Setúbal na Rede – O que é que o levou a candidatar-se à Câmara de Setúbal?
Duarte Machado – Foram várias as razões: ser de Setúbal, viver cá e gostar muito da minha terra. O facto de, na minha vida profissional, ter tido a possibilidade de viajar pelo país e pelo mundo e, por força dessas viagens, ter constatado a posição secundária que Setúbal tem no panorama das cidades portuguesas, o seu crescimento anárquico e sem bases de sustentação. Nota-se que há uma evolução muito positiva em muitas cidades e, por isso, os setubalenses caem na tentação de fazer comparações entre Setúbal e o Barreiro, Palmela, Amadora. Ou seja, compara-se Setúbal com cidades ou locais que não estão na primeira ‘divisão’ das cidades portuguesas. Acho que Setúbal só devia ser comparada com cidades como Braga, Coimbra, Aveiro e Guimarães, ou seja, cidades que evoluíram muito e atingiram padrões de qualidade muito superiores àqueles que Setúbal tem.
Nós ‘amolecemos’ por causa de uma política de crescimento anárquico. Este crescimento é fruto de uma política sem um plano estratégico para a cidade. Não se sabe para onde é que Setúbal caminha, ou melhor, caminha em puzzles, por situações perfeitamente pontuais, sem um rumo definido ou uma planificação que a possa tornar competitiva em relação às outras cidades que vão evoluindo favoravelmente.
SR – Que expectativas lhe dá esta sua candidatura pela coligação PSD/PP?
DM – A minha candidatura é muito mais abrangente que o PSD e que o PP. Não sou um homem do aparelho partidário e nunca o fui. Estou no PSD porque considero que, dentro das linhas políticas existentes, a social democracia é aquela que, de alguma forma, corresponde melhor a uma maior equidade entre os cidadãos e a um maior equilíbrio. Quando se diz que a minha candidatura é uma candidatura de direita, eu coloco sérias interrogações. Pergunto mesmo, em termos ideológicos, actualmente onde é que está a direita e onde é que está a esquerda. Se ser de direita é querer uma cidade com um melhor equilíbrio social, emprego mais estável e sem trabalho precário, com um urbanismo mais virado para as pessoas, melhores transportes urbanos, mais segurança, melhor educação e escolas, melhores hospitais e centros de saúde e mais lares de idosos, então eu sou de direita.
Agora, o que vejo é que pessoas que se intitulam de esquerda não têm esta política e esta visão e limitam-se a andar por aí com relógios Rolex de 2 mil contos, dizendo que são da esquerda. Perante isto, eu pergunto onde é que está a esquerda e onde é que está a direita. A minha direita é defender as pessoas, é querer melhor qualidade de vida para Setúbal, uma cidade mais competitiva, melhor emprego, uma maior ligação aos pólos universitários e desenvolver a cidade para o futuro.
As minhas perspectivas são muito animadoras e essas são-me dadas pelas sondagens de todos os dias. Ando na rua, sou um cidadão perfeitamente normal, não sou um carreirista da política e não me fecho nos gabinetes. E isto não acontece com outros candidatos à Câmara. Mata Cáceres é um carreirista da política e está cá desde 25 de Abril de 1974, e Carlos de Sousa também nunca fez outra coisa na vida. Eu não, estou na política há três anos como vereador e tenho uma profissão. Fui empregado, fui empresário, lutei pela vida e continuo a lutar. Por outro lado, não faço da política o objectivo final da minha vida. Tal como estou hoje, como vereador, gostaria de estar como presidente da Câmara, mas ainda tenho outras coisas para fazer na vida.
Só deve estar na política quem tiver uma carreira profissional porque a situação que hoje vivemos, de os políticos começarem desde novos a trabalhar nesta área sem fazerem mais nada, para mim é um absurdo. E é um absurdo porque não têm experiência da vida, não tiveram responsabilidades como todos os outros cidadãos e isso afasta-os da realidade. Actualmente a política está completamente invertida e o que provoca isso são os maus políticos que temos. Hoje em dia, a primeira coisa que os políticos fazem é olhar para si próprios e para os partidos que representam, em vez de olharem para as populações que os elegeram e para as cidades que estão a representar.
