Uma das riquezas da Baía de Setúbal realçada por Carlos de Sousa, presidente da autarquia sadina, é a “actividade económica”. Desde a actividade portuária até à pesca, a Baía foi desde sempre e continua a ser, um factor bastante importante para a economia e riqueza da cidade. O presidente da Administração do Porto de Setúbal e Sesimbra (APSS), Duarte Amândio, diz aplaudir a entrada da Baía de Setúbal para o Clube das mais Belas do Mundo, achando merecida esta nomeação, “nomeadamente pela parte natural que tem”. Já Carlos Pratas, secretário-geral da Bivalpesca, Organização de produtores de pesca de bivalves, diz não saber se esta condecoração “vem ou não trazer melhorias”, mas admite que “é sempre um motivo de orgulho passar a integrar o leque das Baías Mais Belas do Mundo”.
O mesmo responsável revela que “a pesca já está mal há muitos anos, tem ciclos e quando há dificuldades económicas sente-se mais”, mas nesta área quem sente “mais dificuldades são os pequenos armadores e os empresários em nome individual, que ficam sujeitos também às conjunturas económicas”. Carlos Pratas garante que “o peixe é vendido dez vezes mais caro do que quando parte do pescador”, e que nesta altura existe peixe que “é vendido por metade do preço que era vendido há dez anos”. “O valor do pescado chega à lota muito baixo e é aí que aumenta”, afirma o mesmo responsável adiantando que com a reconversão que foi feita à lei da pesca, esta “ficou ainda mais condicionada e deixaram de apoiar novas construções através de apoios financeiros”.
Carlos Pratas diz ainda que se não se tiver em conta vários aspectos, este tipo de “actividade não vai melhorar”, e que “se se vier a confirmar a constituição de uma reserva, onde não se possa pescar como agora, vai ser mais difícil continuar a actividade” na medida em que grande parte da comunidade de Setúbal vive da actividade piscatória. No que diz respeito aos bivalves, “o sítio onde querem fazer a reserva é o local onde se concentram os bivalves”, garante este responsável.
Quem diz também que ainda não sabe se esta entrada vai ou não melhor a actividade piscatória é Ricardo Santos, presidente da Sesibal, Cooperativa de Pesca de Setúbal; Sesimbra e Sines. Este responsável afirma que “neste momento já existe uma área interdita à pesca entre a Arrábida e Sesimbra”, e garante que apenas pode afirmar se a actividade piscatória vai ou não beneficiar da entrada para as Baías Mais Belas do Mundo, quando souber se “mais alguma área vai ficar interdita e qual será a profundidade a que se pode pescar”.
Segundo o presidente da Anesul, Associação de Agentes de Navegação e Empresas Operadoras, Gonçalves Gomes, “a actividade portuária tem um peso de 30% da economia do concelho” e espera que, com o facto da baía entrar para as mais belas do mundo, “não a torne demasiado sensível de forma a vir prejudicar a actividade económica e tudo o que a ela está associado”. Este responsável acredita que isso não possa vir a acontecer, porque “não pode haver fundamentalismos de parte a parte” e também por acreditar que é possível realizar “um desenvolvimento sustentado”. “Preservar e potenciar a baía pensando na economia” é o mote deixado por este responsável.
Mas este responsável afirma que, em “termos globais não tem havido recessão, a movimentação no porto está até ligeiramente acima do ano passado”, mas isto não quer dizer que “não se sinta o resultado da crise”. Apenas o sector de veículos sofreu “um decréscimo com a consequente baixa de aquisição”, revela Gonçalves Gomes. O mesmo facto é constatado por Duarte Amândio, director da APSS, ao afirmar que “sectorialmente na implantação de automóveis houve uma quebra devido à diminuição do poder de compra, mas a nível global manteve-se”. Houve uns sectores que baixaram, como é o caso dos automóveis, mas outros subiram como foi o caso dos combustíveis. Assim, “umas compensaram as outras”, refere Duarte Amândio. Relativamente ao orçamento do próximo ano e apesar de “existir uma economia em desaceleração”, o mesmo responsável acredita que “o movimento no porto se vai manter num crescimento a nível comercial”.
Já para o presidente da AERSET, Associação dos Empresários da Região de Setúbal, José Santos, “a situação da região não está diferente daquilo que está no país, por isso tem-se sentido os impactos da crise que se instalou nos Estados Unidos e depois na Europa, em que tanto o concelho como o distrito ressentiu-se”. Este empresário afirma não conhecer concretamente as condicionantes, sejam elas vantajosas ou desvantajosas da entrada da baía de Setúbal para as mais belas do Mundo, mas acredita que “tem que haver regras de enquadramento sustentável”.
José Santos adianta ainda que, para que a entrada no clube se torne uma implantação sustentável tem que se preparar as coisas, não se podendo esquecer a exploração do porto, mas acredita que “é possível fazer-se de um modo sustentado englobando a vertente do turismo e comercial”. O mesmo responsável adianta que a entrada para as Baias Mais Belas do Mundo poderá ser “positiva mas antes é necessário fazer-se uma análise crítica ao presente para termos uma visão do futuro”.
Tanto o director da APSS como o da ANESUL afirmaram ao “Setúbal na Rede” que, apesar de viverem do porto de Setúbal o seu meio ambiente tem que ser “respeitado e preservado”. De acordo com Duarte Amândio, se o rio estiver poluído também vão ficar “prejudicados”. Já Gonçalves Gomes afirma que “tem que haver desenvolvimento na actividade do porto mas com respeito pelo ambiente, porque vivemos nela todos os dias e temos o dever como ninguém de a respeitar”.
Para este responsável esta “é uma baía muito bonita e é possível tirar partido de ambas as coisas”, adiantando que a baía “tem melhores condições, até que a zona ribeirinha de Lisboa, para a actividade lúdica”. Gonçalves Gomes espera que haja “bom senso e que esteja sempre presente a actividade económica e comercial”.
“Tudo o que seja feito para divulgar o porto de Setúbal é sempre importante, este é um porto que pode estar aberto todos os dias do ano”, afirma Duarte Amândio adiantando que isso pode ser uma “mais valia quando os intervenientes no mercado se aperceberem desse facto”.
De acordo com o presidente da Sesibal, “toda a indústria sustentada será bem vinda”. O mesmo responsável adianta que “o rio Sado está neste momento com 50% da sua capacidade” e que “a poluição tem contribuído para isso” porque muitos dos químicos que são lançados ao arroz, sendo esta operação feita através de avião, “vão cair no mar, o que provoca grande poluição”, afirma Ricardo Santos. O rio Sado está no seu “expoente de poluição”, e como solução o presidente da Sesibal considera que “as empresas têm que ser responsáveis pela poluição que fazem”. Mas este responsável não deixa de referir que a baía “é uma riqueza para Setúbal”.
Também o secretário-geral da Bivalpesca acha que com a entrada para o clube das baías mais belas do mundo, “a poluição tem obrigação de diminuir”. Carlos Pratas garante que a poluição “matou muitos bivalves em 1996” e acusa o Estado de “gastar pouco dinheiro na prevenção e análises à qualidade da água do rio”. A pesca “está envelhecida, a maior parte dos pescadores anda por gosto, porque esta não é uma actividade rentável, conclui este responsável.