DO “SETÚBAL NA REDE”
Actual Provedor do Leitor: João Palmeiro
Contacto: [email protected]
Todos somos cidadãos
e consumidores de informação
Caros leitores do “Setúbal na Rede”,
A Indústria da Comunicação em Portugal tem estado nas últimas semanas, ela própria, nas primeiras páginas dos jornais. Poderia parecer que qualquer nova legislação acabava de ser implementada, ou que algum grande grupo de media tinha sido vendido, ou que uma nova tecnologia revolucionava as redacções.
Nada disso. Assistimos ao lento acordar da consciência de cidadania sobre o papel dos media. Na democracia, no entretenimento, na sociedade do conhecimento. Num país onde se afirma com ligeireza que há défice de leitura, e portanto de pensamento, é preciso olharmos de perto este assentar de poeira depois dos casos mediáticos dos últimos dois ou três anos. Como provedor do leitor do “Setúbal na Rede”direi que o ponto de viragem – o corner stone à americana ou a pedra de remate, como diria Mestre Domingos sob a abóbada capitular da Batalha, – é a saída de Fernando Lima (FL) do DN.
Nesse episódio encontram-se todos os condimentos da mediocracia, os media como centro dos poderes da sociedade. A evidência de que o chamado quarto poder não é como os outros três, nem se relaciona hierarquicamente com eles.
Quero aproveitar esta oportunidade para tornar mais claro para os leitores do “Setúbal na Rede” o meu pensamento sobre os media e o seu papel na sociedade.
O que FL veio dizer todos conhecemos há mais de duas décadas, desde que as Relações Públicas passaram a linha do espaço político. Na Europa, numa tradição muito diferente dos EUA, a chegada das técnicas da publicidade e das relações públicas à política aconteceu de facto no inicio dos anos 80, em França (Mitterand), no Reino Unido (Thatcher e Diana) e na Alemanha (Khol).
O desenvolvimento tecnológico permitiu que as técnicas do chamado agenda-setting se instalassem nas redacções – o que determinou definitivamente que os jornalistas passassem de mediadores a organizadores de informação e por essa razão a “alvos” dos sistemas de apresentação de benefícios e vantagens informativas – acompanhadas de todo um sistema de medição e análise dos impactes que se tornaram indispensáveis ao marketing das actividades que hoje chamamos de agência de comunicação e, com o tempo, também se aplicaram às notícias.
Também nestas últimas semanas se falou de uma central de informação que o Governo estaria a preparar. Para além da análise à designação deste serviço ainda ninguém explicou como funcionaria e, portanto, se estaria perto ou longe de ser uma versão estatal ou governamental (o que no caso vertente é bem diferente) de uma agência de comunicação.
Tudo isto vem a propósito do que seria praticamente impossível um provedor do leitor fazer: interpretar o que motiva cada notícia, cada opinião, guiar os leitores nos caminhos das relações públicas informativas, explicar quando o valor de mercado de uma informação se sobrepõe ao valor de cidadania, quando o destinatário é visto como um simples consumidor de informação e não um cidadão.
Esta seria uma tarefa benéfica para todos mas impossível porque o mundo da comunicação de hoje está cada vez mais parecido com o que Ignácio Romanet descreveu. Fernando Lima é uma personagem dessa novela. Infelizmente verdadeira e sem ficção.
Para a semana cá estarei para responder às questões e às dúvidas dos leitores do “Setúbal na Rede”.
Boa semana de cidadania.
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