[ Dia 10-09-2001 ] – Ana Teresa Vicente, candidata CDU a Palmela.

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Setúbal na Rede
– O que é que a levou a aceitar a candidatura à Câmara de Palmela?

Ana Teresa Vicente – Esta ligação à Câmara de Palmela, com responsabilidades no poder local, tem sido muito gratificante. Quer nos primeiros quatro anos como adjunta do presidente Carlos de Sousa, quer agora como vereadora. Por outro lado, senti um estímulo muito grande por parte das pessoas da terra e, assim, entendi que podia continuar a ter um papel importante no desenvolvimento do concelho.

SR – Acredita poder vir a ganhar a Câmara?

ATV – Acredito que tenho todas as condições para ganhar a Câmara tendo em conta a experiência que adquiri e as grandes mostras que têm sido dadas, no quadro em que concorro, da importância do trabalho de continuidade da CDU em Palmela. O nosso trabalho tem-se afirmado por si próprio, independentemente deste ou daquele quadro de adversários. Há muito trabalho feito, muitas obras executadas, muitos projectos em curso, uma perspectiva de futuro e um sentimento quanto àquilo que queremos desta terra. E essa é a grande vantagem que trago e que vale por si só.

SRComo é que vê as candidaturas do PS, do PSD e do Bloco de Esquerda?

ATV – Cada um dos candidatos tem o seu mérito e é preciso realçar isso  porque referir os méritos das pessoas é importante numa altura em que o que podemos desejar é o debate aberto de ideias, o confronto de projectos e de estilos de trabalho. Tudo isto deve ser feito com elevação e dignidade e acho que as pessoas que protagonizam as candidaturas dos outros partidos estão, todas elas, a este nível. Acho que todos os candidatos estão à altura de propiciar aos eleitores um maior esclarecimento para ajudar nas suas opções e, por outro lado, trabalhar contra a abstenção que é o grande adversário de todos nós.

Não acredito que algum dos outros candidatos possa vingar na corrida à Câmara, pois a experiência que temos tido ao longo dos anos confirma-nos isso. A população tem feito uma opção pela CDU, que continua a ser perfeitamente justificada, e não encontro qualquer razão que me leve a pensar que os eleitoras possam vir a ter opções ou convicções diferentes. E a principal razão que me leva a pensar assim é a de que, quando sentimos que as nossas propostas não são acolhidas pelas pessoas vamos ouvi-las, discutir as propostas, incorporá-las e encontrar novas soluções. Quando há possibilidade das pessoas participarem, dialogarem com os autarcas e fazerem valer os seus direitos, é legítimo dizer que temos razões para continuar a pensar que estamos no caminho certo. Assim, não temo outros resultados em Palmela, para além da vitória da CDU.

SR – Como é que vê o facto da oposição dizer que a gestão da CDU está ao serviço de um partido e não da população?

ATV – É uma acusação completamente falsa e há vários indicadores que o confirmam. Se virmos bem, os números indicam que os votos que a CDU tem num quadro de eleições autárquicas nada têm a ver com os que obtém nas legislativas ou até nas presidenciais. Nas eleições autárquicas, a CDU tem tido votações que superam tudo e isto quer dizer que as pessoas não sentem que os autarcas da CDU estejam a trabalhar para o seu partido ou coligação. Pelo contrário, estamos a trabalhar para as pessoas. E temos muitos exemplos disso, desde o ordenamento do território até ao domínio cultural e da educação. Com certeza que no quadro da CDU temos opções diferentes das de outros partidos. Cada um tem as suas opções e por isso é que estamos em partidos diferentes. Mas isso não tem nada a ver com o que a oposição diz, aliás, gostaria que a oposição me desse exemplos práticos de qualquer coisa que os autarcas da CDU fazem contra as populações. 

SR – A figura que tem por trás, a do autarca Carlos de Sousa, de alguma forma poderá influenciar os resultados eleitorais que poderá obter?

ATV – Para além da estima e consideração pessoal que lhe tenho, Carlos de Sousa é, de facto, um grande autarca e tem um grande trabalho feito. E seria sempre um grande autarca em qualquer município. Ou seja, Carlos de Sousa tem condições para ser esse grande autarca noutro sítio e dar o exemplo que deu em Palmela. Acredito que o vai ser na Câmara de Setúbal como o foi há uns anos atrás na Câmara de Almada. Como é óbvio e inevitável, ‘bebo’ muita da minha experiência através de Carlos de Sousa e da sua acção. Por isso, acho que o trabalho que ele fez em Palmela é para ter continuidade. E isso é sentido entre a população porque recebemos reacções de pena pelo facto de ele sair de Palmela. Para além da estima pessoal que a população lhe dedica, estamos a falar de um projecto com os quais as pessoas se identificam e não querem ver abandonado. Essa continuidade indispensável, é, neste momento, uma mais valia. Não me considero penalizada por ela. Antes pelo contrário.  

