[ Dia 29-09-2003 ] -Miguel Nogueira, director da Euroresinas.

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Setúbal na Rede – Porquê a escolha de Sines para instalar um nova unidade da Euroresinas?

Miguel Nogueira – O Grupo Sonae necessitou de expandir a sua produção de cola de resina, isto porque o grupo cresceu muito, tinha unidades em Portugal e em Espanha e a Euroresinas da Maia só conseguia fornecer cola para as unidades de Portugal. Então foi necessário expandir a empresa no sentido de fornecer toda a Península Ibérica. Sines foi o local escolhido por ser considerado o ponto óptimo em termos de logística de matérias-primas, sendo que esta é a parte mais difícil na produção da resina, que são o metanol, a ureia, a melanina e o fenol. No caso do metanol e da ureia o facto de estarmos próximos do porto de Sines permite-nos ter capacidade para receber navios de grande porte, os custos do porto são os mais baixos do país e mesmo comparativamente com Espanha continua a ser benéfica a nossa localização. Para além disso, Sines tinha também uma área industrial já preparada e que já tinha recebido indústrias químicas, pelo que considerámos ser o melhor local para construir uma unidade.

SR – Foi pacífica a instalação aqui?

MN – Perfeitamente pacífica e funciona muito bem.

SR – O facto de terem vindo contribuir para engrandecer este parque industrial, que trabalha sobretudo na área dos produtos químicos, não vos levantou nenhum obstáculo?

MN – Não, pelo contrário, penso que o parque industrial beneficia por estar ainda mais vocacionado para ser um parque industrial. A Euroresinas conseguiu instalar-se muito bem, conseguiu cumprir os prazos de construção a que se tinha proposto, não se levantaram quaisquer problemas e tudo funcionou muito bem.

SR – Tem noção do investimento que aqui foi feito?

MN – Cerca de sete milhões de contos, trinta e cinco milhões de euros.

SR – Para a criação de quantos postos de trabalho?

MN – Actualmente somos 56 colaboradores. Esta é uma indústria que exige muito pouca mão-de-obra porque é altamente tecnológica.

SR – É também uma indústria de risco do ponto de vista da segurança e do ambiente?

MN – Em termos de segurança e ambiente a Euroresinas tem a vantagem de ter sido construída muito recentemente, pelo que usa as melhores tecnologias disponíveis para este tipo de indústria, o que garante que o impacto ambiental seja quase nulo, além de reduzir ao mínimo possível o risco de um acidente, assegurando assim a segurança das pessoas e do processo de fabrico. Estas condições só são possíveis porque tivemos a ajuda na construção do maior construtor do mundo de unidades de produção de formaldeído, uma sub matéria-prima que nós produzimos aqui a partir do metanol. Na realidade nós temos aqui duas unidades, uma de produção de resinas e outra de produção de formaldeído, que além de trabalhar em laboração contínua, não exige quase intervenção humana. Esta unidade utiliza equipamentos tecnológicos ultramodernos que lhe permitem ser absolutamente segura em termos de laboração, isto porque sempre que se manifestar qualquer indício de perigo o equipamento pára e avisa que algo não está bem.

As matérias-primas que utilizamos são muito perigosas. O metanol tem um alto risco de combustão e de explosão, o formaldeído é um produto muito tóxico e bastante perigoso na concentração de 55%, aquela que usamos, e temos também fenol que é igualmente tóxico. Porém, o facto de termos tido a possibilidade de adquirir equipamentos modernos, além de apostarmos forte na formação dos nossos colaboradores, torna-nos uma unidade absolutamente segura. Muitas das pessoas que trabalham connosco vieram da Maia, porque já tinham uma larga experiência na utilização destes produtos e assim evitamos riscos de segurança.

SR – Mas existe sempre algum impacto ambiental porque a unidade produz efluentes.

