[ Setúbal na Rede] – Ambiente – Divulgação

0
Rate this post



Parque Natural do Sudoeste Alentejano 

e Costa Vicentina


A costa sudoeste portuguesa, entre Sines e Lagos, em virtude da sua baixa ocupação humana, quando comparada com a restante costa nacional, preserva ainda um conjunto de valores histórico-culturais e naturais únicos no país e na Europa. Durante as décadas de 70 e 80 vários investigadores de áreas diversas como a arqueologia, geologia e biologia bem como as câmaras municipais e outras entidades locais, alertaram para a necessidade de proteger este património valioso face ao aumento das pressões turistico-recreativas que promoviam a especulação fundiária e a construção imobiliária.

Na consequência destas preocupações é então criada, em Julho de 1988, a Área de Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina que, posteriormente, em Setembro de 1995, é promovida a Parque Natural.

Localização e Caracterização

O PNSACV abrange uma faixa costeira virada ao Oceano Atlântico, entre São Torpes e o Burgau, ocupando uma área terrestre de cerca de 74.800 ha e uma faixa marinha de 2 Km de largura paralela à costa, constituindo um dos maiores Parques Naturais portugueses.

Corresponde a uma zona de interface mar-terra, com uma grande variedade de habitats de entre os quais destacamos pela sua importância e naturalidade, as praias, as dunas, os matos litorais, os estuários e sapais, as lagoas, as charnecas, os vales fluviais e as falésias marítimas – características desta costa e que, juntamente com o mar, constituem os elementos gráficos representados no símbolo do PNSACV. Predominantemente xistosas na costa ocidental e calcárias na costa sul, onde atingem as maiores dimensões (150 m de altura na Torre de Aspa), são frequentemente cobertas por cordões dunares e constituem o rebordo litoral de um extenso planalto marginado do lado interior pelo conjunto de relevos que formam as Serras do Cercal e Espinhaço de Cão. Este planalto é recortado por várias linhas de água de dimensões variáveis com especial destaque para as Ribeiras de Seixe, Aljezur e Bordeira/Carrapateira, cuja foz origina pequenos estuários ou lagunas de dimensões variáveis, e ainda o Rio Mira que desagua sempre por um estuário de ligação permanente ao mar, em Vila Nova de Milfontes.

Embora esta costa seja predominantemente um litoral de erosão, existem também zonas de acumulação, de seixos ou areias, que originam praias de grande valor paisagístico e recreativo.

A presença do mar e das serras referidas determinam um clima ameno com invernos suaves e verões frescos com pequena oscilação de temperatura e grande humidade do ar que é responsável pela ocorrência frequente, mesmo durante o Verão, de nevoeiros e neblinas, embora a precipitação anual seja geralmente pequena.

Geologia

Do ponto de visa geológico, a costa sudoeste possui uma grande diversidade facilmente visível ao longo das arribas marítimas onde se podem observar diversos tipos de rocha de diferentes idades e história geológica.

Como exemplos desta diversidade podem referir-se as rochas magmáticas, que ocorrem sobretudo no concelho de Sines, as rochas metamórficas – xistos e grauvaques – do maciço antigo, especialmente visíveis na zona do Almograve e Cabo Sardão, frequentemente cobertas por rochas sedimentares, onde predominam os arenitos de idade recente magnificamente representados na freguesia de Porto Covo  onde formam afloramentos de grande importância paisagística como, por exemplo, a Ilha do Pessegueiro.

Todas estas formações geológicas possuem grande valor didáctico e científico uma vez que constituem testemunhos importantes da história geológica portuguesa e mundial.

Flora

As características climáticas, a elevada variedade de ambientes, bem como a posição geográfica do litoral sudoeste, onde se entrecruzam influências de diversas origens, conduzem à existência de uma flora extremamente diversificada e rica em espécies. Existem na região mais de 600 espécies de plantas superiores entre as quais algumas de origem e distribuição restritas ao território português – os endemismos que se tornam progressivamente mais importantes no sentido Norte-Sul. Existem no total 46 espécies ou subespécies endémicas conhecidas, o que corresponde a perto de 50% dos endemismos portugueses o que torna a costa sudoeste naquela que maior número de endemismos nacionais reúne. É o caso de plantas como Biscutella vicentina, Diplotaxis vicentina e  Hyacinthoides vicentina, cujos nomes específicos resultam da sua distribuição geográfica restrita a pouco mais que os Cabos de Sagres e S. Vicente. Ainda mais raras são Silene rothmaleri e Plantago almogravensis que tinham já sido consideradas extintas quando nos anos 90 foram encontradas pequenas populações de ambas as espécies. Salvar da extinção estas e outras plantas ameaçadas é um dos objectivos de conservação mais importantes do Parque Natural evitando que aconteça com elas o que aconteceu com Armeria arcuata provavelmente extinta como resultado da reconversão agrícola decorrente da instalação do perímetro de rega do Mira.