A minha perspectiva das coisas é completamente diferente: sou um cidadão normal, vou à rua e contacto com os meus amigos, estou sempre nas iniciativas que organizo, conheço e sinto a cidade. A grande diferença entre a minha candidatura e as candidaturas de Carlos de Sousa e de Mata Cáceres, é que eles não vivem em Setúbal e nunca se deram a esse trabalho. Eu nasci aqui, vivo cá, sinto Setúbal e sofro e alegro-me com Setúbal. Esta é a diferença fundamental. Um presidente de câmara pode ter a maior capacidade deste mundo – o que não é o caso dos outros candidatos – mas se não vive e não sofre com a cidade, e se não sente os problemas dos cidadãos não é um bom presidente de câmara.
Veja-se o caso da co-incineração. É evidente que todos sabemos que os resíduos industriais perigosos têm de ser tratados mas também sabemos que há uma grande diferença de opiniões no seio da comunidade científica sobre este método de tratamento dos resíduos. E há também a questão da localização desse sistema de tratamento, que se pretende que seja na serra da Arrábida, uma zona de Parque Natural. O actual presidente da Câmara de Setúbal disse publicamente que não ia contra os cientistas, que esta medida era seguramente a mais lógica e que, portanto, não se opunha a isso. E eu digo que é impossível, irracional e ilógico tratar os lixos industriais tóxicos numa fábrica de cimento que está instalada no coração do parque natural mais rico deste país. E hoje, o desenvolvimento equilibrado das cidades não se faz sem que haja uma zona envolvente bonita e harmónica.
Por outro lado, mesmo que a queima em cimenteiras seja o melhor processo para o tratamento dos resíduos industriais perigosos, ela nunca poderia ser feita num parque natural. Deveria era ser afastada desta zona e das próprias populações, uma vez que existe o tal desencontro no seio da comunidade científica a propósito dos efeitos que este sistema poderá ter sobre a saúde pública. O último ponto, e o mais importante, é o sentir da população de Setúbal. Embora as pessoas não se manifestem pelas ruas, elas são contra a co-incineração na Arrábida. Ainda não encontrei ninguém que fosse a favor. Então, perante isto e as mais de 10 mil assinaturas contra a implementação do sistema, o presidente da Câmara de Setúbal, que representa a população, vem dizer exactamente o contrário do que a população quer. Isto é perfeitamente absurdo e de um homem que não sente a cidade, não sente a região e que não está de acordo com os cidadãos que o elegeram. E não tenho dúvidas de que Mata Cáceres vai ser penalizado por isso nestas eleições.
SR – Como é que evitaria a co-incineração na Arrábida?
DM – Acho que a única maneira de a evitar é transferir a Secil para outro local. A cimenteira emprega mais de 200 trabalhadores e esses empregos não podem ser postos em causa. Mas há maneiras de resolver isso, nomeadamente através de apoios estatais e intermunicipais. Não se pode permitir a existência de uma fábrica de cimento no Parque Natural, para mais quando não se sabe quanto tempo cá vai ficar porque o fim da concessão não tem uma data marcada. E a queima dos resíduos industriais até pode perpetuar a permanência da Secil naquele local. Por outro lado, o desenvolvimento que se prevê para a península de Setúbal não é compatível com este tipo de indústrias. Mais uma razão para que a Secil seja relocalizada e que se avance com um plano de reflorestação daquela zona da Arrábida, um plano a sério com uma mancha verde que cobrisse o crime ambiental que tem sido praticado através da exploração das pedreiras.
Não há qualquer dúvida de que a fábrica não deve estar ali.
Por isso, iniciei um processo de candidatura da Arrábida e do Sado a património mundial natural da humanidade, através da UNESCO. O processo está a decorrer, não andámos a recolher assinaturas porque as pessoas voluntarizaram-se para isso. E agora temos mais de duas mil assinaturas sem qualquer esforço. Acredito que se a candidatura for aprovada vai, seguramente, inviabilizar a continuidade da Secil naquele local. Talvez poucas pessoas saibam mas, para além de ser das coisas mais bonitas deste país, tem a mata mediterrânica mais autêntica e mais bonita de toda a Europa. Não há outra igual. Os povos necessitam de algumas referências e, no caso de Setúbal, a Arrábida é a maior e a melhor de todas as referências. Se vão destruir esta referência, dentro de alguns anos os nossos descendentes vão dizer que os indivíduos que os antecederam foram uns bandidos porque destruíram o que de mais bonito Setúbal tinha.
SR – Acredita que poderá ganhar a Câmara?
