[ Dia 26-09-2001 ] – Carlos Fradique, candidato PSD ao Montijo.

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Setúbal na Rede – O que é que o levou a candidatar-se à Câmara?

Carlos Fradique – O facto de defender um conceito de cidade e de concelho completamente diferente daquele que o PS tem levado a efeito nos últimos quatro anos. Entendemos que a gestão do Montijo está a ir pelo mau caminho e temos projectos alternativos que queremos apresentar à população.

SR – Porque é que o PP concorre sozinho no Montijo, quando em muitos outros concelhos está em coligação ou integrado nas listas do PSD?

CF – É uma opção do PP. Antes da definição do nosso candidato, fizemos um convite formal ao PSD porque sentimos que poderiam estar reunidas as condições para podermos trabalhar em conjunto. Mas eles entenderam que queriam apresentar o seu candidato e não temos nada contra. É verdade que gostaríamos que o PP estivesse connosco nestas eleições mas também não é por isso que ficamos menos ricos. Até porque a expressão que aquele partido tem no Montijo não é de maneira a deixar-nos preocupados.

SR – Tendo em conta a expressão que o PSD tem no concelho, quais são as expectativas para estas eleições?

CF – O caso do Montijo foi especial, nas eleições de há quatro anos. Nessa altura houve um processo interno complicado que resultou na perda de cerca de 2.900 votos. Estes votos sempre foram do PSD mas, face aos problemas internos com que o partido se debatia, as pessoas fizeram uma opção e entenderam que a alternativa era o PS. Actualmente os problemas do PSD estão completamente sanados, temos nova direcção concelhia e entendemos que há condições para recuperar os votos que perdemos há quatro anos.

Temos por objectivo ganhar a Câmara e, face ao actual estado de coisas, no concelho, há a perspectiva real de termos essa vitória. Reconhecemos que dificilmente ocorrerão maiorias absolutas e temos pena porque seria interessante pôr o nosso projecto em prática com maioria absoluta.

SR – Se vencer as eleições, dará pelouros à oposição?

CF – Entendemos que quem ganha deve governar e vamos pôr à consideração a ideia de não dar pelouros. Não significa isto que não possamos ter um relacionamento com os partidos políticos e com os vereadores da oposição. Até porque, para a oposição, ter pelouros é uma situação complicada. Qual é o programa que vão aplicar: o de quem ganhou ou o seu próprio programa? Naturalmente que, não ganhando com maiorias absolutas, há que negociar. Este é um exemplo do que não acontece no Montijo porque a gestão PS nunca mostrou capacidade negocial.

Ou seja, o PS não tem qualquer possibilidade de governar com uma maioria relativa. Têm tido uma postura arrogante, do quero posso e mando, e chegamos o ponto de não sabermos bem quem é que manda na Câmara. O problema põe-se ao nível do líder da concelhia socialista porque, efectivamente, ele é que põe e dispõe e há situações que não são muito claras. Naturalmente que temos que criticar e é importante falar-se disto para as pessoas saberem quem é que estão a eleger: a pessoa que manda ou a pessoa que não manda. Mas não é isto o que nos preocupa mais.

Para além disso estamos convencidos de que, do ponto de vista político, a candidatura de Maria Amélia Antunes é um logro. Aliás, penso que já o foi com a sua candidatura para deputada. Sou contra este tipo de coisas porque se se quer ser presidente de Câmara, não se pode, a meio do mandato, candidatar-se a deputada. Afinal quer ser presidente de Câmara ou quer ser deputada? Estou convencido, e todos os indicadores apontam nesse sentido, de que, a ser eleita, este mandato não é para ir até ao fim porque, a partir das próximas eleições,  o PS vai ter de fazer uma opção. Na altura de optar, estou plenamente convencido que Amélia Antunes vai escolher ser deputada porque é aquilo de que gosta. O que nos consta, e apesar deles negarem isso, é que há uma guerra surda para o segundo lugar na lista do PS à Câmara.

SR – Se o PSD não ganhar a Câmara, aceitará ser vereador?

