Setúbal já tem ligação ferroviária a Lisboa
O ministro dos Transportes e Obras Públicas, António Mexia, inaugurou hoje a extensão ferroviária do “comboio da ponte” entre Coina e Setúbal. Um investimento de 255 milhões de euros que é “indispensável para o sucesso dos transportes públicos”. Desde o início da concessão do “comboio da ponte”, a Fertagus já transportou 80 milhões de passageiros. António Mexia deixa o desafio para que “em 2005 se possa ultrapassar a barreira dos 100 milhões”.
A partir de hoje, Setúbal e Lisboa estão ligadas através do transporte ferroviário. Viajar entre a capital de distrito e a capital de Portugal passa a ser “mais rápido e cómodo”, através da abertura de seis novas estações – Coina, Penalva, Pinhal Novo, Venda do Alcaide, Palmela e Setúbal. Para o governante António Mexia, este novo serviço “é o tipo de projecto que muda a vida das pessoas”. Isto porque, vai permitir a “melhoria significativa das condições de mobilidade na Península de Setúbal”. Além disso, passa a haver uma oferta total de 30 mil lugares, por hora, na travessia da ponte.
A extensão da linha até Setúbal é “muito importante”, pois trata-se da duplicação do alcance da concessão de 27 quilómetros para 55, para além de representar um “enorme investimento público”. Para além das “vantagens em termos de qualidade, conforto e segurança”, os passageiros vão poder realizar a viagem com “muito mais rapidez”. Entre as estações de Setúbal e Sete Rios a viagem dura cerca de 51 minutos.
No entanto, para que a procura corresponda à oferta, António Mexia defende que “as pessoas têm de acreditar nas vantagens dos transportes públicos” e começar a deixar o carro em casa. A qualidade dos interfaces do lado de Lisboa já é muito boa e “hoje é possível viajar em rede nos caminhos-de-ferro”.
Para além da rede de transportes rodoviários, a existência de parques de estacionamento “é fundamental”, no entender do ministro. No entanto, em Setúbal não foi construído nenhum parque de estacionamento, numa cidade onde há dificuldades nesta matéria. Sobre isto o ministro dos Transportes e Obras Públicas diz que “sempre que é possível, as estações são colocadas em locais onde se possa construir estacionamentos”. Já em Setúbal não há essa viabilidade “por questões de espaço físico”.
Preocupante é também, segundo o presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Carlos de Sousa, o facto de o preço dos bilhetes ser “um pouco elevado”. Um bilhete simples entre Setúbal e Lisboa custa 3,90 euros, enquanto um pré-comprado custa 3,20 euros. O passe mensal simples custa 87,75 euros, enquanto o preço do passe combinado é de 94,25 euros. António Mexia refere, no entanto, que andar de comboio “é mais barato do que viajar de autocarros, para além de ter vantagens acrescidas”. Se as pessoas fizerem contas ao que gastam nas viagens de transporte particular “a diferença é incomparável”.
O eixo ferroviário norte-sul é, no entender do ministro, “um exemplo claro daquilo que deve ser um serviço público”. Foram investidos, globalmente, na linha-férrea entre Lisboa e Setúbal mais de mil milhões de euros. Esta infra-estrutura teve a participação dos contribuintes que, através dos impostos, a pagaram. Agora, “deve ter a respectiva resposta dos consumidores”, para que se justifique a despesa pública. Só assim se consegue o “equilíbrio necessário entre contribuintes e consumidores”. São estas duas partes que “ditam o sucesso de qualquer infra-estrutura de transportes públicos”.
Também o presidente do conselho de administração da Fertagus, José Luís Catarino, mostra-se “muito satisfeito” por a empresa dar “mais um passo no sentido do crescimento”. A Fertagus passa a servir mais seis estações, o que perfaz uma população-alvo de 600 mil habitantes. O responsável disse ainda ao “Setúbal na Rede”que os preços são “muito acessíveis”, sobretudo o do passe mensal que é o mais utilizado pelos utentes da Fertagus.
À margem desta cerimónia oficial de inauguração da extensão entre Coina e Setúbal, o ministro voltou a confirmar que “vai haver pagamento de portagens nas ex-Scuts”. António Mexia garante que o princípio que já foi anunciado publicamente “é para aplicar” e só falta, mesmo, “negociar contratos e trabalhar para que tudo comece a funcionar”. O ministro acrescenta, no entanto, que “há excepções para os residentes das áreas de influência das Scuts”. Relativamente à Via do Infante, assegura que também vai ser implementado o pagamento de portagens. Garante ainda que os turistas não vão ficar isentos de pagar, pois seria “injusto” para os algarvios.
