por Brissos Lino (dirigente associativo)
O Algarve
Parece que metade do país se muda para o Algarve durante o mês de Agosto. É chique. É in. Está na moda. Coitados dos algarvios que não se podem mudar então para nenhum outro lado.
Quem não for visto no Algarve durante o Verão não existe. Logo, eu não existo, porque me recuso fazer um frete de tal ordem.
Porquê frete? Porque se a ideia é descansar de um ano inteiro de trabalho, repousar, arejar, mudar de ares, procurar um pouco de ar puro, então o Algarve no Verão será o último local indicado para o conseguir. Por muito estranho que possa parecer, mas a verdade é que se está muito melhor em Lisboa, em Agosto, do que em Albufeira, Faro ou Quarteira.
Mas moda é moda. Não há nada a fazer. Toda a gente que é gente tem que passar pelo Algarve no Verão. Ou melhor, tem que ser visto lá, e para isso não há nada como procurar dar nas vistas para que os programas televisivos e as revistas da society falem neles e lhes publiquem umas imagens ou fotos. Ou então, glória das glórias, uma entrevistinha.
Nem mesmo o socialista Sampaio prescinde de uns dias na Quinta do Lago, que é como quem diz, no meio do jet set.
Há uma campanha eleitoral presidencial que vem aí e não se pode perder uma oportunidade preciosa como esta, para dar uma imagem de simpatia perante os mais endinheirados, uma vez que a campanha em si mesma já vai proporcionar muitas ocasiões para chegar ao povão, através das feiras, dos mercados e das acções de rua.
O Algarve estival porém, é uma miragem. No entanto, parece dar resposta a uma boa parte das necessidades psicológicas de muitas pessoas. Necessidades de identificação, de estar na onda, de uma ilusão de sucesso, modernidade e prosperidade.
Digamos que o simples facto de se frequentar os mesmos lugares que os vip’s atribui a algumas pessoas a sensação de que também eles são importantes. Já têm qualquer coisa para contar aos amigos e fazê-los ficar roidinhos de inveja. A sensação de proximidade com o jet-set faz-nos subir alguns degraus na nossa auto-estima.
Nem sabem as pessoas que a vida de algumas das figuras públicas que fazem parte da galeria dos notáveis é simplesmente miserável, só a aparência conta e o resto é pura brilhantina, lantejoulas, marketing, encenação e música de fundo.
Mas se formos bem a ver, o litoral alentejano, por exemplo, responde muito melhor à necessidade mais imediata dos cidadãos em tempo de férias, e que passa pelo descanso e renovação das forças físicas e psicológicas para um novo ciclo/ano de trabalho, além de um tempo de qualidade passado em família, o qual pode ser bastante importante nas relações pais-filhos e marido-esposa.
É evidente que praias apinhadas de gente, restaurantes atafulhados e noites passadas em bares e discotecas cheias como um ovo não podem conferir aquela tranquilidade que é tão necessária ao equilíbrio da pessoa. No fundo, é isto que o Algarve tem para oferecer, além dos preços proibitivos, da crónica falta de água quando ela mais falta faz, das famosas e incómodas obras estivais e das filas quilométricas na estrada para lá e nas estradas de lá, com toda a ansiedade que lhes está associada.
Sendo assim, muitos há que retornam do Algarve, vindos de férias, mais cansados do que para lá foram, e que bem necessitariam de novo período de férias (repouso, entenda-se) para se recomporem das férias em primeira mão.
Mas as coisas são o que são. No dia em que as férias forem utilizadas mesmo para descansar, física e psiquicamente, então, no início de cada novo ano de trabalho, poderemos ver as pessoas bem humoradas, relaxadas, soltas e dispostas a cumprir as tarefas inerentes à sua profissão sem grandes dificuldades ou resistências. Mas o que se vê no regresso ao trabalho, as mais das vezes, são semblantes fechados, tensão e ansiedade.
Conclusão: estes, se calhar, nem sequer deviam tirar férias.
No seu próprio interesse…