Autárquicas 2001 Corrida a Alcochete: CDU e PS com prioridades diferentes
O recandidato da CDU, Miguel Boieiro, e o candidato socialista, José Inocêncio, à presidência da Câmara de Alcochete, consideram importante a participação das populações e dos agentes de desenvolvimento nas estratégias a delinear para o futuro. Contudo sustentam visões e ideias diferentes, quer da realidade actual quer sobre o caminho a tomar. No debate promovido hoje pelo “Setúbal na Rede”, no auditório da Junta de Freguesia de Alcochete, faltou o candidato do PSD/PP, Carlos Roque, que, por imperativos profissionais esteve impossibilitado de participar.
O desenvolvimento sustentado de Alcochete, tendo em conta os desafios colocados ao longo dos últimos três anos pela ponte Vasco da Gama, foi a pedra de toque do aceso debate entre os dois candidatos. Para o cabeça de lista do PS, José Inocêncio, “foram cometidos alguns erros estratégicos” na gestão CDU e, se o concelho quer crescer de forma equilibrada, “é preciso admiti-los e encontrar soluções”. Entre as situações que promete corrigir, se for eleito, refere “a necessidade de alterações no Plano Director Municipal” (PDM), de maneira a evitar “interpretações abusivas” deste instrumento de trabalho, nomeadamente no que diz respeito “ao número de pisos” nas novas urbanizações. Segundo afirma, determinando o PDM a construção de zero a quatro pisos, “tem sido norma os quatro pisos”.
Por outro lado acusa “falta de planeamento” na administração do solo e dá como exemplo o caso dos 125 fogos aprovados para a Praia dos Moinhos que diz ser “impensável, numa zona ribeirinha e em cima do areal”. Quanto ao crescimento urbanístico, diz que a construção de novas urbanizações “não tem sido acompanhada com as devidas infra-estruturas e equipamentos”, quer ao nível social quer no que diz respeito à protecção do ambiente. Neste aspecto sublinha a desadequação da estação de tratamento de águas residuais (ETAR) que serve cerca de oito mil habitantes da zona urbana de Alcochete.
Embora admita que muito continua por fazer, o candidato da CDU, Miguel Boieiro, na presidência da autarquia há cerca de 19 anos, não ‘pinta’ um quadro igual ao de José Inocêncio, relativamente à realidade de Alcochete. E refere que a ETAR, feita em 1983, é de tratamento primário, mas resolve os problemas da população a que se destina. Apesar de considerar falsas as acusações de poluição do estuário, por via da ETAR, Miguel Boieiro considera importante a sua adequação às novas exigências europeias e, por isso, quer a estação com tratamento terciário. Razão pela qual já apresentou um projecto ao Governo, contudo, adianta, o processo tem andado arrastado pelo Ministério do Ambiente.
Quanto às criticas relativamente à implementação de urbanizações e equipamentos em locais inadequados e sem as devidas infra-estruturas, Boieiro garante que tal não acontece nem acontecerá. Por outro lado, explica que a urbanização da Praia dos Moinhos “não está num areal” mas sim numa zona “que estava degradada e ao abandono”. O que aconteceu foi a negociação com os promotores “e conseguir para a Câmara uma parte substancial do terreno para aí instalar uma zona de lazer”.
Crente de que o concelho caminha para o equilíbrio, Miguel Boieiro quer apostar num desenvolvimento “diversificado” ao nível das actividades económicas, pelo que defende a necessidade do PDM “contemplar áreas para indústrias e serviços”. Mas avisa da importância da captação de indústrias não poluentes e da promoção das actividades ligadas ao turismo ambiental e cultural. A necessidade de revitalizar o tecido económico é uma das prioridades da candidatura do PS, avança José Inocêncio que tem já ideias no sentido de “criar mais condições” de atractibilidade do concelho, nomeadamente ao nível da criação de parques industriais “com condições”.
Uma medida que, na sua perspectiva, promoveria “a criação de mais postos de trabalho para fixar os jovens ao concelho”. Mas, sabendo que para fixar a juventude de Alcochete “é também preciso dar-lhe condições para adquirir habitação”, Inocêncio quer estabelecer parcerias que poderiam passar pelos promotores urbanísticos e pelo próprio Estado, “no sentido de promover a construção de habitações a custos controlados”.
Para este responsável, e tendo em conta os preços praticados para as novas urbanizações no concelho, esta será a única forma de fixar os alcochetanos à terra. Mas vai avisando que tal investimento tem de ser acompanhado de estruturas sociais e de educação, como é o caso “do apoio aos pais, dando condições às crianças para usufruírem de ensino pré-primário”, bem como o acompanhamento dos idosos. Tudo isto considera possível através de parcerias, nomeadamente com entidades privadas.
A ideia, segundo afirma, é “aproveitar as sinergias” criadas pela expansão urbana e levar os promotores a contribuírem para a criação destes equipamentos. Tudo para que “Alcochete não venha a tornar-se um concelho sem vida e mais um dormitório” de Lisboa. Apesar de admitir a necessidade de continuar a apostar nestas áreas, Miguel Boieiro garante que a ideia lançada, de crescimento desequilibrado “é uma falsa questão”, pois adianta que “este foi um dos concelhos que menos cresceu” nos últimos anos, contrariando assim as previsões feitas para o período pós ponte Vasco da Gama. E recorda que Alcochete tem, actualmente, 12.800 habitantes.
Com uma assistência mais interessada em interpelar os candidatos sobre questões políticas e partidárias, do que questioná-los sobre os projectos que apresentam, os dois cabeças de lista fizeram questão de avançar com as propostas de cada uma das candidaturas para o futuro do concelho, um futuro que consideram necessitar do contributo activo, quer dos eleitos quer das populações e dos agentes económicos e sociais.