OPINIÃO
Ângelo Reis
(Técnico Superior de Segurança e Higiene no Trabalho e Ex-director
da revista “segurança”)
Como lidar com o stress no trabalho
Algumas sugestões
Cada vez mais se reconhece que o stress no trabalho tem consequências indesejáveis para a saúde dos trabalhadores, bem como das empresas em que trabalham. Por esta razão, a Agência Europeia Para a Saúde no Trabalho encomendou um relatório para avaliar esta situação.
O relatório analisa a natureza do stress no trabalho.
Existe um consenso para definir o stress relacionado com o trabalho em termos das “interacções” entre o trabalhador e o ambiente de trabalho (exposição de factores de risco). Segundo este modelo, pode-se dizer que o stress é ressentido quando as exigências do ambiente de trabalho ultrapassam a capacidade do trabalhador de fazer face a essas exigências (ou de as controlar). Ao definir o stress desta forma, coloca-se a tónica nas causas relacionadas com o trabalho e nas medidas de controlo necessárias.
Por outro lado, na literatura de investigação actual existe, também, um concurso razoável sobre os perigos psicossociais do trabalho que são ressentidos como stressantes e/ou potencialmente nocivos.
Assim, as características stressantes do trabalho são, no contexto do trabalho: falta de comunicação; baixos níveis de apoio na resolução de problemas e no desenvolvimento pessoal; falta de definição dos objectivos organizacionais; ambiguidade e conflito de papeis; imprecisão da definição das responsabilidades dos trabalhadores; estagnação na carreira e incerteza; promoção insuficiente ou excessiva; salários baixos; insegurança no emprego; baixo valor social do trabalho; falta de participação no processo de decisão, falta de controlo no trabalho; isolamento social ou físico; relações deficientes com os superiores; conflitos interpessoais; falta de apoio social; incompatibilidade das exigências trabalho/vida privada; falta de apoio em casa; duplos problemas de carreira.
No conteúdo do trabalho, as condições que também determinam perigos, são: problemas com a fiabilidade; disponibilidade; adequação e manutenção ou reparação do equipamento e das instalações; falta de variedade ou ciclos de trabalho curtos; trabalho fragmentado ou menor; subutilização das competências, alto nível de incerteza; subcarga de trabalho ou quantidade de trabalho insuficiente; falta de controlo sobre a cadência, altos níveis de pressão relativamente a prazos acordados para as tarefas; trabalho por turnos, horários rígidos, horas imprevisíveis, períodos longos ou fora do normal.
Estes, os factores organizacionais susceptíveis de constituir um risco prejudicial à saúde e à produtividade/rentabilidade individual e colectiva. Torna-se necessário estabelecer soluções práticas para os problemas do stress relacionado com o trabalho. Para isso propõe-se a utilização da gestão do risco/controlo do ciclo como enquadramento para a resolução dos problemas, entendendo-se como controlo do ciclo o processo sistemático pelo qual os riscos são identificados, analisados e geridos e os trabalhadores protegidos.
Esta é a estratégia que as empresas devem utilizar para a avaliação de todos os riscos psico-sociais do trabalho.
Concluindo, a principal tarefa para resolver o problema é a gestão do stress, sua avaliação e natureza fundamental. É também clara a necessidade de avaliar e monitorizar vários aspectos da concepção e gestão do trabalho, bem como aquilo que é designado como “mundo do trabalho em mudança”, i.e. novos padrões de trabalho que podem ser portadores de riscos complementares e imprevistos para os trabalhadores e as empresas.
P.S. Estamos em plena quadra natalícia, quadra própria para também reflectirmos nos riscos que o mundo do trabalho encerra, não só aqui como nas nossas casas, nas estradas, nas escolas, nos brinquedos, nos espaços de recreio. Sejamos exigentes para com nós próprios, sejamos prudentes. Basta de acidentes estúpidos!!.
Desejo-vos um Feliz Natal e um ano com muita segurança.