[ Edição Nº 139 ] – DA CAIXA DE PANDORA por Domingos da Costa Xavier.

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DA CAIXA DE PANDORA
por Domingos da Costa Xavier
(médico veterinário)

Por respeito…!

          Com o aproximar do fim de Agosto, e, à falta de melhor entretenga, eis que nos começam a surgir em catadupa notícias sobre Barrancos. A bem dizer, tal é a sanha de uns quantos em proferir barbaridades sobre o sentir barranquenho, que parece completamente vazio de problemas o todo nacional. Até dá dó!

Em verdade, as festas em honra de Nossa Senhora da Conceição, são tão velhas na localidade quanto o é a consagração respectiva da Mãe de Deus Feito Homem de tal invocação como padroeira do país e nação que somos. 360 anos, dá que pensar. E, dá que pensar sobretudo, porque temos que convir que em tão vetusto evento, é grato que a História assinale que só os toiros têm morrido. Que prova de prova de civilidade ordeira, que exemplo ao tecido nacional, que testemunho de sã vivência…

De facto, apesar da afirmação genuína da sua portugalidade, tal povo soube incorporar e dar prova da sua constante assimilação da mentalidade sociológica reinante nos domínios de Al Andaluz, como muito bem afirma fundamentado em seus estudos Claúdio Torres, mas, facto é também que como nenhum outro entre nós, malgrado a sua escassez de recursos, soube dar lições de fraternidade, matéria atestada pelo seu comportamento aquando da famigerada guerra civil que dilacerou a vizinha Espanha. Pois é, enquanto do resto do país se faziam excursões para ir a Espanha presenciar fuzilamentos como se de um espectáculo se tratasse, o bom povo barranquenho (que mata toiros) salvava vidas, mas disso parece que nenhum dos hipócritas com voz ao momento está interessado em falar.

Qual Eça que à falta de melhor zurzia o Bei de Tunes, os plumitivos nacionais para encher papel e apresentar serviço, zurzem Barrancos. Ao fazê-lo atestam liminarmente a sua incultura, dado que ignoram por completo que o rito sacrificial que custa a vida a uns quantos toiros (que aliás não existem para outra coisa), para além da colectiva catarse, serve o que os investigadores sociológicos apelidam de bodo disruptivo.

Mas isso são outros contos que decerto lhes não interessam, na convicção, de que dirão, enfermo, de que as suas preocupações se esgotam em coisas mais comezinhas que o que se baseia nas nossas raízes e ascentralidade.

Decorreu um ano sobre a festa do ano passado, sobre o que se disse cobras e lagartos. Entretanto, a Assembleia da República botou sobre o assunto não sei quantas faladuras e aos costumes disse nada, o Governo, que sobre o tema quase se demitiu, submeteu à citada um projecto de descriminalização (como se acaso matar um toiro bravo prefigurasse um crime) de tão caricato teor que mete dó, tanta que parece ter sido escrito por um especialista em semântica formado numa brasileira Universidade PPP (Paga as Propinas que Passas), de que somente resultam listagens de coimas, dando razão a um velho amigo meu que muito cínico afirma sem rebuço que neste país não há políticos, o que há são cobradores fiscais. É de rir!

Estamos a 28 de Agosto, os autodenominados protectores dos animais movimentam-se com o vigor do zangão antes da fecundação da abelha mestra, fazendo os possíveis por ignorar que os seus objectivos irão ter o mesmo fim que o insecto que me serviu de comparação, com a agravante de ao invés do bichinho sequer terem cumprido a sua função. É ridículo!

Um grupelho que já andou para aí a afirmar em pancartas à porta das praças de toiros frases tão indecorosas como por exemplo o são, “queres brincar com cornos, brinca com o teu pai” ou “Cristo não gosta disto”, foi até ao ponto (com a mesma originalidade que motivou mentores anteriores) de adicionar uma providência cautelar junto de um juízo do Porto (é perto de Barrancos, não é??) que mereceu o acolhimento de um juiz em termos tais que me assusta a possibilidade de um dia eu próprio necessitar litigar e ter que recorrer à justiça. Sendo que por tradição sempre ouvi dizer que a justiça é cega, o dito magistrado tinha os olhinhos tendenciosamente bem abertos ao escrever a sua fundamentação deliciosa e célere. Ainda bem. É caso para felicitar o Ministro da Justiça pela prontidão dos nossos tribunais de poder independente.

Aliás, o dito magistrado, que não sei se é tarimbeiro ou saído daquele alfobre que se instala na antiga cadeia do Limoeiro, e a dita associação de “protectores” (nem o nome lhes digo, que á minha custa não se promovem), bem que deviam olhar para o umbigo.

Já este mesmíssimo mês, no Porto, em que se sediam, foi-me dado percorrer à ilharga da estação de São Bento o denominado mercado dos pássaros. Não vi por lá (identificável, se calhar até havia algum às compras e eu não sei) nenhum juiz, nem nenhuma associação “protectora”, sequer funcionários governamentais com competência fiscalizadora em tal matéria, vi, isso sim, um lote considerabilíssimo de espécies autóctones  e importadas que o CITES considera aves protegidas, a sofrer em gaiolas estreitas sem que nenhuma “manif” abrilhantada a bombos do Douro perturbasse o seu comércio. Dá que pensar…!

Com tais telhados de vidro permitem-se atirar pedras aos telhados do vizinho, se calhar na ânsia desesperada dos tais dez minutos de fama a que Churchill dizia que todo o Homem tem direito. Coitados!

Já chega, as coisas são o que são por muita volta que lhe queiram dar. Os juízes do Porto bem que se podiam preocupar com o aumento da venda de droga na cidade (até alguns polícias foram indiciados como traficantes) ou com o aumento descarado de menores de ambos os sexos que por lá andam vendendo “as suas íntimas mercadorias” como diria Alçada Baptista, mas não, preferem interferir com o povo barranquenho para não correrem o risco de problemas ao pé da porta. É uma vergonha!

Deixem Barrancos em paz. Terra portuguesa da mais pura cepa pese a geografia raiana, à força de saber que mais nada lhe dão, as suas gentes só pedem respeito, sobretudo porque o merecem, porque são bastião de verticalidade, porque a pureza do branco das suas casas reflecte a pureza de quem as habita, e vejam lá,  porque por lá, até os figos de pita são bons!!!