CF – É uma matéria que terá de ser analisada posteriormente, mas penso que sim. Neste momento não vejo porque não possa ser assim.

SR – Como é que vê a diversidade de candidaturas que se apresentam este ano?

CF – Seguramente, todas elas devem ter um projecto para o concelho e isso é positivo. Aliás, os programas não devem ser muito diferentes uns dos outros, pois todos temos por objectivo principal dar melhores condições de vida à população. As pessoas têm toda a legitimidade para se candidatarem, mas naturalmente que algumas candidaturas terão mais expressão que outras.

SR – Tendo o concelho de Montijo sido governado pela CDU até à eleição de Maria Amélia Antunes, há razões para recear a coligação nestas eleições?

CF – Não receio a CDU. Temos o nosso objectivo e o nosso peso político e vamos apresentar ideias concretas para o concelho, dentro de uma perspectiva completamente diferente da que tem sido seguida. A coligação está em declínio natural por força da evolução da própria sociedade e acho que não está forte no concelho. Por outro lado, e sem desprimor para o candidato, em termos de grupo político não me parece que seja o mais forte para o objectivo da CDU que, segundo me parece, é voltar a ganhar.  

SR – Do seu ponto de vista, o que é que falhou na gestão PS?

CF – Falhou a atitude, ou seja, a forma como as pessoas se comportam perante a função que estão a exercer. São pessoas arrogantes e donos da verdade, pelo que isso tem-se reflectido na gestão do concelho e, nomeadamente, nas opções que tomam. E algumas dessas opções são tão agressivas para o concelho, que a população manifesta-se frontalmente contra e revolta-se. Temos o exemplo da Praça da República, cuja opção de recuperação é contrária à vontade de grande parte da população. Começaram por arrancar árvores, o que não tem sentido, e vão fazer uma alteração de tal modo que vai modificar quase radicalmente o tráfego na cidade.

Depois foi a transferência do cais dos Vapores para o Seixalinho que, a nosso ver, é tecnicamente um erro de palmatória. E sob o ponto de vista do serviço à população é um erro gravíssimo. As pessoas estão de tal maneira contra que houve abaixo assinados e um pedido de referendo local. Qual foi a resposta da presidente? Chamou atrasados mentais aos cidadãos que protestaram. Não é que o PS não tenha feito trabalho, no Montijo. Isso não está em causa. O que está em causa é o que não fez de bem. Por exemplo, induziu um crescimento urbano à cidade que nunca devia ter sido feito neste espaço de tempo. Actualmente, em termos de espaços de urbanizações e de compromissos assumidos, temos entre doze a quinze mil fogos. E isto sem contar com o que se prevê para a zona a norte da circular que, neste momento, está a ser fruto de um plano de pormenor.    

E as infra-estruturas para isto? Neste momento, a cidade está a crescer com grandes massas de urbanizações novas e o Montijo, em si, está a ficar velho e degradado. Não há apetência pela recuperação urbana e verifica-se uma desertificação da zona central da cidade. Tomaram-se opções que tornou o trânsito caótico, fez-se uma grande aposta na execução de uma estrada que já estava prevista no Plano Director Municipal e chamou-se àquilo a alternativa a José Joaquim Marques. Na realidade, nunca pode ser alternativa porque está muito afastada e depois porque deve ser uma via para sair do Montijo e para dar apoio à recuperação da zona ribeirinha, pelo que não pode ter assim tanto tráfego.

Por outro lado, não foram dados os apoios convenientes a infra-estruturas desportivas e às associações nas freguesias rurais do concelho. Foi feito algum investimento no abastecimento de água mas não na rede de esgotos. E é um autêntico atentado o que se passa em Pegões, pois a própria Câmara faz a recolha dos esgotos das fossas e a seguir vai despejá-los numa ribeira. E já se podia ter feito um investimento em pequenas estações de tratamento. Passaram quatro anos e a ETAR do Montijo não está em funcionamento. Isto quando se diz que o ambiente é importante e se faz uma Casa do Ambiente. Para mim é tudo fantasia porque a prioridade é tratar efectivamente do ambiente. É preferível ir às escolas explicar o que se deve fazer em termos ambientais do que estar a gastar milhares de contos na Casa do Ambiente.  

