[ Edição Nº 138 ] – Jaime Reis, concessionário da praia de Albarquel.

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Setúbal na Rede
Quais são as razões que levam os comerciantes de Albarquel a não aceitarem a interdição da praia?

Jaime Reis – Nós achamos muito estranho o resultado das últimas análises que dão a água como de má qualidade, quando as que foram feitas cerca de um mês antes indicavam que a água era de boa qualidade. Assim, temos vindo a tentar reunir com as autoridades sanitárias para solicitar uma contra-análise às águas da praia porque o que nos parece é que deve ter havido um erro.

O problema é que, desde o dia da interdição até ao momento, os responsáveis têm estado de férias e isso leva a que as coisas se atrasem. Por este andar, voltam de férias quando acabar a época balnear e nós ficamos com o problema por resolver.

SR – Porque é que acha estranho o índice de poluição por coliformes fecais, quando se sabe que os esgotos da cidade são atirados para o rio sem tratamento?

JR – O que eu acho estranho é dizerem que esta praia está imprópria para utilização por causa dos esgotos e não dizerem o mesmo das outras aqui perto, como é o caso da Figueirinha e de Tróia, que é mesmo em frente. Ambas são banhadas pela mesma água que se diz poluída e têm água de boa qualidade. Inclusivamente, a de Tróia tem bandeira azul.

Isto não faz qualquer sentido, até porque desde que sou concessionário desta praia é a primeira vez que as análises indicam má qualidade da água. Aliás, não percebo como é que dizem que esta água tem provocado doenças e alergias quando todos os comerciantes e os respectivos filhos tomam ali banho desde sempre e nunca tiveram problemas de saúde.

SREstá convencido de que foi cometido um erro nas análises?

JR – Sim. Ou isso ou interesses que desconheço para destruírem a praia do povo, aquela que está mais cheia em toda a Arrábida e a única que é utilizada quase todo o ano pelos setubalenses. É muito injusto ver a Albarquel no meio de uma luta política entre ambientalistas e a Câmara de Setúbal por causa da estação de tratamento de águas residuais (ETAR) porque quem paga é toda a cidade que utiliza esta praia, são os turistas que deixam de vir cá e são os comerciantes que têm aqui muito dinheiro empatado e começam já a ter prejuízos.

SRO comércio local tem-se ressentido com a interdição da praia?

JR – Desde que a bandeira vermelha foi hasteada as pessoas começaram a fugir daqui, embora algumas ainda continuem a vir por não acreditarem nos resultados das análises. Seja como for, a maioria dos veraneantes deixou de utilizar a praia e por este andar já não volta. Os toldos estão vazios e a praia quase sem ninguém. A notícia espalhou-se e as pessoas preferem ir para outras praias, pelo que agora vejo-me com mais de 500 contos de ordenados para pagar e mais de mil contos em despesas a que não vou conseguir dar cobertura.

E isto não se percebe porque as águas parecem limpas e a areia está sem um único pedaço de lixo. Todos os dias limpamos a praia e ela está exemplar. Agora nem sequer sei como é que vou fazer com os nadadores salvadores. Só não os despeço por causa da consideração que tenho por eles, que também não são culpados de nada, e pelo respeito pelos veraneantes que ainda cá estão.

Contudo, gostaria de saber como é que a Administração do Porto de Setúbal e Sesimbra e a Câmara reagiriam se mandasse os nadadores para casa e a praia deixasse de ser vigiada. De quem seria a responsabilidade pelos acidentes que iriam ocorrer? É que este ano já salvámos três pessoas de afogamento.

SRSe não for levantada a interdição a quem é que vai exigir responsabilidades?

JR – Vou exigir responsabilidades à Câmara de Setúbal porque se existe mesmo poluição aqui então a responsabilidade é do presidente Mata Cáceres que andou a atrasar a construção da ETAR. Ou seja, alguém tem de se responsabilizar menos nós porque não temos culpa nenhuma do que se está a passar. Agora sempre quero ver se para o ano que vem as coisas continuam assim, tendo em conta que a Câmara diz que a ETAR só estará pronta no final de 2001.

SRSe a situação se mantiver, volta a pedir a renovação da licença?

JR – Estou nesta praia há mais de 20 anos e tenho muita pena de sair daqui. Contudo, vou ter de pensar duas vezes sobre o que vou fazer na próxima época balnear porque se as coisas continuarem assim acho que não vale a pena investir tanto dinheiro sem quaisquer garantias. É que, para além das licenças serem precárias, os concessionários das praias só têm obrigações e praticamente nenhuns direitos.

Mas como estamos longe de dar o caso como arrumado, vamos esperar pelo resultado da contra-análise e ver o que isto vai dar. Uma coisa posso garantir: não vamos baixar os braços enquanto esta situação não ficar totalmente esclarecida, seja para o bem ou para o mal. E espero bem que se esclareça tudo nos próximos dia porque a época balnear está quase no fim.