[ Dia 11-09-2001 ] – Jorge Mares, candidato PS a Palmela.

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Setúbal na Rede
– Considera-se o candidato natural do PS à Câmara de Palmela?

Jorge Mares – Sempre me considerei o candidato natural do PS a estas eleições, embora tivesse criado espaços para que outros camaradas pudessem candidatar-se. Foi o que aconteceu, nomeadamente com Alberto Antunes, o presidente da Federação Distrital. Foi um processo normal num partido como o nosso, onde há pessoas com muita capacidade de conhecimento da região para poder assumir democraticamente, dentro do partido, o estatuto de candidato a candidato. O debate interno sobre os candidatos que se perfilavam foi sério e plural e o resultado foi a votação do meu nome para encabeçar a lista.

Acho que para isso muito contou a minha ligação ao concelho, através de três mandatos na Junta de Freguesia de Palmela, e uma relação grande com o movimento associativo e a população pois sou de cá e conheço bem esta realidade. Em mandatos anteriores, o PS apostou quase sempre em candidatos que não tinham uma relação com o concelho e o resultado foi negativo. Portanto, acho que escolher alguém que conhece esta realidade e que já mostrou ser capaz de resolver parte desses problemas é uma boa estratégia.

SR – Acredita que poderá ganhar a Câmara?

JM – O meu objectivo é ganhar e não tenho dúvidas de que isso vai acontecer. Trabalhamos para que o PS vença em todas as autarquias do concelho, o que aliás, vem na sequência das metas a que me propus quando me candidatei à presidência da Comissão Política Concelhia do PS de Palmela. Aliás, actualmente temos todas as condições para, pela primeira vez, levar o PS a ganhar em Palmela.

SR – O que é que o leva a crer que um eleitorado tradicionalmente do PCP vai dar a vitória ao PS?

JM – Acredito fundamentalmente no sentimento que paira no concelho, que é de descontentamento e vontade de mudança. O concelho estagnou, o projecto da maioria CDU é falhado, sem substância e parou no tempo. E é preciso capitalizar o descontentamento que atravessa o concelho para que o PS apareça como alternativa credível, com propostas e soluções sérias. Estou convicto de que isso será possível, embora admita que não seja tarefa fácil. Depende muito do Pinhal Novo, nomeadamente dos jovens cujo descontentamento precisa de uma voz que lhes fale. Há uma grande percentagem de jovens que nem sequer está recenseada e, por isso, precisamos de fazer um grande apelo nesse sentido. Através da Juventude Socialista, é possível mobilizarmos os jovens daquela freguesia para que sintam que, no PS, há gente que apoia quer os jovens quer os adultos. E começaríamos talvez pelo trabalho com a juventude, porque é com este projecto mobilizador que conseguiremos ganhar as eleições.

SR – Tendo em conta a forte expressão da CDU no concelho, um PS que é tido como sendo brando, nomeadamente na Câmara, e, pela primeira vez, a ausência de um vereador PSD na autarquia, como é que vê as outras candidaturas?

JM – Cada partido apresentou o candidato que julga ser o ideal. No PSD foi Bracinha Vieira, conheço-o enquanto membro da Assembleia Municipal e também de alguns contactos pontuais. Penso que é uma pessoa com capacidade técnica, poderá fazer um bom trabalho e, eventualmente, ter algum sucesso. O Bloco de Esquerda apresenta-se pela primeira vez, é uma candidatura normalíssima, de uma extrema esquerda que há bem pouco tempo concorreu ao parlamento e teve algum sucesso. Acho que poderá capitalizar alguns descontentes da CDU e duvido que vá buscar votos ao PS. João Pinto é um homem de bom senso, fez parte da Assembleia Municipal como independente pela CDU e saiu descontente com o PCP pois este não assumiu ser criticado e resolver uma série de questões relacionadas com a qualidade de vida das populações da Quinta do Anjo.

A candidata da CDU, Ana Teresa Vicente, é a candidata possível. É a candidata do aparelho do partido. Admiro-a e respeito-a, mas penso que o PCP perdeu a oportunidade de lançar um grande candidato em Palmela. Não conseguiram candidatar um grande homem da terra mas acho que isso é um problema do PCP e esta candidata vale o que vale. Cá estaremos para a discussão democrática e acredito que ela será feita com elevação e respeito, entre todos os candidatos.

SR – Se for eleito presidente, fará como a CDU e não distribuirá pelouros à oposição?

JM – Tenho uma concepção democrática e abrangente do poder local, pelo que vou convidar a oposição a tomar lugar na Câmara e a assumir pelouros. Entendo que quem está na Câmara não pode ser mero espectador, tem de ser parte da administração e tem de ter um pelouro para desenvolver o seu trabalho.

SRNum cenário de maioria relativa, com quem é que fará acordos?

JM – Vamos fazer acordos mas isso terá de ser visto na altura. Depende de cada um e da própria disponibilidade dos outros partidos em trabalhar connosco. É preciso não esquecer que há partidos que não querem trabalhar em determinadas conjunturas. Como homem de diálogo, quero que toda a gente trabalhe mas isso depende dos eleitos e dos seus partidos.

