Setúbal na Rede – Porque é que o PP concorre sozinho, e com um independente, no Montijo?
Vítor Gingeira – Iniciámos a preparação uma candidatura do PP porque, em Assembleia Concelhia, a maioria dos militantes o votou. Achámos que o partido tem expressão suficiente para pensarmos eleger pessoas para a Câmara, para a Assembleia Municipal e para as juntas de freguesia. É claro que se houvesse uma coligação a nível nacional, integraríamos essa coligação. O meu nome foi escolhido pelos militantes do partido, tal como foram aprovados os nomes que apresentei para a composição da lista e o projecto para o concelho do Montijo.
SR – Como é que vê as outras candidaturas?
VG – Penso que este leque de candidaturas é legítimo e saudável, pois permitirá que os munícipes conheçam as propostas de todos os partidos. E isso levará a que os eleitores façam uma avaliação correcta daquilo que desejam para o concelho. Até porque, nas eleições autárquicas costumam contar mais as propostas do que os partidos. É importante que a população reconheça que os executivos anteriores não cumpriram as promessas feitas ao eleitorado e que, por essa razão, aposte em projectos mais válidos e em pessoas diferentes que tentassem levar o município para uma estratégia de desenvolvimento que até agora não tem tido.
SR – O facto de ser um independente e um dos candidatos mais jovens é uma vantagem?
VG – Acredito que sim, porque são ideias e projectos novos. A minha candidatura tem duas características: ser independente e ter sido escolhido pelos militantes do PP, e o facto de já há algum tempo eu ter assumido a necessidade de se avançar com pessoas de gerações diferentes para conseguir uma melhor eficácia na gestão do concelho.
SR – Quais são as expectativas da sua candidatura, para estas eleições?
VG – Nesta fase entendemos que temos potencial para concorrer à presidência. Mas se olharmos aos números relativos a eleições anteriores, acho que temos a possibilidade de conseguir alguns vereadores.
SR – O que é que consideraria uma vitória do PP?
VG – Uma vitória, nestas eleições, seria eleger dois vereadores. E isso é perfeitamente possível, pois tenho visto um grande reconhecimento da população no nosso trabalho e nas nossas propostas, pois temos estudado e dado a conhecer as propostas alternativas para os problemas deste concelho.
SR – Para eleger vereadores, o PP tem de aumentar consideravelmente a sua votação. Acha que pode ir colher votos junto do eleitorado do PSD?
VG – Penso que temos condições para abranger um leque de votos de todos os partidos, pois as pessoas começam a entender que não devem fixar-se no voto num partido mas sim nos projectos e nas pessoas que os protagonizam. As eleições autárquicas ultrapassam a questão partidária.
SR – Quais são as linhas estratégicas do PP para o Montijo?
VG – Fomos a primeira força política a apresentar ideias e soluções para todas as áreas em que a Câmara tem competências. O desenvolvimento do concelho estagnou e é preciso revitalizá-lo. O Montijo desenvolveu-se ao nível da habitação mas as estruturas e os equipamentos não acompanharam esse crescimento. O mesmo se passa com as acessibilidades, com o ensino, a saúde e os transportes.
Para se preparar um desenvolvimento urbano, primeiro há que planear. Portanto, é preciso criar acessibilidades que sirvam as novas zonas urbanas e reforçar as acessibilidades em todo o concelho, insistir junto do Ministério da Saúde para a construção de novos centros ou extensões de saúde que sirvam as necessidades dos cidadãos, bem como para a construção de um novo hospital central pois o que existe não está responde às necessidades da população. Por outro lado, é preciso apostar na educação e investir em mais escolas, desde o pré-escolar ao ensino básico; e criar condições para a instalação de mais postos de polícia e do reforço dos efectivos.
Ao nível dos transportes, acho que devia ter sido já feito um projecto para a criação de uma rede de transportes públicos que facilitasse a mobilidade da população dentro do próprio concelho e que abrangesse também os transportes escolares. Nada disto foi feito pelo PS e o que fica desta gestão é um conjunto de promessas.
SR – O que é que a sua candidatura propõe para promover o desenvolvimento do tecido económico do concelho?
VG – É necessário criar parcerias com os agentes económicos do Montijo, e isso faz parte do nosso projecto. Não só criar espaços para a instalação de empresas do concelho como também incentivar a vinda, para o concelho, de empresas ou indústrias limpas que estejam noutros municípios. Nesta altura é fundamental promover o concelho e criar condições, de maneira a que os investidores apostem no Montijo para criar os postos de trabalho de que tanto precisamos.
