[ Edição Nº 133 ] – Joaquim Benite, director da Companhia de Teatro de Almada.

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Edição Nº 13317/07/2000

Festival de Almada bateu recordes de público
Edição de 2001 já tem cartaz definido

          O Festival de Teatro de Almada, que termina a 18 de Julho, superou todas as expectativas da organização quanto à participação do público, em especial dos jovens. A próxima edição já está programada, mas o cartaz vai continuar em segredo até três semanas antes do inicio do certame, como já é hábito. Em 2003 Joaquim Benite, director da Companhia de Teatro de Almada, espera já poder apresentar espectáculos no novo Teatro Municipal. Em entrevista ao “Setúbal na Rede” o responsável pelo FITA reconhece o desenvolvimento cultural de Almada e elogia a nova política da cultura em Portugal, iniciada por Manuel Maria Carrilho. Os subsídios e os apoios é que continuam a ser poucos.


Setúbal na Rede

– O Festival Internacional de Teatro de Almada está na recta final, hoje e amanhã ainda há espectáculos, mas, num primeiro balanço está satisfeito com a reacção do público?

Joaquim Benite

– O festival tem corrido bem. Há um crescimento do público que é muito notório este ano, independentemente das estatísticas, é visível a olho nu. O festival tem vindo a crescer, tem mantido um crescimento contínuo de ano para ano, mas esta edição é o grande salto. Penso que, de uma maneira geral, o público tem gostado dos espectáculos, mais de uns do que de outros como é normal, mas, do ponto de vista global das peças apresentadas, eu penso que há este ano também um maior equilíbrio, uma maior homogeneidade em termos de qualidade dos grupos.

SR

Este ano foi instituído o prémio para a melhor encenação em português. É uma iniciativa para continuar?

JB –

É um projecto para continuar, haver um prémio, que se chama António José da Silva e é patrocinado por uma empresa. Este ano foi dedicado à encenação mas para o ano pode ser dedicado a outra actividade do teatro, quer seja para um actor, cenógrafo, figurinista, etc. Agora continuará sempre a haver um prémio para o teatro em língua portuguesa.

SR

– Alguns almadenses que foram às primeiras edições da então Festa do Teatro, no pátio Prior do Crato, consideram que a projecção que o Festival alcançou esqueceu a raiz popular do certame. Concorda com esta crítica?

JB –

Não, muitas das pessoas que agora vêm ao Festival também já iam ao Pátio Prior do Crato. O que aconteceu foi que o espaço foi-se tornando pequeno para o público, só permitia 150 pessoas por espectáculo. De resto o mesmo se passa com o desenvolvimento da cidade. Durante muito tempo esta cidade não teve um centro urbano e a zona velha, que era o centro histórico, não fazia as funções de centro urbano. A zona velha hoje tem um outro papel, mas nós mantemos a tradição do Festival na zona histórica com a utilização da Casa da Cerca, onde se fazem os grandes colóquios. Portanto, não há de maneira nenhuma uma estratégia de abandono da zona histórica da cidade.

SR

– A crescente importância que o Festival tem tido ao longo dos anos não justificava já outros equipamentos culturais em Almada?

JB –

Claro, está previsto um teatro de raiz. O projecto está já aprovado. É uma sala que estará pronta a meio de 2002, não sei se dará já para o Festival desse ano, mas seguramente que para o de 2003 já dará.

SR

– O Festival de Teatro tem já 17 anos e tem havido uma parceria com a Câmara Municipal e com o Ministério da Cultura. Qual é a avaliação que faz desses apoios?

JB –

Grosso modo pode dizer-se que é uma iniciativa de parceria, mas, entre 1978 e 1988, não tive nenhum subsídio da autarquia. Começamos a ser subsidiados em 88. No Ministério também, nem sempre a situação tem sido boa. Durante o tempo da Teresa Patrício Gouveia estivemos numa situação muito difícil.

Agora, com a Câmara de Almada, desde que inaugurámos o Teatro Municipal, tem sido o esteio principal do Festival. Agora já não é o primeiro financiador, mas foi-o durante muitos anos.

SR

– Mas não sente que o Festival é a grande iniciativa cultural do concelho?

JB –

Eu sinto que o Festival é a grande iniciativa cultural do concelho, agora não sei é se em termos financeiros tem essa expressão.

SR

– A Câmara devia apoiar mais?

JB –

O Festival precisa de mais dinheiro. O Festival nos últimos anos desenvolveu-se muito mais porque passou a ter muito mais dinheiro. Desde que o ministro Carrilho fez a convenção e passou de 4 mil contos para 43 mil e 500 isso permitiu desenvolver muito mais o Festival. Em relação à câmara, eu sei que eles também fazem um esforço porque também têm menos dinheiro que o governo. Agora é preciso ver que a autarquia apoia também a Companhia de Teatro, não é só o Festival e já dá um apoio de vulto. No total são 50 mil contos por ano, o que já é significativo. Agora para nós é sempre preciso mais dinheiro. Ainda há pouco estava a falar de um espectáculo para vir cá, mas não temos dinheiro para o trazer.

SR

– A nível da cultura em geral que é a apreciação que faz do desempenho do ministro Carrilho?

JB –

Houve uma política cultural que foi estruturada durante este mandato e que espero que seja prosseguida. Foi uma política que beneficiou muito a cultura. Basta ver o que é o panorama da cultura hoje e o que era há cinco anos. Este primeiro-ministro foi capaz de delinear uma política cultural e pô-la em prática corajosamente.

SR

– E as expectativas para o novo ministro da cultura?

JB –

O chefe do governo é o mesmo, portanto acho que as linhas de orientação vão ser as mesmas, o que muda é o estilo porque as pessoas são diferentes. Se não fosse assim era muito grave, porque era voltar atrás.

SR

– Voltando a Almada, qual é a sua opinião sobre a actividade cultural do concelho?

JB –

Almada é uma terra com muita juventude e iniciativas com gente interessada nas coisas. A Câmara percebeu esse movimento e foi criando várias coisas como a Casa da Juventude, o Museu de Arte Contemporânea na Casa da Cerca, a Galeria Municipal de Pintura. Acabou por dar-se uma conjunção de factores diversos, entre os quais a presença da Companhia e a existência de uma comunidade escolar muito activa. Este é um caso único no país em que uma escola se abre a um Festival de Teatro. Tudo isto junto faz com que o movimento cultural aqui seja uma espécie de bola de neve, vai crescendo.

Entrevista de Maria Augusta Henriques
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