DM – Acredito que sim porque acho que sou o melhor candidato. Mata Cáceres já mostrou aquilo de que é capaz e o que se espera dele é a continuação de uma política de 16 anos em que a cidade não se desenvolveu, pelo contrário, piorou. Em termos de higiene e limpeza e de mobiliário urbano é a desgraça que se conhece. Em termos de urbanismo desenfreado e desumanizado é a desgraça que se conhece, o património construído no núcleo central de Setúbal, na baixa, nos bairros históricos está completamente decadente e essas referências da cidade vão continuar a perder-se se Mata Cáceres continuar como presidente.
No caso de Carlos de Sousa eu perguntava quem é ele. Acho que é um mito. O que é que Carlos de Sousa já fez em Palmela? No que diz respeito ao património histórico, as casas medievais estão iguais ou pior do que o património histórico construído de Setúbal. Ao nível do urbanismo os exemplos não são os melhores, pelo contrário. Aquilo que fez em Pinhal Novo e em Águas de Moura não é exemplo para ninguém. Em termos de ambiente, veja-se o que tem feito com urbanizações intempestivas e inadequadas aos sítios, para além do abate de sobreiros. Veja-se o que está a ocorrer na Quinta do Anjo, que era uma aldeia bastante simpática. Agora vai ter uma capacidade de carga urbana e humana enorme, sem vias de acesso que permitam o fluxo do trânsito.
Penso que Carlos de Sousa não é mais do que um mito. Algumas pessoas convenceram-se de que ele poderia ser um bom presidente da Câmara de Setúbal pelo facto de fazer a Festa das Vindimas e mais duas ou três coisas de índole cultural. Para se ser um bom presidente de Câmara é preciso gostar da cidade e Carlos de Sousa é dirigido pelo núcleo central do PCP. Assim como veio para Setúbal poderia ter ido para o Barreiro, para a Moita ou outro sítio qualquer se lhe tivessem dito para ir. Se no PSD me dissessem que eu ia concorrer à Câmara de Palmela ou outra qualquer, eu dizia que não pois só estou interessado na minha cidade. Esta é a grande diferença. Mata Cáceres não é de cá, não vive cá e nunca viveu. Carlos de Sousa não é de cá, não vive cá e podia ir para um outro sítio qualquer se o partido mandasse, tal como fez com Setúbal.
SR – Que comentários lhe merecem os candidatos do Bloco de Esquerda e do movimento de cidadãos independentes?
DM – Não há outros candidatos à presidência da Câmara. A candidatura do Bloco de Esquerda não é relevante. É o que é, são os intelectuais de esquerda. Tenho o maior respeito por eles, são pessoas com ideias e muita criatividade mas acho que não têm possibilidades nestas eleições. Quanto aos independentes, basta olhar para o encontro de que ocorreu em Setúbal para ver quem são os candidatos a algumas câmaras, como por exemplo, a de Albufeira. Por exemplo Xavier Xufre, candidato a Albufeira, que tal como Luís Filipe Fernandes, o candidato independente a Setúbal, foi sempre um homem da máquina partidária do PS. Xufre foi corrido da presidência da Câmara por esquemas de corrupção que não sei se chegaram a ser aclarados e agora candidata-se como independente. É um homem que não soube deixar o lugar na devida altura e que quer reconquistá-lo a qualquer preço.
Luís Filipe Fernandes, também foi sempre um homem do PS e com ambições dentro do partido. Essas ambições foram-lhe cortadas pela própria máquina partidária e a solução que encontrou para conseguir algum protagonismo e, eventualmente, um lugar na Câmara, foi candidatar-se como independente. Embora lhe reconheça algum valor, sobretudo na área da cultura, e acredite que sinta mais a cidade que os outros candidatos. Eventualmente não a sentirá tanto como eu porque vive numa esfera diferente da minha e não contacta tanto com o povo. Seja como for, continuo a pensar que é uma candidatura sem grandes hipóteses.
SR – Como é que comenta o facto da sua candidatura ser vista pelos seus opositores como a continuidade da política do PS na Câmara?
DM – Acho que quando um partido ganha uma Câmara, nem que seja por um voto, devia governá-la sozinho. Assim, poderia ser responsabilizado ou elogiado pelo trabalho que fez. Infelizmente, o actual sistema permite esta coabitação dos vários partidos quando não se tem a maioria absoluta. Em vim para a Câmara pelo PSD e tive de ter alguma coabitação com Mata Cáceres, enquanto presidente socialista. Outros teriam feito uma oposição tipo Regina Marques, mas vejamos a que é que isso conduziu: foi completamente afastada da linha de candidatos do PCP. Eu podia ter vindo para a Câmara numa postura de inviabilização de tudo e mais alguma coisa pelo simples facto de ser da oposição. Essa não é a minha posição na vida. O homem ganhou as eleições e, por isso, tem de ser respeitado. O PSD inviabilizou algumas propostas de Mata Cáceres, aquelas que nos pareceram mais importantes. Quanto às outras, não nos pareceu que justificassem o alimentar de um clima de hostilização permanente. Até porque as populações poderiam sair prejudicadas se estivéssemos sempre a votar contra.
