A poluição é, desde há muito tempo, um dos maiores problemas da baía de Setúbal. De acordo com Duarte Machado, vereador da Câmara Municipal de Setúbal e mentor do lançamento da baía para o Clube das Mais Belas do Mundo, “esta é uma baía lindíssima e faz parte do património natural do estuário, com os elementos de biodiversidade ainda existentes”, como é o caso dos golfinhos que, segundo o vereador, “estão a correr alguns perigos em termos ambientais com os poluentes e esgotos atirados para o Sado”. Um problema que, de acordo com Duarte Machado, vai ficar atenuado no início de 2003, com a entrada em “funcionamento da ETAR”.
André Martins, vereador do Ambiente e do Turismo, confirma a entrada em funcionamento da ETAR no início do próximo ano, mas admite que “há ainda um grande caminho a percorrer”. O vereador disse ao “Setúbal na Rede” que estão a ser feitos “contactos com as empresas mais poluentes da região” e revelou que estas “estão a fazer grandes investimentos para diminuir as descargas poluentes para o rio Sado”. André Martins disse ainda que, com a entrada da baía de Setúbal para o Clube das Mais Belas do Mundo, acredita que “as empresas irão continuar a investir nesse campo”.
Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Quercus, vê “uma baía ainda com problemas, derivados de uma paisagem muito industrial e também com fortes níveis de poluição, quer urbana, industrial e agrícola” que, segundo este responsável são oriundos da parte do estuário mais a montante.
Esta baía tem ainda, segundo Celso Santos, director do Parque Natural da Arrábida, “alguns problemas a nível ambiental que vêm tanto das indústrias, com a agricultura e também poluição vinda das linhas de água”, como por exemplo detritos das oficinas que são, segundo Celso Santos, “imprevisíveis”. De acordo com este responsável, “tem sido feito por parte das empresas um grande esforço para diminuir o nível de poluição através da criação de ETAR’s, feitas pelas próprias firmas”.
Outro dos esforços que tem vindo a ser feito é, segundo Celso Santos, “a precaução das dragagens no rio”. “Todos os poluentes que foram produzidos pelas empresas até agora estão cimentados no fundo do rio e as dragagens viriam trazer a poluição de novo para cima”, explica o mesmo responsável.
Segundo o vereador Mata Cáceres, houve em Setúbal “um processo intenso de industrialização que agora está a deixar alguma degradação ambiental”. Este responsável adianta que algumas empresas estão a sofrer de “alguma caducidade” e por isso “o parque industrial existente tem que ser modernizado”.
Para o presidente da Quercus, a baía “tem um ecossistema muito importante, mas está fragilizada com a pressão ambiental que continua a existir”. A entrada para o Clube das Baías Mais Belas do Mundo “é mais uma forma de visibilidade para o estuário e para a baía”, afirma o mesmo responsável, revelando que, na sua opinião, “não vai ter grandes efeitos em termos de acabar com a poluição”. “Isso está mais dependente da legislação do que devido ao galardão”, afirma. Mas é, sem dúvida, para Francisco Ferreira, “mais uma forma de pressão”.
Já Maurício Costa, presidente da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, espera “que as unidades industriais façam uma requalificação do ambiente contribuindo assim para a diminuição da poluição e o aumento do turismo”. Segundo este responsável, “as unidades industriais têm obrigação disso, tal com a comunidade e a edilidade”.
Para Francisco Ferreira, deveria entrar em vigor “a nova gestão de bacia hidrográfica, com o plano nacional da água, onde já foram feitos alguns investimentos como é o caso da ETAR”. O presidente da Quercus explicou ao “Setúbal na Rede” que “o plano nacional da água tem a ver com o saneamento”, e segundo o mesmo, “deveria ser empregue também noutras áreas como nas indústrias, como é o caso da pasta do papel”. Este factor, em conjunto com a introdução de um controlo integrado da poluição e directiva dos nitratos, que rege a aplicação de adubos na agricultura, poderiam, de acordo com Francisco Ferreira, “ser factores que ajudassem a atenuar mais a poluição”.
Este ambientalista defende que, se também não estivessem a ser transportadas para Setúbal industrias como a Lisnave, “o nível da poluição poderia melhorar muito mais”. A poluição está também, de acordo com Francisco Ferreira “a fazer com que os golfinhos roazes se encontram em vias de extinção”.
Uma opinião que não é partilhada pelo presidente da autarquia, Carlos de Sousa, que garante que “desde há 17 anos que o número de golfinhos se tem mantido na ordem dos 30 a 40 elementos”. “A baía dos golfinhos roazes” é como Carlos de Sousa define a Baía de Setúbal em poucas palavras.
Já segundo Celso Santos, a comunidade de golfinhos no rio Sado apenas está ameaçada porque “a sua população está bastante envelhecida, na medida em que há um número muito elevado de mortalidade infantil”. Este ano foi mais “positivo”, com o nascimento de duas crias que, segundo Celso Santos, “se encontram em boas condições”. Apesar disso admite que os golfinhos também sofrem com a poluição pois “estão no topo da cadeia alimentar e ao se alimentarem de espécies contaminadas vão também sofrer com isso”.