[ Edição Nº 135 ] – Alfredo Monteiro, presidente da Câmara Municipal do Seixal.

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Setúbal na Rede
O que é que vai mudar no Seixal com a implementação do Metro Sul do Tejo?

Alfredo Monteiro – Vai mudar muita coisa porque o MST é um projecto revolucionário. Assim o entendemos e sustentámos durante uma década. Este projecto vai proporcionar uma maior mobilidade dos transportes e das pessoas, criando uma nova filosofia de integração dos núcleos urbanos e uma integração social, cultural e económica. Neste quadro, a vinda do metro de superfície pode ser uma nova forma de termos mobilidade e desenvolvimento. E não tenho dúvidas de que vai proporcionar o desenvolvimento de novas actividades e uma nova forma de relação entre as pessoas, não só nos vários concelhos mas também entre todos eles.

Há uma questão interessante que é a de saber como que é que o  MST se vai desenvolver, como será o seu faseamento. Vão ser concretizadas as propostas dos concorrentes e, segundo parece, assim que for escolhida a proposta há condições para avançar com a construção da primeira fase. Do nosso ponto de vista é fundamental que o MST tenha a rede completa e que contemple todos os concelhos previstos para que cumpra os objectivos para que foi criado.

SRPrevê-se que o MST envolva quatro concelhos mas inicialmente o Governo batia-se para que ficasse por Almada e Seixal. Como é que a situação foi desbloqueada?

AM – Essa foi uma batalha muito dura e discutiu-se durante muito tempo até conseguirmos o consenso. Sempre considerámos fundamental que o MST abrangesse os quatro concelhos, de maneira a promover a coesão do norte da península de Setúbal. E o exemplo dessa falta de coesão são os estudantes da Universidade Nova que, para se deslocarem com mais facilidade, apanham o barco para Lisboa. A coesão dos concelhos do norte da península é cada vez mais importante e, por isso, as coisas têm de funcionar de forma articulada.

Uma estratégia de desenvolvimento tem várias componentes e, sendo as actuais acessibilidades da península claramente insuficientes, a criação de novas acessibilidades torna-se fundamental tendo em conta o desenvolvimento territorial. Há outros projectos importantes para a península, como é o caso do combóio na ponte até Setúbal e de projectos de novos terminais fluviais. Mas apesar da necessidade de avançar com estes investimentos, sabe-se que há projectos que estão parados como é o caso da CRIPS/Circular Regional Interna da Península de Setúbal.

SRCom todos estes projectos de desenvolvimento pode caminhar-se para uma capital ocupando as duas margens do Tejo?     

AM – Caminhamos cada vez mais para uma Área Metropolitana. Até agora, esta área tem sido mais na margem norte mas a actual estratégia territorial aponta para que, cada vez mais, a Área Metropolitana seja um todo e abranja as duas margens do Tejo. Para isso há que haver desenvolvimento e uma boa mobilidade das populações e, nesse sentido, o MST torna-se uma peça fundamental.

Aqui pode até colocar-se a questão da rentabilidade do Metro, como aliás foi colocada, mas trata-se de uma questão clara porque a sua rentabilidade tem de ser social. Admite-se que numa primeira fase possa não ter rentabilidade económica do ponto de vista do promotor e não me admiro que tenha de ser subsidiado. Aliás, foi um dos pontos de discussão com o Governo e acabou por ficar consagrado no contrato que mesmo sem rentabilidade numa primeira fase, será feita a construção de toda a rede do MST.

SRAs autarquias vão intervir no processo de implementação do MST?

AM – Antes de mais, fará um acompanhamento muito directo deste processo. As autarquias envolvidas vão fazer parte da Comissão de Acompanhamento que está a ser constituída, tal como prevê o protocolo com o Governo.

Isso significa o acompanhamento da implementação do MST em relação a aspectos essenciais como a qualidade da sua intervenção em termos urbanos. Ou seja, não se trata apenas da qualidade da construção do Metro mas também a sua inserção urbana e os arranjos exteriores que isso implica. Os projectos estão a ser elaborados pelas câmaras e estamos já prontos para intervir qualitativamente nesta área.

SRQual vai ser o papel das câmaras na concessão e exploração do Metro?

AM – Depois do concurso, a concessão será entregue, mas esta Comissão de Acompanhamento continuará a trabalhar pois tem também a função de acompanhar a própria concessão. Sempre defendemos a criação de uma entidade que acompanhasse de forma institucional, todo este processo, quer em termos da qualidade dos serviços quer no que diz respeito à oferta relativa às carreiras, aos tarifários, aos horários e à articulação com outros meios de transporte.

E estes são alguns dos cuidados a ter na fase de concurso para a escolha da proposta vencedora. Depois dessa fase, a Comissão continuará a acompanhar todo o processo de gestão da concessão. E esse é um aspecto fundamental, pois foi o que veio ao de cima aquando da concessão do combóio na ponte. O problema centrou-se exactamente nos tarifários, nos passes sociais e na articulação com outros meios de transporte.

