Parque Natural da Arrábida
Localização
O Parque Natural da Arrábida, com a área de 10.821 hectares, abrange parte dos Concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra. É uma área classificada pelo Decreto-Lei nº622/76 e posteriormente reclassificada pelo Decreto Regulamentar nº23/98 com alteração dos seus limites e inclusão de uma área de Parque Marinho. Está ainda inserido na Rede Europeia de Reservas Biogenéticas (Conselho da Europa), classificado como biótipo CORINE e inserido no SIC, Sítio de Interesse Comunitário – Arrábida/Espichel da Rede Natura 2000.
O Parque Natural da Arrábida engloba igualmente o Parque Marinho “Professor Luís Saldanha” abrangendo a área marinha entre a Arrábida (Praia da Figueirinha) e Espichel (Praia da Foz).
Caracterização geográfica e biofísica
O Parque Natural da Arrábida fica a dever o seu nome à principal unidade geomorfológica de toda a área, a designada cordilheira da Arrábida, constituída por três eixos diferentes: o primeiro composto por pequenas elevações nos arredores de Sesimbra, pelas Serras do Risco e da Arrábida e pelas colinas existentes entre o Outão e Setúbal; o segundo é formado pelas Serras de S. Luís e dos Gaiteiros e o terceiro formado pelas Serras do Louro e São Francisco. A Serra da Arrábida tem a sua altitude máxima no Alto do Formosinho.
O litoral é bastante rochoso, recortado por pequenas baías com praias de areia branca e geralmente encimadas por escarpas que apresentam alturas consideráveis e por vezes mesmo inclinações negativas.
Como é característica das regiões cuja geologia é predominantemente constituída por calcário, a hidrografia apresenta aspectos específicos desse tipo de constituição, tais como a não perenidade e exiguidade dos cursos de água.
Os principais cursos de água no Parque Natural da Arrábida localizam-se na sua maioria na parte Este, entre Setúbal, Palmela e o vale dos Picheleiros. Destacando-se as Ribeiras da Comenda e da Ajuda, na Comenda; a Ribeira da Melra no vale da Rasca a Ribeira de Alcube em Alcube, a Ribeira de Corva no Vale dos Barris e parte da Ribeira do Livramento, junto à baixa de Palmela. O coberto vegetal de uma região está sempre dependente de factores ligados à conjugação do tipo de solo com o tipo de clima. É fácil perceber então que a vegetação da região da Arrábida é muito diversificada, o que se prende com a já mencionada diversidade de solos. A vegetação da Arrábida constitui um exemplo raro de vegetação mediterrânea muito antiga, que através dos tempos foi sendo moldada pelo clima chegando aos nossos dias, mercê de condições ecológicas específicas com um aspecto exuberante e surpreendente.
A fisionomia mediterrânea da vegetação da Arrábida é confirmada pelo aparecimento do tipo “Garrigue” (solos calcários) e “maquis” (solos siliciosos), podendo-se mesmo citar como exemplos de localização: o caso da serra do Risco para o “garrigue e do Vale do Solitário para o “maquis” A cadeia montanhosa da Arrábida, bem como a área de planície que a circunscreve têm uma grande diversidade de solos devido à multivariada constituição dos materiais rochosos que constituem a rocha mãe que está na origem dos mesmos.
No que diz respeito ao clima, a Arrábida apresenta acentuadas características mediterrâneas, traduzindo-se este em duas estações extremas: – o Verão quente e seco chegando a atingir temperaturas com valores aproximados às temperaturas das regiões tropicais, com períodos de seca prolongados que se podem estender por vários meses ou anos; – o Inverno frio e geralmente húmido.
A proximidade do mar, no caso o Oceano, é um factor climático de relevante importância, dando à região maiores humidades e consequentemente uma maior amenidade nas temperaturas ao longo do ano. Pode-se deste modo afirmar que há uma influência atlântica sobre a tipicidade mediterrânea que se vai exercer essencialmente ao nível da diminuição da amplitude térmica e do aumento da humidade atmosférica, situação que ocorre desde os meados do Outono até meados da Primavera
Património Arquitectónico
Com uma ocupação humana que remonta ao Paleolítico antigo, a região da Arrábida apresenta um importante acervo patrimonial. Dos valores patrimoniais que chegaram aos nossos dias destacam-se pela sua importância algumas estações arqueológicas, nomeadamente as grutas da Quinta do Anjo, a Lapa de Stª Margarida, a estação romana do Creiro e a estrada romana do Viso.
De realçar bons exemplos de arquitectura militar, cujos expoentes são os três castelos – Palmela, Sesimbra e Setúbal – e ainda algumas fortalezas como a do Outão, a de Santa Maria, o Forte de São Domingos da Baralha, Albarquel, entre outras.
Em maior número surgem os exemplos de património religioso; igrejas, ermidas e conventos, disseminados um pouco por toda a região, merecendo destaque: os conventos da Arrábida (novo e velho), o santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel e as Igrejas de São Lourenço e São Simão de Azeitão.
A arquitectura rural é uma presença constante nos vários aglomerados da região, sendo o resultado dos modos de vida ligados às actividades agrícolas tradicionais. Não podem igualmente de deixar de ser referidos alguns edifícios considerados de elevado valor histórico-patrimonial que tiveram a sua origem na fixação da nobreza portuguesa nesta região, em períodos de férias. Deste conjunto de edifícios podem-se destacar: O palácio da Bacalhoa, o Palácio dos Duques de Aveiro e o Palácio do Calhariz. Por fim há ainda que mencionar a importância de um assinalável conjunto de vários cruzeiros e pelourinhos, chafarizes e os tão característicos moinhos de vento.
