
por Raúl Oliveira (Jornalista do “Imenso Sul”
e correspondente do Público)
Coerência, Precisa-se!
A digressão que trouxe o Coral das Lajes do Pico – Açores a terras do litoral alentejano, para além do intercâmbio cultural que cimentou amizades iniciadas o ano passado, quando o Coral Harmonia de Santiago do Cacém actuou nas Festas dos Baleeiros daquela Ilha, permitiu constatar algumas incoerências, umas mais graves que outras. Se a ligeireza com que a embaixada açoreana foi recebida pela autarquia sineense se lastima, muito mais é de lastimar a recusa para que o Coral visitante actuasse na Igreja Matriz de Sines.
Num Ano Jubilar, numa altura em que tanto se propagandeia o ecumenismo, certas decisões da hierarquia da Igreja Católica ultrapassam a nossa capacidade de entendimento.
Para além do facto de outros corais polifónicos, nomeadamente o coral anfitrião, o Harmonia, já terem cantado na Igreja Matriz de Sines, acresce ainda a razão da quase totalidade dos coralistas açoreanos pertencerem aos coros das igrejas das suas paróquias, conhecida que é a devoção do povo açoreano, mais incompreensível se tornou a recusa da actuação do Coral das Lajes na Igreja Matriz de Sines. Podemos mesmo assegurar que terá sido a única nota negativa e mágoa que os nossos amigos açoreanos levaram desta sua digressão pelo litoral alentejano, o que é de facto de lamentar. Isto porque pudemos constatar que caiu muito mal em todas as pessoas da embaixada cultural açoreana, a decisão que os impediu de ao menos terem a oportunidade de conhecerem a Igreja Matriz de Sines.
Só a titulo de esclarecimento acrescentamos que mais do que um tema do programa de actuação do Coral das Lajes era de génese religiosa, e mais, um dos mais aplaudidos foi precisamente a Cantata Mariana, em que se invocam todas as Nossas Senhoras das paróquias da Ilha do Pico, em número de mais de uma dezena.
Por outro lado o maestro Emílio Porto ofereceu ao pároco de Alvalade Sado, onde o Coral das Lajes actuou, o livro Colecção de Cânticos “Senhor Levanta os Teus Olhos”, da autoria do Padre José Carlos com música de sua autoria.
É curioso registar que ainda recentemente o Coral Harmonia de Santiago do Cacém foi actuar ao Estoril, a convite dos seu congénere local e acabou por inesperadamente ir actuar, nessa noite, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa.
A dúvida que me resta nesta recusa da actuação do Coral das Lajes na igreja matriz de Sines, é se ela (a recusa) não terá a ver com o facto de constar no seu programa um tema precisamente do CD gravado pelo próprio Coral das Lajes.
É caso para dizer que afinal, quanto a fundamentalismos, eles não existem apenas nas outras religiões, o que não abona nada a favor da religião católica, dita tolerante.