Estudos sobre toxicodependência a zero
Projecto Vida extingue-se em Agosto
A cerca de dois meses da extinção do Projecto Vida (PV), para dar lugar ao IPDT/Instituto Português das Drogas e da Toxicodependência, a coordenadora distrital do PV em Setúbal dá por bem empregue o esforço desenvolvido ao longo de mais de um ano. E na semana em que Setúbal recebeu o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Vitalino Canas, para a cerimónia de dia 26 de Junho, de Luta Contra a Droga, as contas de Adelaide Lousada Coelho indicam que ao longo do último ano tem vindo a registar-se uma maior procura de tratamento por parte dos toxicodependentes do distrito.
A convicção desta responsável tem por fundamento “a quantidade de gente que procura ajuda no Projecto Vida”, e que este organismo encaminha para os Centros de Atendimento (CAT’s) e que no entender de Adelaide Coelho, “é bastante superior” ao verificado até há dois anos. A explicação poderá estar nas campanhas de informação desencadeadas pelo PV, a par de “uma maior capacidade” de encaminhamento. Contudo, admite que estes dados “não significam que as coisas andem como se gostaria”, uma vez que a coordenadora do Projecto Vida crê ser este indicador “uma pequena parte da realidade” da toxicodependência do distrito.
Também em relação a esta realidade, Adelaide Coelho enfrenta a ausência de indicadores precisos, razão pela qual defende um levantamento do estado da toxicodependência no país que acolhe o Observatório Europeu da Droga. Mas de uma coisa a coordenadora do PV diz estar certa: o produto mais consumido na região continua a ser a heroína, embora o consumo deste estupefaciente “não tenha aumentado muito” nos últimos tempos. Um outro dado que os técnicos consideram importante neste processo é o que aponta para a fuga dos mais jovens a drogas pesadas como a heroína para preferências relacionadas com drogas de síntese como o ecstasy.
Consciente de que a toxicodependência deve ser encarada como uma questão social e como uma doença a tratar, a coordenadora do PV ainda tem esperanças de ver o trabalho agora desenvolvido com dois centros de saúde alargado a todas as unidades deste tipo no distrito. E se o actual sistema o não permite por falta de médicos de família, o que há a fazer é “arranjar maneira de mudar as coisas” pois no entender de Adelaide Coelho, “os médicos de família desempenham um papel fundamental” no tratamento e no encaminhamento dos toxicodependentes rumo à desintoxicação e à reinserção social. Exemplo disso são os técnicos e os clínicos dos centros de saúde de Sesimbra e de Pinhal Novo, acrescenta.
Ainda na área das parcerias estratégicas, a coordenadora dá o exemplo de municípios como o Montijo, Palmela e Sesimbra onde estão em curso várias iniciativas de inserção dos ex-toxicodependentes na área laboral por via do Projecto Vida Emprego. De fora fica a Câmara de Setúbal que ainda não deu notícia de ter empregue qualquer dos oito ex-dependentes previstos aquando da assinatura do acordo.
Seja como for, está optimista quanto ao trabalho a desenvolver a partir de Agosto, agora no âmbito do IPDT, uma vez que se prevê a prossecução de alguns dos projectos de prevenção primária e de reinserção actualmente em curso, bem como o incremento do trabalho em áreas como a da prevenção primária que ao longo dos últimos meses tem envolvido muitos concelhos da península de Setúbal e do litoral alentejano.
Famílias de prevenção
Numa altura em que a maior parte dos projectos de prevenção primária em curso em quase todo o distrito estão prestes a terminar, o balanço é considerado «positivo» e um factor de incentivo a maior participação das escolas e da própria sociedade civil no combate a um dos maiores flagelos da região. E é por considerar que este “é um problema de todos os cidadãos”, que gostaria de ver um maior envolvimento das empresas na prevenção da toxicodependência e no apoio à reinserção, nomeadamente através da disponibilização de postos de trabalho.
Apostada na recuperação dos dependentes das drogas duras, a coordenadora do Projecto Vida afirma que “as listas de espera diminuíram bastante” nos CAT’s e que tal facto leva a uma maior brevidade no encaminhamento dos casos. Contudo, adverte que o tratamento só dá resultado “se o doente tiver força de vontade e auxílio”, pelo que defende o acompanhamento da família em todo o processo de tratamento e de reinserção na comunidade.
Adepta da proposta de discriminalização das drogas em Portugal, a coordenadora distrital do Projecto Vida diz-se convencida de que o projecto agora em discussão no parlamento poderá vir a descomprimir a actual situação, uma vez que “se o consumo de drogas subiu nos últimos anos é porque o modelo actual não funciona”.
Defensora de uma mudança na política nacional de prevenção e combate às drogas, Adelaide Coelho garante ser esta a melhor proposta e vai mais longe ao afirmar que “como estão é que as coisas não podem continuar” sob pena de “ser cada vez mais difícil” combater o flagelo que vitima milhares de jovens e adultos em todo o distrito.