MN – De facto a fábrica produz efluentes. Nós temos um sistema de tratamento de efluentes líquidos que na realidade é um pré-tratamento, isto porque todos os nossos resíduos líquidos são enviados para a ETAR de Ribeira de Moinhos, ainda que o tratamento que nós fazemos já fosse suficiente para eliminar qualquer perigo de contaminação. Quanto aos resíduos gasosos, temos um sistema de recolha de gases libertados nos tanques de formaldeído, de fenol e da unidade de produção de resinas e enviamo-los para um sistema de tratamento de resíduos gasosos que está equipado com a melhor tecnologia disponível para este tipo de substâncias. De salientar que o projecto foi elaborado por uma empresa sueca, líder de mercado nestes equipamentos.

SR – Os estudos à qualidade do ar nesta região dão conta de elevados índices de poluição, devido às emissões de gases provenientes das indústrias. Garante que a Euroresinas não contribui de qualquer forma para esse cenário?

MN – Não, pelo contrário. Antes da Euroresinas se instalar foram feitas medições dos níveis de poluição atmosférica e actualmente quando fazemos a medição dos níveis das nossas chaminés verificamos que os índices de poluição são menores que aqueles que existiam antes de nos instalarmos. Posso portanto garantir que não estamos a produzir resíduos nocivos para a atmosfera, isto porque temos a sorte de nos termos instalado muito recentemente e temos um sistema de tratamento muito bom.

SR – Que destino tem o formaldeído e as resinas que aqui são produzidas?

MN – O formaldeído é consumido por nós na produção da resina. O formaldeído é um gás, produzido através da oxidação do metanol, que é posteriormente absorvido por uma torre de absorção e torna-se numa solução aquosa que em conjunto com a melamina ou ureia é utilizada para produzir resina sintética de base aminica. O formaldeído em conjunto com o fenol produz resinas fenolicas, que em termos de consumo estão a ser reduzidas. Muito esporadicamente vendemos formaldeído para outras empresas, mas em pequenas quantidades e em concentrações que não oferecem qualquer perigo de toxicidade. Em baixas concentrações é utilizado em laboratórios ou hospitais para a conservação de corpos orgânicos e é também utilizado em tintas e na indústria farmacêutica mas sempre em pequenas quantidades. 

A resina produzida com formaldeído e ureia destina-se à produção de aglomerado ou de MDF, um aglomerado de melhor qualidade fabricado com a fibra da madeira, com uma densidade mais controlada e com maior resistência à água, que normalmente é utilizado em cozinhas. Ainda que em menor quantidade, as resinas ureicas podem também ser utilizadas na indústria têxtil, na indústria corticeira e na produção de contraplacado. As resinas melaminicas e algumas resinas ureicas são utilizadas para a impregnação de papel, para produzir os padrões que dão a cor ao MDF. As resinas fenolicas são utilizadas na cortiça, na produção de contraplacado ou para a produção de laminado numa outra unidade do grupo, a Sonae Industria de Revestimentos. Existem ainda outras utilizações para este tipo de resina, mas estão a cair em desuso devido à perigosidade do produto.

SR – Os vossos produtos são para que clientes?

MN – Cerca de 90% são para clientes do Grupo Sonae, já que fornecemos toda a Sonae na Península Ibérica. Os restantes 10% dos produtos são para fornecer clientes como a Amorim Revestimentos e a Laminar, entre outras pequenas unidades de produção de laminados e contraplacados.

SR – Como está a saúde financeira da empresa?

MN – Nós estamos a produzir só há dois anos e se uma indústria química atingisse o equilíbrio apenas em dois anos, seria o pote de ouro da indústria química. Neste momento estamos a cumprir o orçamento a que nos temos proposto e a evolução da empresa tem sido bastante razoável.

SR – Mesmo num cenário de crise económica?

MN – No último ano temos sentido a crise, mas não como tem sido divulgado que algumas empresas a estão a sentir. Esta situação deve-se ao facto de a Sonae ser líder mundial na venda de aglomerado e MDF, pelo que ao colocar os seus produtos em todo o mundo acaba por sentir menos as dificuldades dentro do país. Por outro lado, ao atingirmos determinada quantidade de produção conseguimos optimizar os nossos produtos de forma a mantermos uma produção constante e a verdade é que não temos sentido esse cenário tão negativo como se pinta.

