante, “a maioria dos que surgem são reprovados por causa das drogas”. Uma situação a merece o epíteto de “flagelo” por parte do dirigente sindical que defende a criação de medidas nacionais tendentes à resolução deste problema, em paralelo com a dignificação do trabalho que, no seu entender, passa por medidas que garantam maior qualidade de vida aos trabalhadores da indústria automóvel.