Edição Nº 133 • 17/07/2000 |
Festival de Almada bateu recordes de público
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– O Festival Internacional de Teatro de Almada está na recta final, hoje e amanhã ainda há espectáculos, mas, num primeiro balanço está satisfeito com a reacção do público? Joaquim Benite – O festival tem corrido bem. Há um crescimento do público que é muito notório este ano, independentemente das estatísticas, é visível a olho nu. O festival tem vindo a crescer, tem mantido um crescimento contínuo de ano para ano, mas esta edição é o grande salto. Penso que, de uma maneira geral, o público tem gostado dos espectáculos, mais de uns do que de outros como é normal, mas, do ponto de vista global das peças apresentadas, eu penso que há este ano também um maior equilíbrio, uma maior homogeneidade em termos de qualidade dos grupos. SR – Este ano foi instituído o prémio para a melhor encenação em português. É uma iniciativa para continuar? JB – É um projecto para continuar, haver um prémio, que se chama António José da Silva e é patrocinado por uma empresa. Este ano foi dedicado à encenação mas para o ano pode ser dedicado a outra actividade do teatro, quer seja para um actor, cenógrafo, figurinista, etc. Agora continuará sempre a haver um prémio para o teatro em língua portuguesa. SR – Alguns almadenses que foram às primeiras edições da então Festa do Teatro, no pátio Prior do Crato, consideram que a projecção que o Festival alcançou esqueceu a raiz popular do certame. Concorda com esta crítica? JB – Não, muitas das pessoas que agora vêm ao Festival também já iam ao Pátio Prior do Crato. O que aconteceu foi que o espaço foi-se tornando pequeno para o público, só permitia 150 pessoas por espectáculo. De resto o mesmo se passa com o desenvolvimento da cidade. Durante muito tempo esta cidade não teve um centro urbano e a zona velha, que era o centro histórico, não fazia as funções de centro urbano. A zona velha hoje tem um outro papel, mas nós mantemos a tradição do Festival na zona histórica com a utilização da Casa da Cerca, onde se fazem os grandes colóquios. Portanto, não há de maneira nenhuma uma estratégia de abandono da zona histórica da cidade. SR – A crescente importância que o Festival tem tido ao longo dos anos não justificava já outros equipamentos culturais em Almada? JB – Claro, está previsto um teatro de raiz. O projecto está já aprovado. É uma sala que estará pronta a meio de 2002, não sei se dará já para o Festival desse ano, mas seguramente que para o de 2003 já dará. SR – O Festival de Teatro tem já 17 anos e tem havido uma parceria com a Câmara Municipal e com o Ministério da Cultura. Qual é a avaliação que faz desses apoios? JB – Grosso modo pode dizer-se que é uma iniciativa de parceria, mas, entre 1978 e 1988, não tive nenhum subsídio da autarquia. Começamos a ser subsidiados em 88. No Ministério também, nem sempre a situação tem sido boa. Durante o tempo da Teresa Patrício Gouveia estivemos numa situação muito difícil. Agora, com a Câmara de Almada, desde que inaugurámos o Teatro Municipal, tem sido o esteio principal do Festival. Agora já não é o primeiro financiador, mas foi-o durante muitos anos. SR – Mas não sente que o Festival é a grande iniciativa cultural do concelho? JB – Eu sinto que o Festival é a grande iniciativa cultural do concelho, agora não sei é se em termos financeiros tem essa expressão. SR – A Câmara devia apoiar mais? JB – O Festival precisa de mais dinheiro. O Festival nos últimos anos desenvolveu-se muito mais porque passou a ter muito mais dinheiro. Desde que o ministro Carrilho fez a convenção e passou de 4 mil contos para 43 mil e 500 isso permitiu desenvolver muito mais o Festival. Em relação à câmara, eu sei que eles também fazem um esforço porque também têm menos dinheiro que o governo. Agora é preciso ver que a autarquia apoia também a Companhia de Teatro, não é só o Festival e já dá um apoio de vulto. No total são 50 mil contos por ano, o que já é significativo. Agora para nós é sempre preciso mais dinheiro. Ainda há pouco estava a falar de um espectáculo para vir cá, mas não temos dinheiro para o trazer. SR – A nível da cultura em geral que é a apreciação que faz do desempenho do ministro Carrilho? JB – Houve uma política cultural que foi estruturada durante este mandato e que espero que seja prosseguida. Foi uma política que beneficiou muito a cultura. Basta ver o que é o panorama da cultura hoje e o que era há cinco anos. Este primeiro-ministro foi capaz de delinear uma política cultural e pô-la em prática corajosamente. SR – E as expectativas para o novo ministro da cultura? JB – O chefe do governo é o mesmo, portanto acho que as linhas de orientação vão ser as mesmas, o que muda é o estilo porque as pessoas são diferentes. Se não fosse assim era muito grave, porque era voltar atrás. SR – Voltando a Almada, qual é a sua opinião sobre a actividade cultural do concelho? JB – Almada é uma terra com muita juventude e iniciativas com gente interessada nas coisas. A Câmara percebeu esse movimento e foi criando várias coisas como a Casa da Juventude, o Museu de Arte Contemporânea na Casa da Cerca, a Galeria Municipal de Pintura. Acabou por dar-se uma conjunção de factores diversos, entre os quais a presença da Companhia e a existência de uma comunidade escolar muito activa. Este é um caso único no país em que uma escola se abre a um Festival de Teatro. Tudo isto junto faz com que o movimento cultural aqui seja uma espécie de bola de neve, vai crescendo. |
Entrevista de Maria Augusta Henriques [email protected] |