SR – Se não ganhar a Câmara, aceitará a função de vereador?

JM – Sou candidato a presidente e não a vereador. Foi isso que assumi perante o meu partido e perante o eleitorado. Não acredito que isso venha a acontecer, mas se ocorrer tomarei uma decisão na altura própria em nome do meu partido, das pessoas que me elegeram e dos princípios que defendemos.

SR – O que é que uma gestão PS mudaria em Palmela?

JM – Muita coisa poderá mudar neste concelho, será uma mudança a prazo. Não quero fazer demagogia nem política que coisas que jogam com a vida das pessoas, pois estamos fartos da política que se faz nos mercados e nas praças, onde se promete mundos e fundos às pessoas. Há muito trabalho a fazer neste concelho e proponho, a prazo, recuperar Palmela do atraso em que a maioria CDU o deixou. Está quase tudo por fazer ao nível das infra-estruturas. Se formos a Aires, que é uma zona de franco crescimento, uma parte não tem saneamento básico. Na Volta da Pedra é a mesma coisa e na Lagoínha não há nem saneamento básico nem arruamentos. São pequenos exemplos do que acontece neste concelho porque, se formos para a zona rural, vemos que esta está desprovida de saneamento básico e de infra-estruturas de rede viária.

Temos de dar mais qualidade de vida aos cidadãos e questões como o saneamento básico e as acessibilidades fazem parte dessa qualidade de vida. Em Palmela temos 800 km de caminhos por asfaltar. É terra batida, com pó no Verão e lama no Inverno. Dificulta a vida a toda a gente, nomeadamente aos agricultores que sentem imensas dificuldades em trabalhar e fazer o escoamento dos seus produtos. A água não chega a todo o concelho e há populações que bebem água inquinada de furos de captação. É o caso de Agualva de Cima, onde, inclusivamente, alguns desses furos estão localizados junto a pocilgas com dejectos a céu aberto quando o que lá devia existir eram estações de tratamento desses resíduos.

SR – Contudo, o concelho de Palmela tem onze estações de tratamento de águas residuais.

JM – Mas nem todas funcionam em condições. Basta ver a de Pinhal Novo, que é o grande exemplo do mau funcionamento deste tipo de equipamento. Depois há uma outra que nem sequer entrou em funcionamento. Por outro lado, no caso das suiniculturas, há que ter estações de tratamento específico com estações de tratamento apropriadas e isso não existe. É preciso repartir as responsabilidades disto entre a administração local e a administração central e o que prometo é que vamos empenhar-nos mais e cooperar mais com a administração central no sentido de resolver estes problemas. Tem havido pouco ou nenhum diálogo da Câmara com o Governo porque a autarquia não o procura nem o força. Há uma lógica neste concelho, e com a qual é preciso romper, que é o facto da Câmara ser mais parte dos problemas do que das soluções. Isto tem a ver com a filosofia da força política que gere a Câmara pois acha que há coisas que não interessa que o Governo resolva.

Às câmaras comunistas interessa pouco que a administração central resolva os problemas da população porque isso mantém o nível de descontentamento da população. É a lógica do quanto pior melhor e isso passa-se no concelho de Palmela. E isso vê-se nos fundos comunitários, pois é das câmaras que menos recorre a estes financiamentos. É preciso investir muito mais. Temos de nos candidatar a financiamentos para recuperar a zona histórica que está degradada e com o comércio a asfixiar, é preciso recuperar as áreas degradadas do concelho, investir na área do ambiente, no saneamento e nas ETAR’s.  Apostar nestas áreas é apostar na qualidade de vida, na promoção do turismo, na potenciação das nossas capacidades naturais e dos nossos valores culturais. 

Por outro lado, queremos mais equipamentos de saúde e mais médicos. Temos algumas extensões de saúde obsoletas e a Câmara tem de abordar a administração central no sentido de recuperar e renovar os equipamentos. Quando se falou na tentativa de fechar o Centro de Saúde de Palmela, fui a única pessoa que, na reunião com o director da Sub-Região de Saúde, se manifestou contra a medida. E fá-lo-ei sempre que necessário e em nome dos interesses da população do concelho.

Por outro lado, temos por prioridade a construção de novas escolas do ensino básico e pré-escolar, dando condições para o correcto desenvolvimento das crianças. É preciso um modelo de escola mais moderno e mais adequado, é preciso escolas bem distribuídas e de qualidade, de modo a que as crianças cresçam e se desenvolvam.

SR – Que modelo de desenvolvimento pretende para o concelho?

JM – Pretendemos arrumar o concelho e chamar as coisas pelos nomes. Somos um concelho com uma forte componente industrial e uma forte componente rural, virada para a vitivinicultura. Precisamos de dar condições aos investidores para que eles tenham um lugar certo neste concelho. Agora, o que acontece é que a Câmara não está a potenciar a qualidade dos locais escolhidos para a localização das indústrias e, por outro lado, está a colocar algumas unidades industriais no campo, no meio da vinha. Isso não dá sustentação a quem vem aqui montar um negócio e choca com a actividade agrícola ligada à uva e ao vinho. A Câmara deve ordenar o território de modo a evitar que isto aconteça. Trata-se de uma falta de visão estratégica que não corresponde ao que o concelho precisa. Por isso, se for eleito, quero assegurar estas questões na revisão do Plano Director Municipal (PDM).