SRNum concelho como o de Palmela não teme ser penalizada pelo eleitorado pelo facto de ser mulher?

ATV –  Acho que não, porque nunca achei que o sexo fosse sinónimo de competência ou de incompetência. O concelho verá nos seus candidatos um conjunto de valores e de atributos que considerará úteis para o bem da população e da própria terra. Não sendo uma condição fazer melhor isto ou aquilo por ser mulher, acho que, se de algum modo puder contribuir com a minha experiência para uma maior participação das mulheres deste concelho, fico muito contente. Acho que é o que vai acontecer e o que pode ser ressaltado de uma candidatura feminina.

SRSe vencer as eleições com maioria relativa, como é que irá gerir o relacionamento com a oposição?

ATV – Embora, do ponto de vista formal, seja diferente trabalhar em maioria absoluta e em maioria relativa, acho que do ponto de vista prático não deve ser muito diferente e que todos ganhamos com a participação das pessoas e das respectivas forças políticas. Temos essa experiência na Câmara de Palmela e não me parece que seja diferente numa maioria relativa. É claro que, num quadro de uma força política votada maioritariamente, vou querer afirmar os projectos e as convicções que defendo. E será tanto mais vantajoso quanto mais conseguirmos concretizar esses projectos. Mas tenho também a certeza de que esses projectos sairão enriquecidos se contarem com a discussão, a colaboração e as sugestões da oposição.

SRNum quadro de vitória da CDU, se o Bloco de Esquerda eleger um vereador, será a primeira vez que a coligação terá uma oposição à esquerda, na Câmara. Como é que vê esta possibilidade?

ATV – Trabalhar com outras forças políticas é sempre positivo. As nossas relações com o BE não serão diferentes das que temos tido com os outros partidos. Ou seja, haverá matérias em que nos aproximamos e outras em que nos distanciamos. Vamos ver como é que o BE se posiciona porque, neste momento, conheço o que toda a gente conhece tendo em conta que não há tradição da sua participação nas câmaras. Vamos ver qual vai ser o seu comportamento em cada uma das matérias importantes para o concelho.

SRNão seria de esperar uma forte oposição à CDU, por parte de um vereador do BE como João Pinto, tendo em conta que foi deputado municipal independente por esta coligação e bateu com a porta por discordar da forma de trabalho?

ATV – Será mais ou menos complicado em função da atitude que as pessoas tomem. No caso de João Pinto, ele fez uma outra opção política que não o desconsidera em nada enquanto pessoa e é nessa condição que, naturalmente, tenciono trabalhar com ele na Câmara Municipal se o BE chegar a ter assento. É uma pessoa que conhecemos e o conhecimento facilita o relacionamento entre as pessoas. Não me parece que venha a ser um factor perturbador da vida democrática em Palmela.

SRSe não vencer as eleições, aceitará a função de vereadora?

ATV – Esse é um cenário do qual tenho dificuldade em falar porque não o imagino, mas se acontecer é obvio que aceitarei e trabalharei para fazer ver que as minhas convicções e projectos fazem todo o sentido.

SRJá assumiu que a sua aposta é numa política de continuidade do trabalho de Carlos de Sousa. Nesta linha de continuidade, o que é que poderá mudar?

ATV – No essencial é uma política que deve ser continuada, mas há aspectos que devem ser aprofundados. Há matérias relativamente às quais o trabalho que desenvolvemos não foi suficiente e, por isso, devem ser aprofundadas. E noutros casos, há áreas em que temos de melhorar. Se eu falar das nossas opções em matéria cultural, tenho a certeza absoluta que aí o nosso trabalho vai ser de continuidade. Palmela deu um enorme salto qualitativo nesta área e temos um trabalho que é reconhecido pelas colectividades, pelos cidadãos, pelos nossos parceiros e pelas pessoas que nos visitam. É uma política que assenta na ideia de que a cultura deve ser desenvolvida numa óptica semelhante à da educação. Isto é, quando fazemos cultura estamos a contribuir para o desenvolvimento das pessoas. Por isso estou completamente em desacordo com as acusações que temos feito uma política de palco. Não há nada de mais injusto porque todo o investimento feito na cultura em Palmela é feito por processos que envolvem as pessoas do princípio ao fim, são pensados colectivamente e têm a preocupação de envolver as crianças e as diferentes camadas da população, numa perspectiva pedagógica através de um conceito de cultura ao serviço das pessoas.