Veja-se, por exemplo, o caso da aprovação da reabilitação da zona ribeirinha. Então nós íamos votar contra só pelo facto de sermos da oposição? Veja-se o caso da ETAR, estação de tratamento de águas residuais, íamos votar contra só por sermos da oposição? Isso não faz parte da minha maneira de estar na política. Há momentos para tudo e como neste momento sou o candidato, então vamos é apresentar ideias novas. Os slogans que utilizo nos cartazes reflectem a realidade de Setúbal. No fundo estou a transmitir a opinião de mais de 90% dos setubalenses. Portanto, não se pode cair no erro de dizer que tudo o que se fez foi mal feito. Acredito que não venha a ser penalizado se as pessoas se consciencializarem de que a oposição fundamentalista não tem nada a ver com a minha maneira de ser.
Dizer que deixei passar tudo o que Mata Cáceres fez é ter uma visão das coisas curta e redutora. Dou um exemplo: se me disserem que aprovei o plano de reabilitação da zona ribeirinha eu digo que sim porque, apesar de tudo, é melhor do que aquilo que existe. Não estou de acordo com o plano, na sua totalidade, mas o que acontece é que se o chumbasse não se fazia nada pela zona ribeirinha e perder-se-ia o financiamento comunitário. E não concordo com uma parte do plano porque, por exemplo, há coisas que não são contempladas. Embora seja muito da responsabilidade da administração dos portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), o plano devia ter sido elaborado e discutido com uma equipa multidisciplinar em que estivesse incluída a autarquia. E como se trata de um projecto que pretende integrar as várias perspectivas de desenvolvimento, nomeadamente a do turismo, eu devia ter sido chamado a participar. Mas, como vereador do Turismo não fui tido nem achado neste processo. E só depois do plano estar feito é que foi mostrado para aprovação na Câmara.
Como profundo conhecedor desta área, acho que Setúbal tem de caminhar decididamente para o terciário e, sobretudo para as novas indústrias tecnológicas e biotecnológicas e para o turismo. Por isso, fico com alguma pena quando vejo que, na reabilitação da zona ribeirinha, vão ser destruídos alguns edifícios que podiam ser contemplados com novas formas de actividade, nomeadamente lúdica e comercial. É o caso da antiga fábrica de conservas junto à lota, que, de acordo com o plano, vai ser destruída. Aquilo que foi feito nas cidades que tiveram algum sucesso na reabilitação das zonas ribeirinhas, foi encontrar novas formas de uso para velhos edifícios. Esses velhos edifícios é que mantêm a alma e o espírito de uma cidade. Não são os arranha-céus nem os prédios inócuos com três e quatro andares. Isso é incaracterístico e existe em todas as cidades.
SR – Se for eleito presidente, que tipo de desenvolvimento quererá imprimir a Setúbal?
DM – Setúbal tem sido caracterizada pelos altos e baixos na sua evolução económica. Primeiro com o encerramento das fábricas de conserva, das salinas e de todas as fábricas de metalomecânica que apoiavam a indústria conserveira. Depois entrámos no período das fábricas de papel, das fábricas de químicos e de cimento. Felizmente, e abro uma excepção para a Secil, têm-se mantido em funcionamento. Entrámos na indústria naval e na indústria automóvel mas, como os setubalenses têm sentido, estas são actividades exógenas à região, ou seja, não têm muito a ver com a potencialidade de Setúbal e a única coisa que fizeram foi aproveitar um rio fabuloso, que tem o terceiro maior estuário da Europa, e as vias de comunicação proporcionadas pelo rio e pelo mar. Mas o modelo de desenvolvimento de Setúbal, para os próximos anos, não pode continuar a subsistir só por aqui. Até porque, um dia destes, algumas destas actividades vão parar.
