
por Carlos Santos (da Comissão
Executiva do Bloco de Esquerda)
Orçamento ou Crise – Parte 1
Há meses que passam os anúncios: em Outubro estreia absoluta da crise anunciada. Quem vai viabilizar o Orçamento de Estado? Irá demitir-se o Governo? A crise aproxima-se…
O PP, que viabilizou o Orçamento há um ano já declarou que agora não contem com ele. O Governo faz constar que procura parceiro para a viabilização e está mesmo disposto a dar alguma coisa…
Entretanto, o Primeiro Ministro prepara já o texto melodramático para poder exclamar em tom compungido: deixem-me governar!
Estamos quase em Setembro e nas próximas semanas a campanha publicitária vai acentuar-se até ao início do espectáculo: Orçamento ou Crise – Parte 1.
Por um dólar
Entretanto, a família Mello vendeu a Lisnave (a parte maioritária do capital) por um dólar a dois quadros da sua confiança. Antes, tinham convencido o ministro da Economia e Finanças e o ssecretário de Estado de que iam sair da empresa e deixá-la para o Estado. Pina Moura e Vítor Ramalho planearam a entrega da Lisnave em troca da feitura de três submarinos mas a família preferiu vender a sua parte… por um dólar.
Confesso que eu também comprava a Lisnave por um dólar. O que me espanta é que este negócio não tenha dado lugar a manchetes, não tenha sido alvo de inquéritos e que o ministro das Finanças nada diga.
A SN – Serviços vai encerrar a 31 de Março de 2001 e os seus trabalhadores continuam sem saber o seu futuro. Também aqui o ministro nada diz.
Entretanto os aumentos salariais e das pensões já foram absorvidos pela inflação, com a inflação homóloga de Julho a situar-se em 3,2% e, segundo todas as previsões, com a inflação média anual a poder rondar os 3%.
Em 1999, os salários mínimos mensais na Europa eram os seguintes: Espanha 83.465$00, Grécia 90.636$00, Inglaterra 193.053$00, França 210.327$00. Portugal em 2000: 63.800$00. Com os aumentos de 2000 já absorvidos pela inflação, o fosso ainda será maior. O Governo, claro, nada diz nem cumpre a promessa de aproximação da Europa.
Orçamento de crise
O ministro Pina já anunciou traços essenciais do novo Orçamento: subida do orçamento militar, retracção dos orçamentos para a educação e saúde e contenção salarial – que é uma forma de dizer que os salários vão ficar ainda mais longe da Europa, para já não falar da precarização e do trabalho escravo dos imigrantes (agora legalizados com lei viabilizada pelo… PP, pois claro!).
Quanto à reforma fiscal, zero ou quase zero – os trabalhadores por conta de outrem continuam a ser os eternos sacrificados e as benesses ao capital multiplicam-se como cogumelos: o jogo em Tróia aí está para o provar.
E é para viabilizar esta política que o Governo queria que os deputados do Bloco de Esquerda viabilizassem este Orçamento de Estado… O Bloco de Esquerda, que rejeitou o programa de governo, irá continuar a apresentar as suas propostas por transformações da vida das pessoas e, naturalmente, contra a política neoliberal de que o Governo PS tem sido o protagonista, muitas vezes com o apoio do PP.