SR – Qual é o ambiente laboral que se vive na unidade?

MN – A empresa acaba por ter poucos colaboradores e conhecemo-nos todos uns aos outros, o que facilita muito a vida no decorrer da laboração. Já tivemos algumas situações de divergência de opinião mas neste momento está tudo equilibrado e a funcionar bem, pelo que não temos razões de queixa. As pessoas dão-se bem e trabalham bem.

SR – Um relatório da União de Sindicatos indica que a Euroresinas vive sob o fantasma da deslocalização. Confirma-se esta situação?

MN – É um exagero dos sindicatos, não sei ao que se refere e não conheço sequer o artigo. Não vivemos nenhum conflito com nenhum sindicato, as pessoas estão bem enquadradas, estão motivadas e a trabalhar para o bem da empresa. Nesta situação de crise as pessoas estão conscientes de que não podem esperar milagres, mas estão confortadas pelo facto de verem que a empresa continua a ter o mesmo volume de produção e está a cumprir os orçamentos. No aspecto salarial estamos enquadrados na média da região, não pagamos fortunas mas também não exploramos ninguém. No início da nossa implantação tivemos de facto alguns conflitos com os sindicatos, mas foram rapidamente sanados. Quanto às pessoas que estão deslocadas, o que eu tenho reparado é que as pessoas se adaptaram muito bem a esta região, apesar de muitas delas irem ao norte sempre que podem. No entanto, em termos de trabalho penso que estamos muito bem aqui.

SR – E a empresa está bem integrada na região?

MN – Perfeitamente, diria que não poderíamos estar melhor. Damo-nos bem com os nossos vizinhos, a estrutura desta zona industrial permite que as empresas se integrem bem e o facto de não existir uma grande densidade de indústrias permite que as empresas se conheçam bem umas às outras e trabalharem em conjunto numa série de assuntos. A PGS, como responsável por esta zona, trabalha bem no sentido de se preocupar com os problemas das empresas e de tentar solucioná-los, o que para nós tem sido importante no desenvolvimento de acções com as outras empresas. Neste momento estamos a fornecer metanol à Borealis, isto porque nós consumimos mais e por isso temos maior margem de negociação. Este é um bom exemplo de cooperação entre vizinhos.

A nível de vizinhança com a população, o facto de estarmos afastados do núcleo habitacional leva a que as pessoas não tenham grandes queixas a apresentar. Por outro lado, o sermos uma empresa nova perspectiva novas possibilidades de trabalho e as pessoas tentam contactar-nos para saberem se existem oportunidades.

SR – Esta é uma empresa com perspectivas de crescimento em número de postos de emprego?

MN – Como Euroresinas não se justificam mais postos de emprego, a menos que haja rotação de pessoas, o que esperamos não venha a acontecer, porque esta é uma indústria onde a experiência profissional é muito importante. Temos técnicos e pessoal de manutenção a quem tem que ser dada formação específica, pelo que não é do interesse da empresa fazer rotação do seu pessoal. O que pode acontecer, dado que o Grupo Sonae tem sempre possibilidade de evoluir, é que se justifique construir outras unidades nesta região.

SR – Existe algum projecto neste momento?

MN Existe um projecto para uma empresa que neste momento está parado por não ser um período propício para o investimento. Sobre isto não posso adiantar mais porque este é um projecto da Sonae Indústria e não da Euroresinas.

SR – Existem perspectivas de expansão da Euroresinas?

MN Não, dado o tipo de produto que produz, não faz sentido a Euroresinas expandir-se, isto porque os nossos produtos têm alguma perecidade e não suportam transportes muito longos. A menos que haja um grande aumento de indústrias de madeira na Península Ibérica, não existem razões para que a Euroresinas evolua muito a nível de produção. Nós temos mais capacidade de produção que aquela que estamos a fazer, até porque somos uma empresa muito nova e criada de raiz, pelo que não faria sentido estarmos já a trabalhar no limite da nossa capacidade.  seta-8719157