
por José Maria Dias (Director do Fontenova Teatro Estúdio)
Segurança ou Insegurança Que segurança:
– A nossa, classe dominante, para podermos continuar a dominar?
– A nossa, classe média, para podermos viver sem problemas e sem nos preocuparmos com os outros?
– A nossa, classe trabalhadora e explorada, que necessitamos de segurança no trabalho e no emprego?
– A nossa, classe trabalhadora, mas ao mesmo tempo estrangeira e discriminada, no trabalho na escola na cidade, e no seu próprio país, que os obriga a procurar outras paragens para não morrerem de fome ou na guerra.
A segurança, ou a falta dela, tem de ser encarada do ponto de vista da Humanidade, pura e simplesmente.
Se há pessoas que cultivam a violência, terão por ventura algum motivo que mereça reflexão, que tratado da forma mais correcta pode muito bem acabar com ela. Outros podem haver, que cultivam a violência de uma forma gratuita, sem motivo, concordo, mas para essas o problema é simplesmente policial.
E ainda, a violência arrasta violência num ciclo vicioso.
Na minha opinião, a violência geradora de insegurança, para o comum dos cidadãos, é um problema muito antigo, que não surgiu agora, como algumas correntes querem fazer crer.
Se quisermos fazer um pouco de pesquisa, iremos constatar que a imprensa dita mais popular sempre relatou em todas as suas edições diárias, assaltos a bombas de gasolina, ourivesarias, na rua (chamadas de esticão), gangs do multibanco, etc. A diferença na mediatização dos recentes acontecimentos, tem a ver com a imprensa, dita de mais elite, começar também a relatar todos os pequenos e grandes assaltos. As cadeias de televisão, nos vários programas de informação, não davam tanta importância ao facto como se está a assistir neste momento.
Porquê? Arrisco dizer, com motivos meramente político partidários.
Não estando totalmente de acordo com a política deste governo, sou obrigado a dizer que qualquer um que o substituir não fará melhor.
O problema é social e económico, que tem raízes e desenvolve-se no sistema de economia de mercado a grande velocidade e em qualquer sociedade.
O partidos de direita conservadora têm o controlo dos média mais influentes e através deles conduzem a opinião pública para um descontentamento baseado nos sentimentos mais retrógrados e desprezíveis do ser humano, o racismo e a xenofobia. Como se todos os males fossem resolvidos acabando com os negros e estrangeiros, que a única forma é substituir o Governo por outro, que de uma maneira “eficaz” acabe com os negros e estrangeiros causadores de todo o mal da nossa sociedade. Fazendo-nos crer que quando não havia tantos estrangeiros e negros na nossa sociedade, os assaltos, os roubos, os gangs organizados não existiam e não eram necessárias as prisões e a Polícia.
Enquanto houver discriminação, enquanto houver bairros só para pretos, ciganos, e estrangeiros.
Enquanto a Escola separar os vários tipos de alunos, em turmas com grande, médio e baixo nível de aproveitamento. Escolas que escolhem a pente fino os alunos e outras para onde vão os outros.
Enquanto houver empregadores que escolhem os seus colaboradores pela cor da pele, da nacionalidade, credo ou convicções políticas e não pela competência. Uns porque lhes convém a discriminação salarial, outros porque simplesmente não gostam desse tipo de pessoas e não as contratam.
Enquanto nos transportes públicos continuarmos a sentar-nos longe dos que consideramos diferentes.
Enquanto continuarem este tipo de atitudes, é natural que os mais desfavorecidos da sociedade, os pobres, os discriminados, sejam seduzidos e levados a praticar actos que são de todo reprováveis, aqui cabem todos, não só os negros e estrangeiros.
Não nos podemos esquecer de outro flagelo, a droga.
A exploração que é feita pelos traficantes ao aproveitarem-se da toxicodependência, leva que estes tenham muitas vezes para praticar actos menos lícitos para conseguir o dinheiro necessário para a dose.
Aumentar a polícia e as prisões, não resolve o problema.
Olhemos infelizmente para o exemplo do Brasil, o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e a correspondente insegurança que vemos relatada todos os dias.
Se todos contribuirmos de alguma forma para que este estado de coisas se altere, teremos então uma sociedade mais justa e logo mais “segura”.