EMPRESAS, MOTORES DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO
Nikolaus Holub, administrador delegado da Borealis Polímeros
“A Borealis orgulha-se de promover as melhores
práticas ambientais”
Criada em 1994, com a participação da finlandesa Neste e a norueguesa Statoil, a Borealis Portugal teve origem na Companhia Nacional de Petroquímica, criada em 1972, e na Empresa de Polímeros de Sines, fundada em 1976. Depois de tempos difíceis que se deveram à “volatilidade do mercado” provocada por várias crises petrolíferas, a empresa atravessa hoje um “período melhor”, fruto das “reengenharias e reestruturações efectuadas”, tal como explica Nikolaus Holub, administrador delegado da Borealis Polímeros. Em entrevista ao “Setúbal na Rede”, o administrador fala sobre os estudos que prevêem a “redução da dependência da nafta” na produção da empresa, das dificuldades de reestruturação devido à “resistência dos funcionários” e declara que a localização em Sines “abre as portas do mercado global” a esta empresa, que tem como objectivo expandir o seu mercado. Com sede em Copenhaga, na Dinamarca, o Grupo Borealis dedica-se à produção de polietileno e polipropileno que se destinam essencialmente à indústria transformadora de plástico.
Setúbal na Rede – Os bons resultados da Borealis no início de 2004 denotam um ponto de viragem na empresa?
Nikolaus Holub – Na realidade, os últimos dois anos foram muito difíceis devido a uma grande volatilidade do mercado, o que é comum nas indústrias petroquímicas, e que deu origem a margens muito baixas em 2002 e 2003, afectando assim a Borealis na generalidade. Com um grande número de reestruturações e o recurso à reengenharia o grupo Borealis e a Borealis Polímeros conseguiram dar a volta à situação. Neste momento o mercado está mais atractivo e as reestruturações internas estão a dar resultados.
SR – Que reestruturações é que foram feitas?
NH – Em primeiro lugar conseguimos operar as fábricas de forma mais fiável. Os indicadores das fábricas são melhores actualmente do que há anos atrás. Neste momento estamos a focar-nos em nichos de mercado mais atractivos e com melhores preços. Temos feito também um grande esforço em termos de formação, o que torna o trabalho dos colaboradores mais eficiente. Todas as alterações efectuadas estão integradas no projecto Sines PIP, um projecto de melhoria da rentabilidade da Borealis em Sines. O Sines PIP cobre um grande número de iniciativas que nos têm trazido resultados positivos, ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos.
SR – Os resultados negativos dos anos anteriores resultaram apenas de questões internas, ou tiveram que ver com a crise que grassa um pouco por todo o mundo?
NH – A indústria petroquímica depende muito dos preços do petróleo e dos preços da nafta e isso não pode ser controlado por nós. O polietileno que nós produzimos é utilizado em embalagens e filme, produtos que têm um preço constante no mercado porque existe uma grande competição entre os vários fornecedores deste tipo de aplicações. Como houve um aumento do preço do petróleo, que é a nossa matéria-prima, nós não podemos chegar junto dos clientes e dizer-lhes que vamos aumentar o preço do produto proporcionalmente. Nesta situação, as margens ficam cada vez mais apertadas. A crise do Iraque e o excesso de produção no mercado trouxe-nos problemas porque não tivemos hipótese de alterar o preço dos produtos.
SR – Qual é o impacto das actuais subidas do preço do petróleo, que está a atingir preços recorde?
NH – É uma situação preocupante porque se os preços continuarem a aumentar, o preço da nafta também vai aumentar e isso vai afectar-nos no segundo semestre deste ano. A nossa matéria-prima é a nafta, um sub-produto do petróleo. Neste momento estamos a tentar fazer investimentos para que sejam utilizadas matérias-primas mais baratas do que a nafta. Existem projectos para reduzir a dependência da nafta e já estão a ser feitos desenvolvimentos técnicos na unidade principal para que possam ser utilizadas outras matérias-primas, o que ajudaria a minimizar o impacto dos aumentos do preço do petróleo.
SR – É feita investigação nesta unidade de Sines ou destina-se apenas à produção?
NH – Em Sines temos essencialmente produção. Dentro do grupo existem centros de investigação noutros complexos, mas Portugal tem apoio e informação provenientes desses centros de investigação.
SR – Qual a relação desta unidade de Sines com o resto do grupo e qual o peso que tem dentro da estrutura internacional da Borealis?
NH – Em Sines produzem-se 300 mil toneladas de polietileno e o grupo Borealis produz três milhões, isto é, temos um décimo da produção global. Além disso, em Sines também está instalada uma fábrica de etileno que produz 360 mil toneladas por ano.
SR – Durante os anos de 2002 e 2003, perante as dificuldades que já foram referidas, chegou a temer-se pelo futuro da unidade?