Em matéria de educação temos de falar de aprofundamento, até porque recentemente as câmaras foram responsabilizadas por outras áreas deste sector, nomeadamente o pré-escolar. Esta é uma das áreas em que vamos investir mais e para a qual vamos ter um novo olhar. Vamos apostar no ensino pré-escolar porque se há que criar espaços onde as crianças sejam integradas desde cedo. Temos de ter cada vez mais instituições que garantam, com qualidade, o acompanhamento das crianças a partir dos quatro meses e que as mantenham integradas depois, no ensino oficial. E esta é uma área nova, uma vez que o pré-escolar foi recentemente atribuído às câmaras. Em matéria de educação fomos muito para além das nossas responsabilidades. Por exemplo, no nosso concelho todas as crianças tiveram transporte gratuito. E em situações em que não houve outro recurso, a Câmara chegou a pagar sistematicamente um taxi para garantir a deslocação de uma ou duas crianças de pontos longínquos.

Uma outra área em que temos feito bom trabalho mas em que acho que devemos continuar a apostar é a do serviço público, pois temos que prestar um serviço cada vez melhor ao cidadão. Foi feita uma reestruturação orgânica muito importante mas ainda não está completamente conseguida, pelo que temos de melhorar de forma a que os munícipes encontrem na Câmara e nos nossos serviços condições cada vez mais humanas e eficazes. 

SRQuestões como a do saneamento básico e do abastecimento de água continuam a ser preocupação para as populações. Que propostas tem para estas áreas?

ATV – Fizemos uma opção muito forte no saneamento básico pois o concelho tem 11 estações de tratamento de águas residuais. Há concelhos à nossa volta que, com muito mais população, tem menos de metade das ETAR’s. Há outros que têm uma e até quem não tenha nenhuma, como é o caso de Setúbal. Mas também em termos de infra-estruturas, eu falo de uma área em que temos de melhorar. Nas opções que a CDU tem vindo a fazer ao longo dos anos ficaram presentes áreas em que hoje somos muito bons e outras, como o desporto e a cultura, e houve áreas que não conseguiram acompanhar o ritmo de desenvolvimento do concelho, como por exemplo as acessibilidades. Palmela é muito marcado pela sua localização estratégica, pois estamos no centro da península de Setúbal, no centro da Área Metropolitana de Lisboa e no centro das acessibilidades estratégicas para todo o país e para o estrangeiro.

Isto é um benefício mas também tem os seus custos pois somos atravessados por auto-estradas e ligados por pontes, recebendo um tráfego que não tem só a ver connosco mas também com as nossas relações com o mundo. Não conseguimos que a nossa rede viária acompanhasse estas exigências, por isso, em termos de infra-estruturas, esse vai ser o nosso investimento estratégico. Por um lado, ao nível do esforço do município e, por outro, ao nível da reivindicação que tem de ser feita junto da administração central pois temos de ter estradas nacionais que antes têm de passar antes por variantes. Temos projectos exigidos à administração central que ainda não foram considerados, como é o caso da variante à nacional 252.

SRPartilha da ideia de que Palmela é visto como um concelho de assimetrias e a freguesia de Pinhal Novo apontada como exemplo de crescimento desordenado?

ATV – Se quiser fazer uma análise profunda sobre a centralidade do concelho, direi que Pinhal Novo é o centro do centro. Cada zona tem a sua vocação natural e o concelho tem alguma diversidade. Não entendo que tenhamos de colmatar essa diversidade com uma linha contínua, ou seja, não temos de homogeneizar. Ao nível da qualidade de vida, da proximidade de algumas infra-estruturas e da garantia de alguns serviços, é claro que é preciso criar condições para que as pessoas se sintam melhor. Mas isso é o que temos  feito e dizemos quando, por exemplo, construímos o Centro Cultural no Poceirão. Mas acho que não devemos procurar que Poceirão e Pinhal Novo sejam iguais. A primeira é uma freguesia rural e a segunda é urbana. Devemos trabalhar em prol de uma qualidade de vida cada vez maior no Pinhal Novo, com as suas características urbanas, e numa qualidade de vida no Poceirão tendo em conta as suas características rurais. É esta diversidade que nos dá a riqueza global.

