[ Edição Nº 133 ] – CRÓNICA DE OPINIÃO por Heloísa Apolónia.

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Deambulação da Indústria Naval no Distrito

         O Estado investiu ao longo dos anos muitos milhões de contos na Lisnave, sem que isso se traduzisse na melhoria das condições e direitos dos trabalhadores, nem tão pouco na criação de mais postos de trabalho, nem na modernização da empresa, nomeadamente quanto aos impactes desta indústria no ambiente.

Esse investimento, na realidade, serviu para encher os bolsos ao Grupo Mello que agora deu um pontapé bem redondo na empresa, desinteressando-se da mesma para se dedicar a outros negócios mais rentáveis de momento para este grupo financeiro, e passando-a para um grupo de Singapura. Quanto aos trabalhadores, que ocupam os cerca de 3600 postos de trabalho directos… esses, de reestruturação em reestruturação, vão acumulando incertezas e angústias quanto ao futuro da empresa e, portanto, quanto ao futuro do seu ganha pão e da forma de sustentar as suas famílias. A febre das privatizações, da qual o PS é responsável, funciona assim: a delapidação da indústria portuguesa que passa para as mãos das multinacionais e grupos económicos estrangeiros… e o Estado a Vê-las passar!! “E quem se lixa é o trabalhador”!!.

Com a saída da Lisnave da Margueira, o estuário do Tejo fica sob menor pressão em termos da poluição adveniente desta indústria, mas abre-se um espaço muito apetecível para a pressão urbanística, que tem de ser travada. Um espaço que durante décadas serviu de barreira entre a cidade e o rio, deve agora ser devolvido às populações, e ser adaptado de modo a cumprir funções de aproximação das populações com o rio Tejo.

Apesar de o Governo ter sempre negado o conhecimento de qualquer projecto que foi divulgado como “Manhatan” para Almada, o certo é que não estou descansada quanto a esse pretenso conhecimento do Governo, nem quanto à intenção de levantar um conjunto de arranha céus na Margueira, descaracterizando toda a zona e desrespeitando e dificultando qualquer acção de ligação do rio com os cidadãos. A negação deste projecto por parte da Câmara Municipal de Almada foi firme, como firme tem sido a exigência de descontaminação do local e a sua transformação. Esperemos que o Governo entenda assim também.

Da Margueira para a Mitrena, junto à Reserva Natural do Estuário do Sado, e Zona de protecção Especial, classificada na Rede Natura 2000, é fundamental que esta indústria naval seja avaliada em todas as formas de minimização dos seus impactes no meio e que haja uma aposta séria na concretização de todas essas medidas de minimização de impactes ambientais, promovendo-se a modernização desta indústria.

Já dirigi um requerimento, através da Assembleia da República, ao Governo no sentido de obter informação, para além da situação dos trabalhadores, sobre as medidas que estão e irão ser tomadas para garantir a avaliação de impactes ambientais do que se pretende instalar na Mitrena.