[ Edição Nº 134 ] – José Luís Catarino, presidente do Conselho de Administração da Fertagus.

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Setúbal na Rede
Qual é o balanço de um ano de travessia ferroviária na ponte 25 de Abril?

José Luís Catarino – É um balanço muito positivo, quer na quantidade de passageiros transportados quer na qualidade que oferecemos. Os utentes não estavam habituados a disporem de uma qualidade deste nível e isso tem sido provado através de inquéritos que testemunham a qualidade que se traduz no conforto, na rapidez, na segurança e na limpeza. Estes factores, associados à regularidade e ao cumprimento dos horários levam-nos a fazer um balanço francamente favorável.

SRComo é que a Fertagus obtém 98% de pontualidade e mais de 99% de regularidade num modo de transporte conhecido pelos atrasos?

JLC – Empenhámo-nos muito para conseguir esse objectivo e é pena que ainda não tenhamos chegado aos 100% porque é essa a nossa meta. Estes resultados devem-se ao empenhamento de toda a equipa, naquela que foi a primeira diversificação da actividade do grupo Barraqueiro, que tradicionalmente desenvolvia a sua actividade nos transportes rodoviários.

SREstá surpreendido com os números obtidos?

JLC – Estes números correspondem às expectativas que criámos para este primeiro ano de actividade. Até ao final de 1999 transportámos seis milhões de passageiros e desde o início deste ano transportámos mais 10 milhões. Até ao final deste ano prevemos um total de 20 milhões de passageiros e acho que vamos atingir mesmo esse número.

SRPode dizer-se que o negócio foi rentável para o grupo Barraqueiro?

JLC – Por enquanto não é rentável. Temos conseguido um equilíbrio entre os proveitos e os custos mas a rentabilidade só chegará em 2008, altura em que está previsto atingirmos a velocidade de cruzeiro.

SRQue evolução se prevê para o comboio na ponte nos próximos tempos?

JLC – Prevemos atingir rapidamente os 60 mil passageiros por dia, um valor que deverá ser atingido em Setembro com o início do ano escolar. Até ao final do ano o objectivo mais ambicioso é o de atingir 80 mil passageiros por dia, de forma a que consigamos conquistar o objectivo mais ambicioso que são os 120 mil passageiros por dia em 2008.

A este ritmo estou convencido que esse valor vai ser atingido antecipadamente, sobretudo porque entretanto a linha vai ser alargada e isso tem particular interesse para Setúbal, onde vamos chegar em 2003. A adjudicação das obras foi já concretizada pelo Governo, pelo que tudo indica que esse prazo vai ser cumprido em matéria de infra-estruturas disponíveis.

Da nossa partes existem todas as condições para avançar logo que as infra-estruturas estejam completas. Por outro lado, em Lisboa o comboio vai chegar à Gare do Oriente e por isso é que estou convencido de que o objectivo dos 120 mil passageiros por dia pode mesmo vir a ser antecipado.

SRSe o prolongamento da linha até Pinhal Novo é importante para a população e para a empresa, porque é que a obra não foi feita na primeira fase?

JLC – Foi uma pena isso não ter acontecido mas a opção do Governo foi avançar com uma primeira fase e fazer a linha até ao Fogueteiro e, depois, de acordo com os novos investimentos, concretizá-la até Pinhal Novo. Foi uma opção que, a ser concretizada nos próximos três anos, irá beneficiar muito toda península de Setúbal.

Da nossa parte, há todo o interesse em assegurar esse desenvolvimento. E é interessante porque este irá ser um serviço com características algo diferentes, de um carácter mais regional pois vamos ter ligações diferentes como é o caso de Pinhal Novo, Palmela e Coina. Ou seja, enquanto no eixo suburbano Norte-Sul estamos limitados a quatro estações, o que vai acontecer é que teremos diversas estações e serviços de ligação directa a Lisboa. Assim, a população de Setúbal vai ser beneficiada com horários mais estreitos.

SROs receios de falta de segurança no comboio da ponte foram ultrapassados?

JLC – Foram ultrapassados e de que maneira. Tratava-se de uma questão psicológica que foi ultrapassada logo após o primeiro dia de circulação do comboio. As primeiras pessoas que o utilizaram ficaram convencidas sobre a segurança e acabaram por transmitir esta certeza junto de amigos e familiares. E não há dúvida que as nossas condições de segurança são as melhores.

SRAs ameaças de bomba na ponte chegaram a levantar receios junto dos utentes?

JLC – Essas ameaças não se têm referido apenas à ponte mas estendem-se a outras áreas. São brincadeiras infelizes mas em todo o caso as autoridades têm ido ao terreno para verificar se há fundamento nessas ameaças. No caso da circulação do comboio essas ameaças provocaram algumas perturbações numa noite e durante um fim de semana em que muitas pessoas se preparavam para saírem de férias. O primeiro caso foi localizado apenas no transporte ferroviário mas o segundo envolveu toda a ponte. 