Fauna
A fauna da região da Arrábida é muito variada, sendo especialmente rica ao nível da ornitologia que apresenta algumas espécies raras nesta região, especialmente aves de rapina sendo exemplos desta situação a Águia de Bonelli, a águia de asa redonda e o menos raro Peneireiro. Também os insectos são abundantes e dentro desta classe destacam-se os lepidópteros que têm na região dezenas de espécies diferentes. Os morcegos são animais que também existem na Arrábida havendo mesmo algumas espécies raras.
A fauna da Arrábida é ainda complementada pela existência de um razoável número de espécies de répteis e de mamíferos. Dentre estes últimos algumas espécies como o coelho bravo, a raposa, o gato bravo, a geneta, o texugo e o sacarrabos, têm uma representatividade importante.
Não se pode também esquecer a riqueza natural que existe no mar, na denominada costa da Arrábida-Espichel, abundante em espécies de peixes e moluscos.
É importante referir também que a riqueza e os valores subaquáticos que estão presentes na costa Arrábida-Espichel, com especial incidência, entre Sesimbra e o Cabo Espichel são um importante factor de ordem natural devido à existência de um variado leque de formas de vida submarina.
O cabo Espichel, importante elemento geomorfológico, marca o final da cordilheira da Arrábida (limite SSE) e em termos paisagísticos revela-se como um imponente promontório natural, cujas falésias revelam para além de importantes fenómenos geológicos, como a disposição dos sedimentos em camadas, a proliferação de fósseis, a erosão marinha e o modelado cársico; um importante abrigo de várias espécies animais, essencialmente aves. Deve-se ainda salientar a importância paleontológica do Cabo, devido à existência de bem visíveis “pegadas” de dinossauros.
Do conjunto de informação relativa aos aspectos biofísicos, conclui-se que de uma forma integrada estes contribuem fortemente para fazer da Arrábida um caso singular e amenidade, tornando-a deste modo, alvo de pressões associadas tanto ao turismo, como ao uso para recreio e lazer e ainda à procura para segunda habitação.
Flora
Na Arrábida é importante referir os micro climas, próprios das vertentes de norte e sul da área montanhosa por excelência. A encosta a norte, mais exposta aos ventos húmidos do noroeste, é mais húmida e fresca que a vertente meridional, abrigada aos fortes ventos frios e exposta a uma forte insolação, o que dá mais secura no período estival, temperatura elevada, assim como invernos temperados. Neste contexto, o coberto vegetal é composto por diversas áreas, relacionado com o clima específico, estado e propriedades do solo, como por exemplo nos calcários brancos e muito compactos, Quercus cocífera (carrasco), Rosmaninus officinalis (alecrim),Pistacia lentiscus (aroeira), Phillyrea anguatifolia (lentisco bastardo), Ph. latifolia, Olea oleaster, Rhamus oleoides, Dahpne gnidium e o Cistus ladanifer (esteva).
A zona maquial de sub-bosque é uma formação bi-estratificada, de bosques de zambujeiro (Olea europea sylvestris) e a alfarrobeira (Ceratonia siliqua).
As matas de carvalho (Quercus faginea), desenvolvem-se em zonas de influência dos ventos do quadrante noroeste, que correspondem à formação climax da litosérie tropofítica com folhas marcentes ou seja tardiamente a quando da nova rebentação. O sobreiro (Q. suber) e o pinheiro manso (Pinus pinea) ocupam manchas limitadas.
O pinheiro manso (Pinus pinea), está bem representado na serra de S. Luís, sendo possivelmente uma espécie original existente na Arrábida há cerca de 4.500 anos, ou seja desde o Calcolítico.
Actividades Económicas
Uma das actividades tradicionais mais importantes da área do Parque Natural da Arrábida é o fabrico do Queijo de Azeitão.
Derivado do afamado queijo da Serra da Estrela, foi a partir do início do Séc. XIX, que começou aqui a ser produzido por Gaspar Henriques de Paiva, natural da Beira baixa. Os seus conhecimentos foram passando de geração em geração e graças às características naturais da flora dos pastos, os rebanhos de ovelhas da raça Saloia produzem o leite que se destina ao fabrico do afamado Queijo de Azeitão.
Uma outra actividade económica de relevo é o cultivo da vinha, já implantada na região há bastantes séculos.
As características particulares do solo e clima, proporcionam o cultivo de vinhas, que permitem a produção de vinho de grande qualidade, tanto os de mesa como os espirituosos.
É importante realçar que estas duas actividades existem em áreas que estão classificadas como Zonas Demarcadas.
Principais problemas que ameaçam a área
A actividade da indústria extractiva e transformadora de inertes são um dos maiores problemas que afectam a área do PNA. Os impactes ambientais inerentes são, entre outros, os seguintes:
destruição de recursos não renováveis,
alteração dos cursos de água, concentração de carga sólida em suspensão, eventualidade de contaminação aquífera,
ruído derivado da actividade das instalações,
emissão de poeiras para a atmosfera,
alterações profundas da paisagem com a destruição do coberto vegetal,
perturbação da flora e fauna nas áreas envolventes.
Outra ameaça são os fogos florestais que poderão causar graves prejuízos pelas características únicas de certas áreas do Parque
Ainda a considerar como uma preocupação, o excessivo número de pessoas que se deslocam a este local principalmente no período de férias causando uma maior pressão na orla costeira, com congestionamento de trânsito e ao mesmo tempo aumentando substancialmente o problema da limpeza e remoção dos resíduos sólidos.