Estão a ser feitos estudos de mobilidade, por isso, pode haver ainda “pequenas alterações”, mas de resto o princípio vai ser “o mesmo para toda a gente”, de modo a tornar o sistema mais justo. “Todas as pessoas devem sentir que o sistema é eficiente e é junto e isso não acontecia até hoje”, remata. O ministro frisa que o Estado investiu 300 milhões de euros na modernização da linha Lisboa – Faro, o que “permite percorrer esta distância em apenas 02h45m”. Isto para além do que ainda está planeado em termos de TGV e de melhoria de rede secundária. Para o ministro, “querer separar qualquer ponto do sistema é pura demagogia e uma asneira como aconteceu com as scut”, remata.
Autarcas apontam críticas a preços e falta de acessos
Para o presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Carlos de Sousa, este é um dia “muito importante”, nomeadamente para Setúbal, pois concretiza-se a “ligação da capital do distrito de Setúbal à capital do país, através de comboio”. É um meio de transporte moderno, que permite um maior conforto e rapidez, e, assim, representa um “salto qualitativo para a melhoria da vida dos cidadãos”.
Para as pessoas que trabalham em Lisboa e que têm de se deslocar diariamente, as vantagens “são muitas”. A qualidade é “muito superior à oferecida pelos autocarros”. No entanto, o autarca defende que o preço do bilhete para as pessoas que utilizem este meio de transporte esporadicamente é “um pouco elevado”. “É um valor que não condiz com o nível de vida do cidadão português”, refere. O autarca reconhece, no entanto, que este seja o valor que “melhor se adequa ao montante do investimento realizado nesta infra-estrutura”.
Para o presidente da Câmara do Seixal, Alfredo Monteiro, a ligação deste concelho a Setúbal “melhora significativamente a mobilidade entre os lados sul e norte da península”. A ligação a Lisboa dá uma resposta importante às necessidades da Península de Setúbal nesta matéria.
O autarca relembra a dúvida sobre a possibilidade de “piorar a qualidade do serviço devido ao prolongamento do tempo de espera para dez minutos e por os comboios estarem mais cheios”. No entanto, espera que este aspecto seja compensado com uma “oferta maior”, pois passam a haver 30 mil lugares a partir de Coina.
Reconhece, no entanto, que “é preciso fazer muito mais” em relação à atractividade do transporte público. O problema “não está apenas na relutância do utente”, mas também porque, por exemplo, “ainda há problemas de rede viária, em vários locais, e de oferta de transportes”. Além disso, há redes de transportes que “funcionam mal” e o Seixal “também tem este problemas, até porque não possui propriamente uma rede de transportes públicos”. Por isso, defende que “é necessário investir mais nesta área”, para que “aumente a utilização dos transportes públicos”.
A acessibilidade viária ao comboio “é importante” para que a intermodalidade funcionem bem. É difícil aumentar a quota de utilização “se não houver uma rede de transportes que responda às necessidades das pessoas”. Reafirma que, à semelhança do que aconteceu para a primeira fase da concessão, também, desta vez, “há um conjunto de acessibilidades que não foram construídas pela Refer”. Os acessos à estação de Coina, por exemplo, “são muito maus”.
Dificuldades nas primeiras horas da nova ligação
Na primeira manhã de utilização da extensão entre Setúbal e Coina nem tudo correu pelo melhor. O início do funcionamento da nova extensão levou à alteração dos horários das carreiras suburbanas da Linha do Sado. Os utentes foram “apanhados de surpresa”, tal como confirmou o “Setúbal na Rede” junto de algumas pessoas que se encontravam nas estações. A empresa não afixou os habituais cartazes informativos, e o resultado é que quer nas estações, quer nos próprios comboios “nada alertava para a antecipação, em nove minutos, de todas as carreiras”. Em plena hora de ponta, foram muitos os utentes que perderam o transporte habitual.
Há ainda pessoas que denunciam o facto de na estação de Setúbal existir “apenas uma máquina para picar bilhetes”, o que gerou filas enormes. Segundo uma utente, às 07:56h “não havia funcionários na bilheteira, nem para prestarem apoio aos novos utentes”. Muitas pessoas não terão conseguido apanhar este comboio já que, segundo a mesma fonte, “se gerou uma grande confusão de pessoas e porque apenas as três primeiras carruagens seguiram viagem”.
Às 08:20h partiu outro comboio da estação de Setúbal, mas este não foi até Lisboa e parou em Coina e foi mesmo necessário o envio de outro. Este, “devido a problemas técnicos, fez muitas paragens entre as estações e chegou a Lisboa por volta das 09:30h”. Além disso, para se tratar do passe mensal “só pode ser no Fogueteiro ou no Pragal”, o que não corresponde às expectativas de quem mora no concelho de Setúbal.
Sobre este assunto, Luís Catarino refere que “é normal haver um tempo de adaptação”, até porque o serviço iniciou-se numa quarta-feira, depois de um feriado. No entanto, mostra-se satisfeito por, já nestas primeiras horas, sobretudo a estação de Coina ter registado uma “grande afluência de passageiros”, bem como o facto de a utilização desta estação ter “ultrapassado as expectativas”.