A minha aposta irá ser na área das novas tecnologias e na área do turismo. Isto, a par de um grande apoio às pequenas e médias indústrias e empresas porque são elas que traem mais valias para Setúbal. Contrariamente ao que acontece com as grandes unidades industriais cujas sedes são fora de Setúbal. Isso leva a que o resultados do trabalho desenvolvido por essas indústrias não sejam investidos em Setúbal. Já com as pequenas e médias empresas ou indústrias é bem diferente. Regra geral, são da região e investem em Setúbal aquilo que ganham. Por outro lado, e tendo em conta o fenómeno da globalização, sabemos que as grandes empresas transferem-se de país e de continente com uma enorme rapidez. Veja-se o caso da Autoeuropa que agora parece que vai ficar para além de 2006, a data prevista para o encerramento.
Mas nada garante que fique muito mais que isso e quando ela fechar veja-se as convulsões sociais e a quantidade de desemprego que vai gerar na região. Estamos a falar der seis mil famílias, ou seja, mais de vinte mil pessoas poderão ser afectadas pelo encerramento da fábrica. Em contrapartida, nas pequenas e médias empresas cria-se um emprego mais estável. E isso é bom porque o maior problema da sociedade de hoje é a precariedade no emprego. Aquilo que quero para a minha cidade é, em conjunto com os pólos universitários e os empresários que já cá estão instalados, encontrar novas formas de desenvolvimento para Setúbal.
SR – Como é que uma autarquia pode levar um projecto destes em frente?
DM – Basta olhar para o exemplo da Câmara de Oeiras, ou seja, através da criação de incubadoras de empresas, de parques tecnológicos que atraiam os empresários, isenção de impostos para os pequenos empresários, nomeadamente os que têm ideias inovadoras. É formar grupos de trabalho através do Instituto Politécnico de Setúbal, que é um excelente instituto, onde existe gente com grande capacidade. E em vez de disponibilizar terrenos para empresas poluidoras, como tem vindo a acontecer, disponibilizar terrenos para essas pequenas empresas, sobretudo na área das novas tecnologias e do turismo.
Setúbal não precisa de mais parques industriais nem de ser vista como uma cidade altamente industrializada. À beirinha de Setúbal temos terrenos em abundância para as grandes indústrias, nomeadamente no concelho de Palmela. Setúbal tem de se virar notoriamente para o turismo e não estou a ver como é que a cidade irá compatibilizar o enorme potencial turístico que tem com mais indústrias pesadas. Até já é difícil compatibilizar com o que existe. E isso acontece porque não há diálogo. De acordo com as directivas comunitárias, até 1999 todas as indústrias tinham que estar compatíveis com os padrões ambientais da União Europeia. E para o caso das que já cá estão, têm até 2007 para o fazer. O que farei como presidente da Câmara é tentar antecipar este prazo porque o que tem faltado nesta presidência é a falta de diálogo. O presidente da Câmara deve reunir com esses investidores e, em conjunto, consertar acções que minimizem os efeitos dessas actividades quer para a atmosfera quer para o rio Sado. Não havendo este diálogo, é claro que estas indústrias estão sempre à espera do último minuto para cumprirem os requisitos ambientais. E é isso que tem vindo a acontecer.
Um presidente da Câmara activo deve ser um coordenador destas indústrias e das várias entidades como é o caso da administração portuária e do Parque Natural da Arrábida. Mas não, eles são do mesmo partido e vivem de costas voltadas. Esta falta de coordenação é uma das principais críticas que faço ao presidente Mata Cáceres.
SR – Com o quadro de orientação que traçou, o desenvolvimento de Setúbal passa também pelos milhares de fogos previstos no projecto de urbanização Nova Setúbal?
DM – Não passa, de todo. Uma coisa é eu concordar com um plano de desenvolvimento para aquela área da cidade e outra coisa é estar de acordo com a Nova Setúbal. Antes de construir novas habitações, acho que os empresários da construção civil devem ser motivados para a reabilitação dos prédios antigos de Setúbal, nomeadamente no bairro de Tróino, a zona comercial da baixa e as Fontaínhas. Existem imensas casas vazias e o actual presidente da Câmara argumenta que nada pode impedir as pessoas de quererem ir para novas urbanizações onde as casas são melhores. Isso é verdade, mas se for criado um sistema de incentivos aos jovens acabados de casar e que não têm possibilidade de adquirir uma casa por 20 ou 30 mil contos, eles vão ter possibilidade de adquirir ou arrendar essas casas antigas completamente reabilitadas. Isto é bom porque dá para resolver alguns problemas de habitação e, por outro lado, vai dar vida às zonas da cidade que estão quase desertas de habitantes.