SR – Teme um desequilíbrio entre as duas principais actividades do concelho, a indústria e a agricultura?

JM – O que temo é a proliferação de situações de conflito como as que referi do que, propriamente, com o eventual encerramento de empresas. Mas preocupam-me as questões do desemprego, por isso defendo que a Câmara tem por obrigação arranjar alternativas. E essas alternativas surgem se dermos condições de atractibilidade ao concelho e ajudarmos os investidores a fixarem aqui novas indústrias. 

SR – Concorda com investimentos previstos como o do Lucky Luke e o da plataforma logística de apoio ao porto de Setúbal?

JM – Estes projectos poderão vir a gerar desenvolvimento e riqueza no concelho. Vejo-os com algum optimismo porque acredito que serão mais valias e irão promover o desenvolvimento da economia local e regional e poderão promover a nossa componente turística. E se calhar não temos mais investimentos destes porque a Câmara retrai-se muito junto dos investidores. Temos de trabalhar em parceria e aprofundar a relação entre a autarquia e os investidores e entre a autarquia e a administração central. Aqui tenho que repartir as culpas pela Câmara e pela administração central, já que esta não tem sabido potenciar os benefícios de se sentar à mesa e negociar.

SR – Palmela é um concelho equilibrado, do ponto de vista urbanístico?

JM – Há zonas rurais cuja densidade tem a ver com a cidade, e isso tem provocado um desequilíbrio no desenvolvimento das várias zonas do concelho. O problema é que o PDM está desvirtuado e desactualizado e que, por outro lado, se tem apostado pouco nos planos de pormenor. Um dos nossos objectivos programáticos é proceder à revisão do PDM e adaptá-lo à actual realidade do concelho. E queremos que este PDM seja participado pelas populações, pois é para elas que nós trabalhamos. Actualmente, as coisas fazem-se mais de acordo com interesses privados, de tal modo que a ideia que passa para fora é que quem manda na Câmara são outros interesses que não os da população.  

SR – Tendo em conta os problemas de Pinhal Novo, nomeadamente a segurança, o que é que propõe para esta zona do concelho?

JM – Trata-se de um problema de qualidade de vida, pois se o cidadão não tiver segurança não se sente protegido e vive em constante sobressalto. E se isso acontece, não há harmonia no desenvolvimento. Entendemos que o desenvolvimento de um concelho deve ser sustentado, o que não aconteceu em Palmela que sofreu um crescimento acelerado e sem acompanhamento dos respectivos meios e equipamentos sociais, culturais, zonas de lazer e estacionamento. É preciso dar estas condições à população e, para isso, precisamos de investir. Em relação à segurança é preciso um novo quartel da GNR em Pinhal Novo e também em Quinta do Anjo e Cabanas pois estas dependem da GNR de Palmela. Depois é preciso um novo quartel em Palmela, pois o actual está obsoleto. São coisas da responsabilidade da administração central e temos de ter a capacidade de negociar e reivindicar.

Por outro lado, a segurança reforça-se também com a polícia municipal e, comigo, o concelho vai tê-la. Trata-se de uma força que exerce a sua principal actividade ao nível do trânsito e da prevenção da segurança dos cidadãos, deixando à GNR e à PSP uma maior liberdade para actuar no combate ao crime.  É uma aposta que exige investimentos da Câmara, mas temos de arranjar dinheiro para isso porque essa é a nossa obrigação. Temos de nos preparar, em termos orçamentais, para ajudar o cidadão e isso depende de uma visão e de uma estratégia do presidente da Câmara, que é quem conhece melhor a realidade do concelho.

SR – Como é que se posicionará se, caso seja eleito, for confrontado com projectos para a elevação de Pinhal Novo a concelho?

JM – Darei todo o apoio porque não faz sentido que uma terra como Pinhal Novo, com as características que tem, especialmente de identidade, não vir a ser concelho. Essa é uma ambição dos pinhalnovenses e apercebi-me disso há cinco anos, quando na Assembleia Municipal, votei favoravelmente o projecto de elevação. Mas não me ficarei por aí, pois acho que o concelho de Palmela tem condições para avançar com mais freguesias. Neste caso a de Aires, que pertence à freguesia de Palmela, pois uma zona de grande expansão e com identidade própria. Criar uma freguesia é também aproximar o poder das pessoas e poderá trazer a toda a população uma mais valia pois as pessoas poderão colaborar com o desenvolvimento. Embora ainda não tenha reflectido muito sobre outras possibilidades, penso que a zona de Venda do Alcaide, Palhota e Valdera, tem um desenvolvimento próprio e capacidades que justificam a criação de uma freguesia, que eu diria ser uma freguesia de Pinhal Novo. Quer pela sua proximidade geográfica quer pela sua identificação com aquela zona do concelho. seta-9200860