Acho que devemos preocupar-nos com o que podemos fazer. Eu também gostaria muito de ter um parque desportivo para amanhã mas é preciso saber o que se pode fazer. Não é aparecer um grande projecto para depois não se fazer. Isto é política para encher o olho. O Cine-Teatro Joaquim de Almeida é a mesma coisa. Esta gestão ainda me vai explicar como é que o anterior executivo (CDU) dizia que o cinema custava 300 mil contos e o actual executivo o comprou por 200 mil. Estamos a falar de um terço do valor, pelo que isto não é negócio possível.

Entretanto, a recuperação exterior das fachadas esteve meses parada. A Câmara diz que vai estar pronta em breve mas o que acho é que se estiver é a tempo da eleições. Por outro lado, a execução do interior e a sua recuperação vai levar muito dinheiro. 

SR – Como é que se resolve os problemas de poluição provocados pelos efluentes das suiniculturas?

CF – A actividade ainda tem algum peso no concelho. Algumas estão no perímetro urbano mas boa parte está a deslocar-se para o interior. A médio prazo, os produtores vão ter de se deslocar e modernizar o sistema – nomeadamente com estações de tratamento – e eles têm consciência disso. Mas sentem grandes dificuldades porque, do ponto de vista financeiro, ainda não há apoios para isso. Neste aspecto, tem havido diálogo entra a Câmara e os produtores mas o problema é que existem limitações por falta de apoios oficiais.

SR – Quais são as propostas do PSD?

CF – É mais urgente executar alguns planos de pormenor e de urbanização do que propriamente a revisão global do PDM. É necessária uma mudança infra-estrutural do concelho e, nesse sentido temos alguns projectos, nomeadamente o da criação de uma empresa de transportes colectivos. O PS pode dizer que tem uma proposta nesse sentido mas ela é minha. Apresentei-a há dois anos e foi criticada por acharem que não tinha viabilidade económica. Quando disse que temos de criar parques de estacionamento na periferia e no centro da cidade, também ouvi críticas da boca do presidente da Concelhia do PS e depois apresentaram uma proposta para parques de estacionamento.

O caricato é que era um parque para 40 automóveis. Isto é brincar com a minha inteligência e com a inteligência de todos os cidadãos porque isto não é viável.

Eles não têm noção das coisas e depois vão atrás das minhas ideias. Mas não estou preocupado com isso porque, seja eu ou outros a fazer, o que interessa é que seja feito e bem feito. Não acredito que o PS o faça bem feito porque não tem um conceito integrado destas opções. Por exemplo, para se criar uma empresa de transportes públicos e os parques de estacionamento, não se deve transferir o cais dos Vapores para o Seixalinho. Os parques de estacionamento, por exemplo, são necessários para darem apoio ao cais dos Vapores. Até porque, se ele for para o Seixalinho, as pessoas terão grande dificuldade em deslocar-se até à cidade. E é possível desenvolver o plano de recuperação da zona ribeirinha mantendo o cais onde está.

Quanto às questões do urbanismo, pretendemos privilegiar e facilitar a recuperação da zona consolidada da cidade em detrimento de novas zonas urbanas. Não vamos apelar, como esta gestão faz, à urbanização de terrenos. Por outro lado, esta Câmara é contra os condomínio privados e nós não. Aproveitando o espaço urbano previsto em PDM, podem aparecer propostas desta natureza porque nós não temos nada contra. Um condomínio privado traz mais qualidade ao espaço urbano, as densidades são mais baixas e pode oferecer-se qualidade de vida a pessoas de classe média, coisa que, de forma isolada, só os ricos é que podem obter.

O que o Montijo está a querer é uma massificação da construção, trazendo para aqui muita gente que, depois, não tem a contrapartida do posto de trabalho na zona. E este é outro erro desta gestão. Simplesmente esqueceu-se de que há necessidade de criar postos de trabalho para que as pessoas que vêm viver para cá não tenham necessidade de se deslocarem para Lisboa. Ora, estamos a ser um dormitório da Área Metropolitana.  