NH – Sim. Se existem resultados negativos, se a empresa não está a dar dinheiro aos accionistas, ela é posta em causa e foi isso que aconteceu. Não é apenas o preço do petróleo, o preço da nafta que determina a sobrevivência da empresa, pois houve uma grande contribuição interna das pessoas e o recurso a novos projectos que levaram à recuperação. A Borealis não é uma empresa que ande sempre a comprar e vender, tenta pensar nas várias opções possíveis e neste caso não desistiu e tentou encontrar novas soluções que permitissem resolver a situação.
Neste momento não estamos a ter apenas melhores resultados, estamos também a fazer novos investimentos de modo a melhorar e modernizar todo o nosso activo, o que é fundamental para sermos competitivos dentro da indústria petroquímica. A Borealis recrutou novos engenheiros e novos técnicos porque quer assegurar um futuro a longo prazo. Isso é uma prova de que nos estamos a preparar para uma operação a longo prazo.
SR – Quais as vantagens que esta empresa traz ao grupo Borealis para que se continue a investir aqui e não se pense em deslocalizar a empresa para qualquer outra parte do mundo?
NH – O mercado ibérico, Espanha e Portugal, é muito atractivo e em termos de clientes focamo-nos essencialmente nestes dois países. Além disso, Sines também tem uma localização internacional, com o novo porto e as oportunidades que nos proporciona podemos facilmente aceder a locais como o norte de África ou América do Sul e isso abre-nos as portas do mercado global. Estas são razões que justificam a localização da empresa em Sines.
SR – Quer dizer que os actuais clientes desta unidade são ibéricos, mas a empresa tem projectos de expansão para outros países?
NH – Além do mercado ibérico, vendemos para Inglaterra, França e Itália. Temos também que ter em conta os elevados custos da logística, mas na realidade é nossa intenção expandir-nos para outros mercados para além dos actuais.
SR – Que tipo de concorrência vão enfrentar nessa expansão, quer interna quer de empresas exteriores?
NH – Não existe competição interna na Borealis, pois temos uma boa gestão de activos, porém procuramos ter as melhores práticas dentro dos vários complexos. No mercado ibérico existem outras empresas muito fortes, pelo que enfrentamos uma competição muito feroz. Se não estivéssemos a pensar no futuro, com a melhoria da fiabilidade das fábricas, com novos empregados e com novos projectos, nós iríamos perder competitividade. No mercado petroquímico os investimentos são determinantes para se conseguir ganhar terreno e é isso que a Borealis está a fazer.
SR – As políticas desta unidade são definidas na Dinamarca ou existe autonomia desta empresa de Sines?
NH – As políticas e as linhas mestras são definidas ao nível do grupo, pois não somos nós, em Sines, que vamos definir uma nova especialidade ou uma nova fábrica. Por outro lado, existem oportunidades de negócio locais que estão sobre a nossa responsabilidade. Se existirem novos clientes, isso é comunicado ao grupo por uma questão de alinhamento, mas a unidade de Sines tem autonomia para tomar decisões nesta matéria. Na segurança e no ambiente, prioridades número um na Borealis e temas para os quais existem orientações claras, nós temos a responsabilidade de tentarmos ser os melhores. Nesta unidade de Sines estamos a desenvolver várias iniciativas, à semelhança das outras empresas do grupo, no sentido de nos tornarmos líderes em ambiente e segurança.
SR – Esta é uma empresa com um forte impacto ambiental na região?
NH – Uma actividade industrial desta dimensão tem sempre um impacto no ambiente. A Borealis orgulha-se, até por decisões ao nível do grupo, de promover as melhores práticas ambientais disponíveis e implementar uma política aberta e de informação junto da comunidade. A Borealis, na sua política ambiental, compromete-se a pelo menos cumprir ou exceder os requisitos legais em vigor. Mas o que quero mostrar à comunidade e aos dirigentes locais é que a Borealis está a fazer uma série de esforços ao nível da segurança, está a empregar novas pessoas e quer ser um empregador fiável.
SR – Apesar do impacto negativo em termos de ambiente, acreditam que podem oferecer outras contrapartidas?
NH – As questões ambientais, na perspectiva da Borealis, nunca passam por quaisquer contrapartidas. São antes objecto de uma política do grupo no sentido da utilização das melhores tecnologias e correcta manutenção dos equipamentos. Sei que existem possibilidades de introduzir melhorias e nesse sentido estão neste momento em curso de aprovação diversos investimentos ambientais. Ocorrem na área de Sines alguns cheiros com impacto negativo na qualidade de vida da população residente, mas estamos a fazer o nosso ‘trabalho de casa’ e pretendemos partilhar os resultados com as outras grandes empresas. A Borealis mantém as suas emissões abaixo do que é permitido por lei e faz esse controlo em tempo real. A Borealis é membro de um grupo de trabalho, onde estão representantes das outras empresas da plataforma industrial de Sines, que tem como objectivo definir boas práticas que possam ser partilhadas por todas as unidades da zona industrial de Sines. Acredito que, com este grupo de trabalho, vamos ser capazes de encontrar a raiz do problema e a solução para o mesmo. Acho que a região de Sines é muito bonita e por isso gosto de estar aqui.
SR – Sente que esta empresa é bem vinda à região ou existem problemas de má vizinhança?
