[ Edição Nº 134 ] – Câmara de Almada determinada a construir Via Turística da Caparica apesar do chumbo do ICN.

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Via turística segue em frente
Câmara insiste que o projecto é legal

         A Câmara de Almada está determinada a construir a polémica Via Turística da Costa da Caparica, apesar do chumbo do Instituto de Conservação da Natureza (ICN) ao traçado, em defesa da área protegida. Os presidentes das juntas da Costa e da Charneca apoiam a posição da autarquia. O PSD de Almada saúda a coragem do ICN.

O parecer negativo do ICN à projectada estrada de Almada à Aroeira tem carácter vinculativo mas, tal facto, não demove Maria Emília de Sousa de dar continuidade ao projecto, já em fase de concurso público.

A autarca está convencida de que a obra é legal e tudo está a ser feito de acordo com a lei. Falando aos jornalistas na escadaria dos Paços do Concelho, “à sombra do poder local democrático” como fez questão de repetir, a presidente da Câmara de Almada garantiu que “a Via Turística está a andar”. Maria Emília de Sousa sublinha que o traçado da obra foi aprovado ao nível do governo e acrescenta que “aquilo que começou por ser um projecto autárquico, na década de 80, faz parte do programa do governo para esta legislatura”.

Segundo a autarca, “há o compromisso do ministro Jorge Coelho para construir uma estrada entre Almada e Sesimbra”. Por isso Maria Emília de Sousa considera que o chumbo do Ministério do Ambiente não passa de um problema de descoordenação ao nível da administração central. Afirmando-se disposta a colaborar para esclarecer o assunto, a edil admite que o ICN “domine menos bem o território e os instrumentos de gestão local” mas não aceita que “os técnicos municipais sejam menos qualificados ou competentes que os de qualquer outro organismo para emitir pareceres”.

Confrontada com o facto, alegado pelo presidente do ICN, de que a Via Turística ao passar pela Mata dos Medos obrigaria ao derrube de árvores centenárias, Maria Emília de Sousa responde com números, afirmando que “a Reserva Botânica tem 350 hectares de pinheiros mansos e é atravessada todos os dias por milhares de automóveis que afectam o ecossistema”. Por isso pergunta porque é que, para resolver definitivamente o problema, “não se pode abrir mão de um punhado de árvores”.

A autarca espera, dentro em breve, expor os seus argumentos de viva voz ao presidente do ICN, arquitecto Carlos Guerra. Há uma audiência pedida desde 1998 e que agora foi renovada.

Questionada pelo “Setúbal na Rede” sobre a hipótese de ficar comprometido o financiamento do Banco Europeu de Investimento à Via Turísitca se os ecos da polémica chegarem a Bruxelas, a presidente da Câmara de Almada deixou uma pergunta, “será que vivemos na república das bananas ou num estado de poder democrático?”.

A determinação de Maria Emília de Sousa em avançar com a obra é apoiada pelos presidentes das juntas de freguesia da Costa e da Charneca da Caparica. António Neves considera que “houve alguma precipitação no chumbo do ICN ao projecto”. Segundo declarou este artarca ao “Setúbal na Rede”, a nova estrada pode vir a ser um factor de desnvolvimento, ou seja, “do ponto de vista utilitário, é preciso uma alternativa às actuais estradas”.

A mesma opinião tem António Anastácio, da Junta da Charneca, que considera fundamental a Via Turística. O autarca fez questão de dizer ao “Setúbal na Rede” que já percorreu todo a área prevista para a nova estrada. António Anastácio lamenta o abate de alguns pinheiros na Mata dos Medos mas lembra que “o ambiente não são só as árvores e as plantas, são também as pessoas, também elas fazem parte do ecossistema, também é preciso pensar nelas”. Confrontado diariamente com os problemas de escoamento de trânsito na zona, em especial durante as férias, o autarca deixa um desafio, “os senhores do ICN deviam circular de castigo um Verão inteiro na antiga estrada nacional 377 para se aperceberem das dificuldades de quem trabalha e reside na freguesia e também de quem procura a Costa como destino de férias”.

Ao nível dos partidos políticos do concelho, apenas o PSD tomou já posição. Os sociais democratas saúdam o chumbo do ICN à Via Turística. Para Francisco Salgueiro “adulterar a Reserva Ecológica Nacional não tem pés nem cabeças”.

Segundo declarou ao “Setúbal na Rede” este dirigente partidário, “o que é preciso é prolongar o L-3, ou seja, a chamada Circular Regional Interior da Península de Setúbal, pois esta estrada não tem tantos impactes ambientais como a outra”. Quanto ao acesso às praias Francisco Salgueiro diz que essa questão terá que ser pensada no futuro. Para já o responsável pela concelhia de Almada do PSD deixa uma questão, “porque é que o projectado Metro Sul do Tejo não segue até à Caparica?”.