SR – O que é que defende para captar investimentos?

CF – É preciso uma grande aposta na fixação de empresas e, a nosso ver, perderam-se quatro anos de um trabalho importante para que se obtenham resultados. Neste momento, o Montijo não tem espaço disponível em condições para albergar essas empresas. É preciso criar condições para terrenos urbanos passarem a ser de carácter industrial, para receber indústrias não poluentes. Temos muitos espaços com indústrias que vão sair do perímetro urbano e que não devem ser ocupadas com urbanizações. Devem sim, ser ocupados com indústrias limpas. Em Pegões existe um enorme potencial que deve ser explorado, não para mais urbanizações mas sim para a fixação de indústrias e serviços.

Mas para que estas actividades venham para cá, é necessário que a Câmara, enquanto gestora do espaço, vá junto dos potenciais investidores para fazer promoção do nosso potencial. Desgostou-me ver a grande preocupação da Câmara em fazer feiras do urbanismo, coisa que não faz falta e nem da qual os promotores precisam. Contudo, veria com muito interesse a Câmara em eventos onde estão as empresas que e as associações empresariais para lhes dizer que estamos cá e temos boas condições para o investimento.

É preciso também investir no turismo rural e ambiental, para além das actividades ligadas à nossa cultura e às nossas tradições. Neste aspecto, poderíamos perfeitamente promover a criação de pousadas. Depois há o turismo ligado à zona urbana, mas para isso não podemos ser uma grande urbe, pois temos de ter uma dimensão humana. Mas depois vem a presidente dizer que quer transformar isto numa Cascais. Não sabe o que está a dizer porque Cascais é o pior exemplo e não atrai turismo nenhum. 

SR – Ao nível dos equipamentos, do que é que o concelho precisa?

CF – Houve uma grande polémica por causa de um centro que estava previsto para o Apeadeiro de Sarilhos e que acabou por ser instalado no Afonsoeiro. É uma matéria que está ultrapassada mas os problemas continuam porque tiveram de se tirar médicos do centro do Montijo para se prestar serviço no Afonsoeiro. A Câmara também não pode interferir nesta área porque é da competência do Governo. Mas há matérias onde se pode intervir, pois há necessidade de recuperar o centro de Santo Isidro. Existe orçamento da Câmara para isso mas as obras não foram feitas porque o PS não o considerou prioritário, numa zona onde a maior parte da população é idosa e precisa de cuidados permanentes. Depois é a necessidade de um hospital distrital, pois o do Montijo não serve a população, quer pelas suas dimensões quer pela sua localização, mesmo no centro da zona urbana.

Por outro lado há que ajudar as entidades que trabalham nesta área, como é o caso da Cercima. Através da deputada do PSD, Lucília Ferra, há quatro anos conseguimos 390 mil contos para uma nova sede e até à data não há qualquer obra. A entidade solicitou o apoio da Câmara para o projecto e esta não lhe deu a devida celeridade e depois trocou o terreno. Esta gestão não mostra interesse em resolver o caso, talvez porque foi uma situação desbloqueada pelo PSD. Ou então é uma terrível coincidência.  

É também preciso garantir as infra-estruturas desportivas, pois há colectividades com instalações a cair e outras com necessidade de apoio, mas nada tem sido feito. Pretendemos reforçar o investimento nas zonas rurais porque achamos que têm sido muito maltratadas. Outra coisa que pretendemos criar, e que até já devia ter sido feito, é delegações da Câmara Municipal, nomeadamente em Pegões, para que os munícipes não careçam de percorrer 60 km para vir ao Montijo tratar de papeladas.  

Na área da educação, há que reforçar o investimento na rede de pré-escolar e na ligação das escolas à sociedade, para além de ter de se garantir transportes escolares e os apoios às crianças carenciadas. Os agrupamentos escolares precisam de mais apoios porque eles lidam de perto com os problemas de carácter social e financeiro dos adultos e que afectam as suas crianças e jovens. E eu não vejo a Câmara fazer nada disto. seta-9901912