NH – Em principio temos uma boa relação com as comunidades vizinhas. Desenvolvemos muitos esforços no sentido de obtermos um bom desempenho em segurança, fizemos muitas acções de formação, implementámos muitas acções para que a segurança seja uma prioridade. Começámos a partilhar o nosso desempenho em segurança com as empresas vizinhas e temos já vários pedidos nesse sentido. Se conseguirmos efectuar essa partilha é muito bom porque estamos a contribuir para o desenvolvimento da região.
As paragens gerais para manutenção das fábricas são planeadas com as empresas vizinhas, para que os limitados recursos de manutenção possam ser optimizados, ou seja, não fazemos paragens em simultâneo com outra empresa. Com a APS e a PGS, os nossos grandes parceiros, mantemos reuniões regulares para partilhar vários assuntos, tal como saber o que é necessário para tornar esta região atractiva para o investimento. Temos também contactos frequentes com os presidentes das câmaras de Santiago do Cacém e de Sines, ouvimos cuidadosamente as suas preocupações e prestamo-lhes apoio sempre que podemos. Acredito que esta é a atitude correcta para que haja futuro nesta área.
SR – Sente que esta é uma empresa bem integrada na região e que seria diferente se não estivesse aqui em Sines?
NH – É um pouco teórico, mas nós queremos ser um bom e justo empregador além de contribuir para o desenvolvimento desta região. O que pretendo é que os accionistas tenham orgulho na Borealis sendo capaz de lhes dar alguns dividendos, mas por outro lado também quero ter clientes satisfeitos. Anualmente costumamos pedir a opinião dos clientes em termos da qualidade de produto, de serviço e da fiabilidade. Regularmente também questionamos os empregados sobre o que acham da empresa, quais são as suas opiniões, a partir das quais tomamos decisões.
SR – Existe a noção da responsabilidade social pelo facto de a Borealis ser uma das maiores empresas da região?
NH – Se tivermos sucesso nas três áreas que acabei de referir, accionistas, clientes e empregados, também estamos a cumprir com a nossa responsabilidade social. Temos uma série de programas em curso no âmbito da responsabilidade social, nomeadamente o programa da actuação responsável. Esse programa prevê uma série de auditorias de modo a melhorarmos a actuação responsável da empresa. Nós estamos a assumir a nossa responsabilidade social, porém temos necessariamente que ser uma empresa orientada para o lucro.
SR – Esta empresa não está livre de problemas laborais?
NH – Não estamos livres, temos alguns problemas nessa área. Estaria a mentir se dissesse que está tudo muito bem e que é tudo muito bonito. No passado tivemos dificuldades relacionadas com a reorganização interna da empresa. Fizemos um acordo de parceria com a Masa, uma empresa espanhola, pelo que foi necessário fazer várias reuniões quer com os empregados envolvidos, cerca de cinquenta pessoas, quer com a comissão de trabalhadores, e tivemos dificuldade em fazê-los entender que a transferência para a Masa não afectava os seus direitos ou carreiras. Estes empregados estavam contra esta decisão da gestão e acabaram por fazer greve.
O que nós fizemos foi chamá-los de novo para a mesa de negociações, de modo a debatermos todas as suas dúvidas. Intensificámos as negociações com as pessoas envolvidas e no final tomámos em consideração algumas das preocupações manifestadas quando assinámos o acordo com a empresa espanhola. Porém, a verdade é que é a gestão que tem que gerir a empresa e por isso tem a palavra final. Com todo este processo conseguimos fazer uma transição estável e sem despedimento colectivo e orgulho-me disso porque sei que todas as pessoas estão a ter um bom desempenho. Além do mais, a vinda desta empresa para aqui foi uma mais valia para a região porque trouxe conhecimentos que não existiam até então. Com todo este processo, aprendemos a lidar com alguns problemas, até porque não é possível gerir uma empresa com 500 empregados sem fazer mudanças. A economia afecta-nos e temos que fazer ajustes sob pena de falharmos.
SR – Como é que consegue gerir a relação com os trabalhadores, conciliando ao mesmo tempo um negócio dinâmico com a necessidade de estabilidade dos funcionários?
NH – A Borealis está continuamente a desenvolver ‘ferramentas’ que possibilitem a gestão de pessoas e que tentem cobrir as mudanças. Temos acordos com os nossos empregados que tentam minimizar os efeitos da exigência de flexibilidade. Os empregados fazem, em conjunto com as chefias, análises de desempenho onde se discutem abertamente quais as expectativas da empresa em relação aos empregados e vice-versa. Nestas conversas nós temos a percepção se a pessoa está disponível para mudar de funções ou de local de trabalho.
Existem empregados que querem ir para o estrangeiro, por exemplo para a Suécia ou para a Noruega, para conhecerem outras culturas, além de poderem aprender mais, o que para nós também é vantajoso. Por outro lado existem pessoas que querem ficar em Sines, e a gestão tem que ter resposta para estas duas vertentes. Temos que ter uma percepção individual para conseguirmos que a história global seja um sucesso. O meu objectivo é conseguir estabilidade individual para obter estabilidade global.