Por outro lado, é preciso investir em áreas estratégicas como a do turismo. Por isso, considero que a recuperação da zona ribeirinha vai ser o instrumento chave para o desenvolvimento do Montijo. Mas também acho que pode ser feita sem a obrigatoriedade de transferir o cais dos Vapores para o Seixalinho. É uma medida da Transtejo que conta com o total apoio da Câmara e com a total discordância da população. Mas estas coisas podem ser negociadas.
Aliás, ao contrário do que tem vindo a dizer, em 1997 a Câmara prometeu complementar o cais dos Vapores com o do Seixalinho. Mas o que tem vindo a acontecer é a defesa da transferência do cais, dizendo que se ele não for transferido a zona ribeirinha não poderá ser recuperada. Se o executivo camarários tivesse tido uma visão estratégica do concelho, teria visto que a necessidade de manutenção do cais nos Vapores leva à criação de mais estacionamentos. Portanto, é preciso fazer estacionamentos no lado esquerdo do cais, numa zona que até já está a ser utilizada para esse fim, e complementar o sistema com transportes municipais.
SR – O turismo é uma prioridade no concelho?
VG – É uma mais valia para a economia do Montijo, razão pela qual temos propostas no sentido de desenvolver este potencial. Para já, é essencial é a criação de um plano estratégico para que fique definido o que é que os montijenses querem para o concelho. Se queremos uma terra virada para o turismo, temos de pensar nas condições que oferecemos e no que poderemos fazer para as melhorar. Tenho ouvido várias propostas de outras candidaturas mas não as tenho visto apresentar um plano estratégico onde todas as componentes do desenvolvimento estejam integradas. Uma das promessas da actual gestão foi a da construção de uma pousada da juventude, mas acabou por ser mais uma das muitas promessas que não foram cumpridas.
SR – Como é que resolveria os problemas ambientais?
VG – Bastaria construir e pôr em funcionamento a ETAR do Seixalinho. Mas o equipamento está a ser construído há dez anos, desde o executivo da CDU, o PS diz que agora é que vai ser mas nada se vê de concreto. E corremos o risco de, quando a ETAR entrar em funcionamento, verificarmos que está desadequada às necessidades do concelho. Por outro lado, acho que o executivo deve promover o diálogo com os suinicultures no sentido de se saber o que é que a autarquia pode fazer para ajudar ao nível da criação de condições para a construção de estações de tratamento dos efluentes dessas explorações. Temos boas capacidades turísticas, quer ao nível rural quer ao nível urbano.
Aliás, é preciso equilibrar o desenvolvimento do Montijo pois ele é diferente entre a zona urbana e a área rural, sendo que esta representa a maior parte do território do concelho. As zonas rurais precisam de investimento, de acessibilidades, de equipamentos de saúde e de escolas, de modo a que não corra o risco de perder qualidade de vida. Depois, há que apostar na cultura cujas capacidades não têm sido potenciadas. O actual executivo prometeu comprar e recuperar o Cine-Teatro Joaquim de Almeida, mas até agora as obras continuam por fazer e o espaço está fechado. Ou seja, o concelho não tem condições para promover a cultura e a arte.
Ainda na área da cultura, há que fazer um esforço e apoiar as colectividades e associações para que estas possam desenvolver a sua actividade. Não só apoiar financeiramente, como criar condições para que as pessoas que estão à frente dessas instituições possam ter garantias de desenvolvimento das suas actividades.
Este apoio e diálogo com as entidades e as pessoas deve ser estendido a todo o concelho e a outras áreas, no sentido de melhorar a vida do concelho. É o caso do comércio tradicional que, para além de não se sentir apoiado, agora sente-se bastante prejudicado com as obras em curso na Praça da República. A Câmara tem de promover o diálogo com os comerciantes e, em conjunto, criar um plano de desenvolvimento do pequeno comércio. Não só para manter os postos de trabalho como para garantir a actividade plena desta actividade comercial da zona histórica. Há medidas concretas que podem ajudar este sector, como é o caso dos cartões de desconto para os mais idosos e para os clientes mais assíduos.
Há a consciência de que é necessário actuar com urgência nesta área, sob pena do comércio decair e acelerar a desertificação do centro da cidade. Contudo, a actual gestão não toma qualquer medida. Há falta de diálogo e a ideia que se tem é de que a Câmara entrou em ruptura com os munícipes. Por isso não sabe o que é que os montijenses sentem e querem para o desenvolvimento do nosso concelho. Por isso, uma das nossas propostas é ouvir as populações e levá-las a participar na vida do concelho.