SRO crescimento de Pinhal Novo ocorreu por força da centralidade que se previa com as novas acessibilidades. Este novo dado não foi acautelado?

ATV – De acordo com o último censos, houve concelhos há nossa volta que cresceram muito mais do que Palmela. Crescemos de uma forma equilibrada, e ainda que de forma diferente, cresceu em torno de três freguesias: Palmela, Quinta do Anjo e Pinhal Novo. Isto contraria a ideia de que estamos a criar uma central de betão em Pinhal Novo e a deixar as outras zonas ao abandono. As condições que fomos propiciando ao concelho, e até com condições especiais para freguesias onde a procura de habitação não estava a ser tão forte, como foi o caso de Marateca, permitiram maior equilíbrio. No Pinhal Novo cumprimos à risca o conceito de não querermos torres e é o que se passa em todo o concelho, onde, no máximo, podemos ter terceiros andares. Às vezes, esta opção não é lida em todas as suas consequências. Ela tem a ver com a importância das relações entre as pessoas, até como forma de prevenir fenómenos de agressividade, marginalidade e crime que, em última análise, são muito mais frequentes nos grandes espaços onde as pessoas não se conhecem. Os dados que temos para Pinhal Novo e para o concelho indicam que há um crescimento do furto e não de outros crimes. Não tenho dúvidas de que Pinhal Novo vai ser uma cidade, mas uma cidade de pequenas dimensões.

SRAcha que Pinhal Novo poderá vir a ser concelho?

ATV – Poderá vir a ser concelho e isso passará, quer pela vontade das pessoas quer pela criação de condições para que possa vir a ser realidade. Aquilo que estamos a fazer, e sem ter a preocupação se vai, ou não, ser concelho, é criar as melhores condições possíveis para uma população que é o maior aglomerado urbano de Palmela.

SRSe for eleita, como é que se posicionará se for confrontada com projectos para a elevação de Pinhal Novo a concelho?

ATV – Serei sempre pelas pessoas. Aliás, acho que o concelho de Palmela deve ser repensado em termos de ordenamento administrativo. Faz todo o sentido ter mais freguesias. Temos cinco freguesias com realidades diferentes entre si e quando se fala em novas freguesias fala-se, não só de questões identitárias ou culturais como também de eficácia administrativa. Acho que há zonas do concelho onde se pode pensar em constituir freguesias, como por exemplo Aires, Palhota e Venda do Alcaide e Cabanas. Não quero dizer que as defendo mas acho que estas zonas podem admitir a criação de novas freguesias. 

SRTendo Palmela uma forte vocação rural e uma outra realidade industrial, que modelo de desenvolvimento pretende para o concelho?

ATV – O concelho tem de caminhar para a manutenção do equilíbrio entre essas duas componentes. Foi das regiões que mais cresceu em termos económicos, foi a região do país em que a quantidade de vinho produzido mais aumentou, foram criados vários rótulos e ganhámos vários prémios nacionais e internacionais. Os nossos produtos, como o queijo, o pão, o vinho e a maçã riscadinha, são cada vez mais reconhecidos. Portanto, o conceito de desenvolvimento deste concelho assenta exactamente na evolução, a par e passo, das duas áreas. Por um lado, uma indústria cada vez mais forte e diversificada, e por outro uma actividade agrícola forte e com qualidade. Ainda em relação à indústria, para além da fileira automóvel que hoje tem uma grande expressão no concelho, temos cada vez mais outras indústrias que aqui se instalam com tecnologias de ponta, como é o caso dos têxteis e confecções e da indústria alimentar.

Temos de ampliar as infra-estruturas em volta dos parques industriais, de modo a tornar as condições mais atractivas para os investidores.

Por outro lado, há projectos que devem ser tidos em conta como é o caso do parque temático Lucky Luke, que não se sabe como está porque o caso anda a arrastar-se no Governo, porque são projectos estruturantes para o concelho e para a região. É também o caso da plataforma de apoio ao porto de Setúbal que, para além de criar riqueza para a região e diversificar a actividade económica do concelho, irá permitir uma outra relação entre os concelhos de Palmela e de Setúbal e quem beneficia com isso são as populações. seta-5691539