Especialistas garantem
que co-incineração tem alternativa
O tratamento de resíduos por pirólise – um sistema em que a matéria é submetida a altas ou muito altas temperaturas – é dado por especialistas portugueses como a solução para os resíduos perigosos, como é o caso de alguns resíduos industriais e hospitalares. O sistema que transforma os resíduos em cristais ‘promete’ não emitir dioxinas mas parece não agradar à Comissão Científica Independente (CCI) porque, segundo contam os Cidadãos Pela Arrábida, “os lobbies falam mais alto”.
Denominado de pirólise e vitrificação por plasma (PPV), o sistema de tratamento de resíduos foi adoptado por países como os Estados Unidos , o Japão, França, Alemanha, Holanda e Reino Unido. Santos Oliveira, professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte da Caparica, e consultor científico da Siplasma, que tem vindo a trabalhar com uma equipa de investigadores em torno da aplicação do PPV, garante que este processo de tratamento de resíduos tóxicos “é mais vantajoso” em termos ambientais que o sistema de co-incineração dos resíduos em cimenteiras.
Segundo este responsável, as vantagens passam pela possibilidade de tratamento dos resíduos perigosos, incluindo os que não podem ser co-incinerados, sem produzir dioxinas. Por outro lado, ainda de acordo com o cientista, o sistema “converte os resíduos orgânicos em energia” permitindo a recuperação de energia na ordem dos 160%. Por outro lado, a pirólise a muito altas temperaturas – superiores em quase mil graus às temperaturas a que estas matérias estariam sujeitas na co-incineração – vitrifica os resíduos ao orgânicos. Uma técnica que, segundo contou ao “Setúbal na Rede” fonte da equipa de cientistas, dispensa o envio para aterro e pode ser utilizado, como subproduto, no fabrico de betão e de lã de vidro.
A pirólise a altas temperaturas é considerada pela Siplasma como o sistema do século XXI, de tal forma que fonte da direcção da empresa garante ser Portugal ‘obrigado’ a caminhar nesse sentido sob pena de “continuar a teimar nos prejuízos ambientais da co-incineração”, considerada pela mesma fonte como “um sistema obsoleto e digno do século XVIII”.
Governo ‘teme’ preço do sistema Mas apesar das garantias que têm vindo a ser dadas pelos investigadores, ao nível da protecção ambiental e da conversão energia de resíduos industriais, hospitalares e ainda de armamento obsoleto e das farinhas de animais suspeitos de BSE, o sistema parece não agradar às entidades oficiais.
É que, segundo declarações do administrador da Siplasma à revista da especialidade Água e Ambiente, apesar de conhecer o sistema desde 1999 – altura em que foi dado a conhecer à administração central com o patrocínio do presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, até hoje o processo não andou. O problema, refere Carlos Ferreira, está “no bloqueio” que diz ter ocorrido “por lobbies europeus da co-incineração”. Entretanto, a pasta do Ambiente mudou de Elisa Ferreira para José Sócrates, tendo tal mudança, adianta este responsável, “sido crucial para o bloqueio do processo”.
Contactada pelo “Setúbal na Rede”, fonte do Ministério do Ambiente admite ter conhecimento do dossier. Contudo minimiza o assunto e desdramatiza as acusações afirmando que se trata de um processo “ambientalmente eficaz mas financeiramente inviável”. Uma teoria desmentida pelos especialistas que dizem ser este sistema gerador de receitas e criador de vantagens ambientais “cujo valor não tem preço”.
Quem tem vindo a acompanhar este processo é o Movimento de Cidadãos Pela Arrábida que, apesar de não dispor de dados científicos “que permitam garantir a eficácia” do sistema, sempre vai dizendo que se trata de “uma alternativa credível”. Maurício Costa, um dos fundadores do movimento garantiu ao “Setúbal na Rede” que “o que importa é equacionar todas as alternativas à co-incineração e não fazer como o Governo, que optou por aquele sistema sem questionar mais nenhum”.
E diz mesmo não ter ficado espantado com a posição da CCI, contrária à aplicação do sistema de plasma, uma vez que “estando a ser paga para monitorizar e inspeccionar a co-incinreração, se o sistema deixasse de ser aplicado os membros desta comissão ficariam sem as avultadas verbas que daí auferem”. Uma prova que, segundo acrescenta, “demonstra a falta de independência desta pretensa Comissão Independente e a teimosia do Governo que beneficia o lobbie das cimenteiras e põe em causa o ambiente e a saúde pública”.
O caso promete não ficar por aqui, pois o movimento cívico vai exigir explicações e o acesso à documentação sobre este processo, de forma a pronunciar-se publicamente sobre um assunto que consideram de interesse para todo o distrito de Setúbal.