SRQuem fará a articulação entre os diversos meios de transporte?

AM – É fundamental criar uma autoridade metropolitana para os transportes porque a questão da mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa é preocupante. Os meios de transporte estão desarticulados, a mobilidade das populações não é a que devia e isto provoca graves problemas de desenvolvimento. Há que encontrar soluções efectivas para que as pessoas prefiram os transportes públicos. A mobilidade passa também por fazer com que as pessoas prefiram os transportes públicos, de modo a reduzir o trânsito automóvel, mas para isso há que oferecer alternativas à população.

O Seixal não tem um sistema de transportes urbanos efectivo, o que há é um conjunto de operadores que tentam acertas mas o é certo é que as coisas não estão de acordo com as mudanças na vida do concelho, que tem vindo a alterar-se ao longo dos últimos anos. As ligações continuam a ser longitudinais sem haver a preocupação em promover as transversais e isso faz com que muita gente tenha de apanhar vários transportes para chegar ao destino.

SRAcredita numa boa adaptação dos concelhos e da população a um meio de transporte e mobilidade diferentes do habitual?

AM – Estou convicto de que o Metro pode ser revolucionário em relação a hábitos e a formas de vida. Estamos a falar de qualidade e de uma qualidade de vida a que não estamos habituados mas que é possível como o provam alguns países da Europa. E estou convencido de que as pessoas estão animadas com o MST, pelo que tenho visto das reacções às imagens e aos estudos que têm sido divulgados.

Há uma apetência pelo conhecimento, as pessoas querem ver e informar-se sobre a implementação deste novo tipo de transporte público. Estou profundamente convicto de que a reacção vai ser extremamente positiva quer pela rapidez e mobilidade que oferece quer pela qualidade que se prevê.      

SRComo é que se dará a integração do Metro nas áreas urbanas?

AM – O grande exemplo da Europa é Estrasburgo, onde a coexistência entre o Metro e as zonas urbanas é perfeitamente pacífica e não se verifica qualquer problema. No nosso caso, as câmaras tiveram o cuidado de acautelar a situação e estamos a trabalhar para que essa coexistência seja a melhor.

No nosso entender não é apenas a qualidade do MST que conta, mas também a qualidade urbana pois a passagem do Metro significa a necessidade de requalificação desse núcleo urbano. Por outro lado, o Metro não é uma estrutura pesada como o combóio, é um equipamento mais leve, adequado e relativamente silencioso, pelo que se espera uma boa coexistência com a zona urbana.

SRA passagem do Metro será como que um pretexto para requalificar as zonas urbanas? 

AM – Ficou previsto que, com o financiamento do Governo e das próprias câmaras, este seja o pretexto para uma intervenção urbana o mais profunda e abrangente possível. E isso implica também a ligação entre o Metro e outros meios de transporte. Já está definido no que diz respeito à estação do Pragal, sendo que numa primeira fase o Metro vai até ao Parque Operacional, na antiga Sorefame, e dependendo da análise do projecto existem aspectos que vamos discutir de forma a tentar melhorar essa articulação.

SRCom as obras e as alterações que se prevêem, a implementação do MST está a provocar ‘dores de cabeça’ à Câmara?

AM – Temos uma disponibilidade por inteiro para ir em frente com as mudanças previstas. Claro que quanto mais o Metro entrar no interior das zonas urbanas mais isso significará a necessidade de intervir para assegurar a qualidade e permitir a descompressão dessas áreas. E tal como exigimos, todo este processo vai ter a intervenção das câmaras municipais de formas a que se faça um planeamento adequado.

E isso é fundamental para que não se verifiquem situações desastrosas com vários operadores a trabalhar sem qualquer ligação, como por exemplo os do gás e a seguir vem a EDP a querer instalar o sistema eléctrico. Em relação ao Metro, todos estes sistemas têm de ser levantados e a coordenação deste processo terá de ser feita pelas autarquias.

SRQuando é que a península de Setúbal terá o Metro a funcionar?

AM – Tudo depende dos prazos. Estamos na fase de concurso e agora vamos ver as propostas no concreto. Neste momento há duas propostas e estão muito próximas, quer em relação a prazos quer em preços ou em prazos. Tudo indica que a primeira fase poderá estar a funcionar em 2004. Esta primeira fase será a do troço, com três linhas, entre Cacilhas/Corroios, Corroios/Universidade Nova e Cacilhas/Universidade Nova.

SRDepois das divergências entre as câmaras ao Governo, sobre o MST, que tipo de diálogo existe actualmente entre as duas partes?

AM – Nos últimos tempos, o diálogo só se tem desenvolvido no quadro do concurso para a concessão do MST. Portanto, nesta fase não houve uma decisão que justificasse uma discussão ou uma análise do assunto com o Governo. Mais tarde, poderá haver a necessidade de discussão com o Governo, no que diz respeito a uma análise da eventual participação financeira. Contudo estou em crer que não se verificarão mais problemas em relação ao andamento deste projecto.