Na área do parque situada no concelho de Sines, desde São Torpes ao Barranco do Queimado (a Sul da Praia da Ilha do Pessegueiro) predominam as espécies adaptadas aos solos arenosos, geralmente pobres em nutrientes e água, característicos das zonas dunares que marginam a maior parte desta extensão de costa. É sobretudo uma vegetação rasteira que pouco se desenvolve, devido à pobreza dos solos e à acção mecânica do vento e da salsugem que transporta, e que se apresenta frequentemente sob a forma de extensos tufos. As espécies mais comuns são o Cordeiro-da-praia (Othantus maritimus), o Estorno (Ammophila arenaria), a Granza-da-praia (Crucianella maritima) e o cardo maritimo (Eryngium maritimum) que desempenham um papel importantíssimo na fixação das dunas, impedindo o seu avanço para o interior. É também comum encontrar-se o Chorão (Carpobrotus edulis), uma espécie introduzida pelo homem com intenção de fixar as areias dunares mas que, pelo seu carácter invasor, tem provocado sérias alterações  nos ecossistemas originais levando ao desaparecimento de algumas espécies animais e vegetais nativas.

Para o interior, nas areias já estabilizadas, a acumulação de matéria orgânica e a diminuição da intensidade do vento e da salinidade, permite a ocorrência de espécies de maior porte como os Zimbros (Juniperus sp.), Thymus sp. ou o Trovisco-fêmea (Daphne gnidium).

Fauna

Não menos interessante que a flora, a fauna do Parque Natural apresenta um conjunto de espécies que lhe conferem grande importância e valor de conservação. A costa sudoeste é o único local conhecido mundialmente onde a Cegonha-branca (Ciconia ciconia) nidifica em falésias marítimas. As mesmas falésias são também utilizadas por outras aves de grande valor conservacionista como o Falcão-peregrino (Falco peregrinus), Águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus) ou a Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax). Nas zonas mais baixas, a Norte, ocorre também uma população de lontras (Lutra lutra) que utiliza o mar como local de alimentação, sendo a única no país a fazê-lo. Estas lontras ocorrem na dependência de linhas de água que utilizam para se lavarem do sal marinho após se alimentarem, de modo a que o seu pelo conserve as capacidades isolantes. De entre estas linhas de água destaca-se a Ribeira de Morgavel, que desagua na costa de São Torpes que é intensamente utilizada na época balnear o que parece não afectar significativamente estes animais uma vez que têm hábitos nocturnos ou crepusculares. Na área do Parque Natural vive também um dos mais emblemáticos símbolos da Conservação mundial – o Lince Ibérico (Lynx pardina) que se encontra à beira da extinção.

Para além destes casos de grande valor conservacionista, existe uma grande variedade de animais vertebrados e invertebrados que vivem ainda em equilíbrio nos vários ecossistemas do PNSACV. A não esquecer, e muito facilmente observáveis por um banhista atento, são a fauna e flora marinhas que povoam a zona litoral e que têm uma grande importância na história, cultura e gastronomia locais.

Património Histórico-Cultural

Encontram-se diversas referências histórico-culturais ao longo de toda esta costa que correspondem às vagas sucessivas de ocupação humana. A título de exemplo mencionam-se: A estação arqueológica da Samouqueira (junto a Porto Covo) do mesolítico, o Forte do Pessegueiro, construído no séc. XVI para proteger a costa da pirataria, e junto a este, diversas estações da Idade do Bronze e Época Romana. Mais a Norte, perto de São Torpes existem também vestígios de actividade humana de utilização dos recursos litorais: os concheiros.

Podem também observar-se vários monumentos da história mais recente (fortes e igrejas) e ainda diversos exemplares da arquitectura popular da região (os famosos montes alentejanos) bem como outras manifestações da cultura popular com destaque para os objectos e usos associados à exploração dos recursos marinhos tão abundantes na região.

Para saber mais:

http://www.icn.pt/

http://www.alentejodigital.pt/natureza/litoral/zsudoeste.html

http://www.terrasdemouros.pt/costavicentina.asp

http://www.terravista.pt/guincho/2577/