São coisas que a Câmara pode fazer e que eu me proponho desenvolver. Até porque hoje existem meios que permitem à Câmara ter uma intervenção directa no sentido de ultrapassar o facto dessas casas terem dono, nomeadamente através da expropriação que é sempre a forma extrema de fazer as coisas. Mais do que a expropriação, há formas de, conjuntamente com os proprietários, reabilitar esses edifícios e promover a venda ou o arrendamento a preços mais acessíveis.
Quanto à Nova Setúbal, concordei porque me pareceu que aquela zona da cidade era extremamente atractiva. Por outro lado, não gostaria de ver aquela zona com mais indústrias poluentes. Mas agora vamos ver como é que as coisas vão surgir, em definitivo. O que vi pareceu-me interessante e, sobretudo, que havia ali uma enormidade de zonas verdes que poderia ser bastante benéfico para as pessoas que para lá fossem viver. Por outro lado, preocupo-me bastante com a possibilidade de arranque dos sobreiros e fui o único vereador que levantou a questão. Não sou fundamentalista e se me disserem que, para além do parque residencial serão construídos equipamentos interessantes para a cidade, como é o caso do complexo desportivo, e que para isso têm de se abater 200 ou 300 sobreiros, então que se abatam. Mas se forem mil ou dois mil, como se diz, e nas costas da população, então sou visceralmente contra.
SR – Sendo um grande defensor das capacidades turísticas de Setúbal, acha que a cidade se desenvolveria apenas com uma grande aposta no turismo?
DM – Não me parece, como uma das grandes cidades portuguesas Setúbal não pode viver só do terciário e do turismo. Mas podem ter um papel cada vez mais relevantes no futuro. Os grandes investimentos previstos para o turismo serão em Tróia mas é Setúbal que beneficia com isso se estiver preparada para tal. Hoje, Setúbal não fideliza clientela porque a cidade está suja, degradada, tem falta de iluminação e de animação, a não ser aquela que, enquanto vereador do Turismo, tenho vindo a proporcionar à cidade. Os turistas têm um grau de exigência grande em matéria cultural e ambiental e, por isso, dizem muito obrigado mas que não voltam cá mais. Se apostarmos na reabilitação da baixa, na iluminação, na limpeza e na segurança. a cidade passará a ser extremamente atractiva e nem precisa de ter muitos hotéis. As pessoas podem passar cá o dia, gastar o seu dinheiro e ir para outros sítios dormir. É que um cliente de um dia numa cidade gasta mais do que um turista que se fixa num hotel.
Existem alguns tipos de turismo para os quais Setúbal é excelente, como o caso do turismo da Natureza. Depois há o turismo náutico e é uma coisa que praticamente não se faz em Setúbal. Existe o Clube Naval com poucos recursos e que merecia outro tipo de apoio da Câmara. O rio Sado permite navegação, vela e uma série de actividades praticamente durante todo o ano. Por isso, a cidade deve virar-se para o Sado e o expoente máximo da cidade, que é o presidente da Câmara, ter e promover esse tipo de actuação, fazendo do Naval Setubalense o clube do género mais importante do país.
E isto também tem a ver com a marina a sério de que Setúbal precisa. É uma pena que a verba do Polis não tivesse sido um pouco mais alargada para permitir fazer uma grande marina em Setúbal. Acontece que a SONAE, a promotora desta iniciativa, tem de ter alguns terrenos disponíveis para conseguir um retorno dos custos deste empreendimento, nomeadamente com equipamentos como hotéis e restaurantes. Se não houver retorno a médio ou longo prazo, ninguém vai fazer esta marina. Por outro lado, há que, através da APSS, criar condições para os barcos de recreio e, nomeadamente, para os pequenos operadores turísticos do Sado porque são estes que trazem mais valias para a cidade.
SR – Teme que a abstenção influencie os resultados eleitorais?
DM – Acho que, com a abstenção quem fica a perder é Setúbal. Se as eleições se realizassem hoje eu diria que íamos ter uma grande abstenção, mas a partir do momento em que as ideias sejam apresentadas e haja discussão pública com os outros candidatos, seguramente que as pessoas vão ver a diferença. Hoje, mais do que um partido, do que a população precisa é de uma pessoa que acredite na cidade e que trabalhe para a cidade, seja ela de que quadrante político for. Acho que posso capitalizar nas várias áreas, nomeadamente no PS, uma vez que a maioria do eleitorado está profundamente descontente com a gestão de Mata Cáceres.