SRParece-lhe terem sido ultrapassadas as críticas ao projecto, nomeadamente no que diz respeito ao tarifário?

JLC – O problema do tarifário foi levantado sem qualquer fundamento porque a nossa base tarifária está perfeitamente identificada com o que se pratica na grande Lisboa. Algumas questões a este nível e também de âmbito laboral, foram levantadas por sindicatos ligados à empresa pública de Caminhos de Ferro Portugueses e acho que essas críticas têm vindo a ser feitas no sentido de porem em causa o êxito da Fertagus.

Um êxito que, pelos vistos, tem incomodado algumas pessoas. Sendo a primeira empresa privada a assegurar uma exploração deste tipo, é normal que tenham havido algumas reacções, primeiro quanto ao tarifário e depois de índole mais laboral, mas quero dizer que nenhuma delas teve ‘pernas’ para andar. Ainda quanto ao tarifário, em todos os inquéritos que fizemos o que se viu é que os passageiros acham que estão a pagar o preço certo.    

SRComo é que reage às críticas ao serviço rodoviário e de concorrência desleal face a outros operadores?

JLC – Não vejo razões para isso porque mantivemos todas as ligações que tínhamos pois, como se sabe, o grupo Barraqueiro tem envolvimento na Belos Setubalense e nos Transportes Sul do Tejo/TST. Com os TST até criámos um serviço específico para apoio ao caminho de ferro, desenvolvemos uma rede própria e os TST aumentaram as ligações com outros eixos.

De facto tivemos alguns problemas de início porque as condições de circulação na margem sul são muito difíceis e, como tal, a circulação rodoviária é muito afectada por isso. Na realidade o caminho de ferro tem o privilégio de circular em vias próprias e sem congestionamentos. Apesar de tudo, a Sulfertagus tem vindo a melhorar e a aumentar o número de carreiras, a melhorar os horários e a adquirir autocarros novos.

Hoje garantimos uma melhoria significativa de serviços e vamos, com certeza, alargar esses serviços. Por exemplo, temos actualmente um interesse mais directo ligado às pessoas que residem no distrito de Setúbal e é nossa intenção alargar o serviço que termina na Quinta do Conde. Essas carreiras vão ser alargadas até Azeitão a partir do início do ano escolar. Ou seja, será uma ligação directa à estação do Fogueteiro.

SRA ligação entre os sistemas de transportes públicos tem funcionado bem?

JLC – É pela posição privilegiada do grupo Barraqueiro a este nível e por todo o envolvimento que temos tido nesta área, que julgamos que a interligação funciona e que, com isso, a população do distrito irá beneficiar. Com o envolvimento da Fertagus, dos TST e da Belos Transportes, temos criadas todas as condições para conseguirmos uma coordenação entre os modos de transportes e assegurar uma boa interligação.

E estou convencido de que com o concretização do Metro Sul do Tejo/MST, e com o envolvimento do grupo Barraqueiro nesse projecto, atingiremos as condições e uma forma de coordenação com os outros modos de transporte que irão proporcionar um bem estar e uma qualidade de vida diferente às pessoas que vivem na margem sul do Tejo.

SR – O MST é importante numa perspectiva de desenvolvimento da Barraqueiro?

JLC – É bastante importante e por isso associámo-nos a este projecto logo desde o início. Dado o envolvimento que temos na região, o grupo tem a obrigação de apresentar a melhor proposta e estou convencido que vamos ser quem vai garantir a coordenação entre todos os modos de transporte na margem sul.

SRAo que se sabe, as duas propostas concorrentes são muito parecidas, quer em termos de prazos quer nos valores apresentados.

JLC – A nossa proposta é francamente melhor, tem uma base bastante sólida em termos de desenvolvimento técnico e tem dados mais interessantes quer nos preços quer nos prazos previstos e até no investimento proposto. Por isso, acreditamos ter todas as condições para sermos a proposta vencedora.

SRO facto do grupo deter vários interesses nos transportes públicos prefigura um monopólio e isso tem levado a acusações de arrogância. Aceita estas críticas?

JLC – O monopólio é uma questão que se levanta quanto se fala do envolvimento das empresas em termos nacionais. Em termos regionais, há de facto toda a vantagem no envolvimento de um único grupo porque não há dúvida nenhuma que esse envolvimento se pode traduzir numa melhoria substancial para a qualidade de vida das pessoas que utilizam o transporte público.

E se houver uma boa articulação entre os operadores que asseguram o serviço e conseguir evitar-se uma concorrência agressiva sem vantagens para os clientes, este envolvimento só pode ter vantagens. Esse é um factor importante e, por isso, permitiu-nos apresentar uma proposta para o MST com preços de tarifários substancialmente melhores que os dos nossos concorrentes.