por Ana Mendes
(socióloga)
Avaliação do desempenho
na Função Pública?!
Ontem, fazendo zapping pelos canais de televisão, apanhei uns momentos de uma entrevista com o Sr. Ministro das Finanças, onde este falava da necessidade de fazer a avaliação de desempenho dos funcionários públicos. Confesso que me deu um bocadinho de vontade de rir, sabendo eu como estas são feitas, e sobretudo porque são feitas apenas de cima para baixo; ou seja, os superiores nunca são avaliados pelos seus subordinados, logo o sistema, que já sofre de um elevado viés, acaba por não ter validade, visto ser feito numa única direcção.
Contudo fiquei a pensar sobre o assunto, e concluí que apesar de tudo é melhor uma avaliação do que avaliação nenhuma. A avaliação do desempenho representa uma necessidade no plano organizacional, permite julgar o nível de adaptação das pessoas às suas funções, assim como a própria qualidade das estruturas organizacionais onde se inserem, por outro lado corresponde a uma necessidade humana, visto que todos os indivíduos que tenham um mínimo de consciência profissional acabam por sentir necessidade de se avaliar dentro do contexto do seu trabalho.
As necessidades induzidas pelo desenvolvimento do trabalho, na sua constante evolução, tornam essencial que em qualquer ramo de actividade se façam reavaliações periódicas no sentido de conceber um plano de acção para o próximo período de funcionamento, seja ele um ano, como é costume ou um qualquer outro intervalo temporal que seja conveniente para a actividade em questão. Para haver um ponto de partida na concepção de um plano de acção é preciso saber o que foi feito até aí e como foi feito.
Contudo a avaliação é uma tarefa ingrata, visto que os critérios sofrem frequentemente de alguma rigidez, que acaba sempre por prejudicar alguns e beneficiar outros, quando aplicados individualmente. Daí que para ser eficaz uma avaliação de desempenho tem de se basear em dois aspectos: os resultados do trabalho e as características de personalidade, analisando-se por isso o desempenho no cargo, a capacidade do indivíduo e o esforço individual. Por outro lado, para ser verdadeiramente válido o sistema devia comportar quer a avaliação por um superior, quer pelos colegas do mesmo nível hierárquico, quer os nível hierárquico inferior, quer a auto avaliação. Só a análise de todas estas medidas de desempenho – Cada uma com uma ponderação especifica no resultado final – nos podem dar a verdadeira notação do desempenho de um indivíduo.
Por outro lado, além de avaliações individuais procura-se frequentemente avaliar o resultado global de um conjunto específico de pessoas, por exemplo imagine-se uma equipa encarregue de desenvolver um projecto. Logo os critérios teriam de ser aplicáveis dentro de um determinado contexto a todos os envolvidos, não esquecendo as características individuais que fazem com que essa pessoa tenha um contributo importante – ou não…- para o bom funcionamento desse projecto especifico em que todos participam…
Os objectivos da avaliação de desempenho duma equipa devem ser uma oportunidade de carácter motivacional, para rever os objectivos atingidos, ou por atingir até ao momento, e proporcionar uma discussão sobre as necessidades de melhoria, programando planos e objectivos que possam ajudar a atingir um patamar cada vez mais elevado; daí a necessidade de serem regularmente aplicados os instrumentos de avaliação de desempenho.
Para que serve uma avaliação? Para redesenhar as equipas de trabalho ou os métodos, melhorar ou manter como está e sobretudo envolver toda a gente, uma equipa, e quem diz uma equipa diz uma instituição… que até pode ser um Ministério…para ser verdadeiramente operacional tem de ser dinâmica e constantemente sujeita a reapreciação, de forma a facilitar a fluidez de funcionamento.
Ocorre-me imediatamente ao escrever isto que há uma equipa pública que precisa urgentemente de se auto avaliar e ser avaliada pelos outros, de forma a corrigir o seu funcionamento a equipa que tratou do processo de colocação dos professores no Ministério da Educação!…Para que para o ano não aconteça tudo outra vez.
É urgente pôr em prática as ideias do Sr. Ministro das Finanças!