[ Setúbal na Rede] – APPACDM – Editorial

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EDITORIAL

        A constante necessidade de rectificar Trabalhar com seres humanos, isto é na área das ciências humanas é totalmente diferente de qualquer outra actividade laboral, quer se situe nas designadas ciências exactas, ou mesmo das compêndios da economia ou direito, principalmente porque não lidamos com uma exactidão milimétrica das medidas ou dos números, mas sim com um nível de abstracção superior ao de outras profissões, o qual obviamente deve ser contabilizado e constantemente aperfeiçoado, como forma privilegiada de atingir uma maior perfeição e como consequência directa mais exactidão.

O facto de ético – deontologicamente lidarmos com seres racionais, impossibilita a realização de um conjunto alargado de experiências tão comuns em outras áreas cientificas, de modo que muitas vezes a própria realidade serve de observatório e campo de provas às hipóteses dos técnicos, (as quais obviamente se revelam verdadeiras ou falsas), permitindo a continuidade ou reformulação de todo um conjunto de modos de operação, no trabalho diário com situações específicas e com a população em particular ou em grupos mais abrangentes.  

Por muito que se queira enfatizar a percentagem de êxito na definição segura de testes psicológicos (como a Wechsler ou a Griffiths), psicotécnicos ou sóciometria, a verdade é que estes por si só apenas garantem uma boa base de trabalho (junto com outros elementos) e não 100% de certeza de resultados, já que o ser humano como racional que é aprende com a experiência, aprofundando assim ao longo do tempo a capacidade de responder melhor às questões e objectivos, bem como pelo facto de, muito dificilmente a mesma pessoa conseguira resultados iguais na realização do teste, independentemente de o efectuar com horas, dias ou meses de diferença.              

Se é certo que este pode ser um argumento com alguma validade utilizado pelos adeptos das ciências ditas “exactas” , na verdade se um qualquer técnico utilizar um lógico cruzamento dos dados extraídos de várias fontes, certamente que ditara por terra uma grande parte das críticas ao conseguir um grau de exactidão próximo das restantes certezas de outras áreas cientificas, as quais também têm visto o tempo e a investigação rebater e ostracisar muitíssimas teorias.    

Rectificar, têm de ser visto como um processo perfeitamente normal aquando do trabalho com seres humanos, visto que inevitavelmente a constante mutação situacional provoca a alteração do quadro da problemática e da própria situação social, mas que suficiente para provocar a inoperância ou desadequação do método de intervenção traçado, e não, como um erro ou desqualificação teórico-prática da estratégia como forma de alcance de determinado resultado, tantas vezes usado e abusado como forma de banalizar incompetências  e desadequar classes profissionais. 

Até porque, muitas vezes a cedência de trabalho por muito elevada que seja, irá apresentar resultados morosos, em que cada pequeno passo assemelha-se a uma vitória, exemplifica não a desadequação dos processos usados, mas sim mais uma das especificidade de trabalhar com um sistema tão complexo como o próprio ser humano.

Acima de tudo, das ciências humanas deve-se esperar a resolução da problemática até certo ponto, pautada por meios e fins de longo-prazo, alicerçados numa base de planificação alargada e em métodos científicos reconhecidos, mas em que os milagres apresentam-se extremamente difíceis de suceder, até porque o homem continua a ser a maquina mais complexa até hoje vista, e principalmente a ética e a moral actuam como travão nas experiências que sem dúvida poderiam significar um verdadeiro avanço, mas às quais se reconhece que o resultado negativo poderia ser demasiado severo para a compreensão da população em geral.

Miguel Ferreira
Técnico Superior de Serviço Social da APPACDM / Setúbal