CONECTARTE – CONSELHOS PRÁTICOS E RECEITAS DE FELICIDADE

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Vamos lá a ver:

Pois meu caro, o seu dilema é o resultado desta anarquia chamada democracia. No tempo da outra senhora, nada disso acontecia. A vida era simples, as opções eram óbvias: ou se estava pelo Bem ou se estava pelo Mal, sendo o Bem tudo o que vinha do lado dos “nossos” e o Mal tudo o que vinha do lado dos “outros”.

Isto não significava que a sua opção estivesse certa mas que era um descanso, ai isso era, porque não ficava nem uma gota de remorso, nem uma unha de dúvida. Era um pouco como o Super-Homem que, faça ele o que fizer, sabe-se sempre que ele é o Bom. Mesmo que um dia fraqueje, mesmo que se engane temporariamente, mesmo que haja como os maus por ter sido vítima de uma cilada ou de uma droga desconhecida. O Super-Homem é sempre o Bom e os outros dividem-se em “bons cidadãos indefesos” e “inimigo público nº 1 e seus capangas”.

Certamente o Super-Homem é um polícia exemplar mas o leitor já percebeu que a sociedade é muito mais que polícias e ladrões. Há outras classes também perigosas ou ambíguas: vigaristas ocasionais, oradores demagógicos, representantes alheios visando o interesse próprio, corruptos, subornados, políticos oportunistas, jornalistas vendidos, “dealers” da droga e de armas disfarçados de cidadãos idóneos, organizações de fachada, empresas fantasma, lavagem de dinheiro, comércio de facturas, comércio de influências, traficantes de mulheres e crianças mascarados de guardiões do sistema e da moral, caciques mascarados de benfeitores, e por aí for a.

Mas vamos mais directamente à sua questão, com um exemplo:

  • Quem tem razão no caso da vacas-loucas? Os cientistas que alertam para o perigo? As comissões europeias que impõem embargos e enviam inspectores concluindo que há perigo em  Portugal mas não em Espanha? Os produtores e industriais do ramo que dizem que isso são manobras políticas e económicas para favorecerem certos interesses europeus? Os matadouros que dizem que está tudo controlado e não há perigo? Os que querem é que se levante o embargo, preocupando-se mais com as implicações económicas e políticas do que com a obtenção de  garantias reais de que não há perigo para a saúde pública? O ministro que vai à televisão comer carne de vaca para dar  exemplo de que não há razão para medos? Os que exigem a proibição de carne de vaca nos refeitórios das escolas primárias?

Afinal qual é a importância da “coisa”? Quem é que nos diz, de uma vez por todas, se podemos ou não comer carne de vaca tranquilamente ou qual a atitude a tomar? Quem, em última instância,  é suposto ser o porta-voz da questão para o cidadão?

E poderíamos lembrar-lhe outros exemlos que, certamente, têm sido quebra-cabeças para si:

  • O Daniel Campelo com o seu golo “eusebiano” no jogo do OGE revelou ser um oportunista, um vendido, um corrupto? Ou é um político puro, um exemplo de servir os seus, um prático que ultrapassa as jogadas políticas para mais depressa satisfazer as necessidades reais de quem representa?
  • O João César Monteiro, com o seu filme sem imagem, é um maluco ou um génio? Um grande artista  que, não obstante, fez uma cagada legitimada pelo seu estatuto ou um maníaco-depressivo que foi incapaz de fazer o filme que se tinha proposto mas não o reconheceu?
  • Em Portugal estamos a viver melhor ou pior? Em que estatíscas devo acreditar?
  • Afinal o Portugal democrático e socialista é como um país do 3º Mundo no que toca à violação dos Direitos Humanos porque mais uma vez surge “bem” colocado no relatório da Amnistia Internacional sobre o tratamento de prisioneiros e detidos quer em prisões quer nas esquadras policiais? Ou a Amnistia é uma organização tendenciosa e não credível?

 Pois é. Quando estiver perante estas dúvidas desista de procurar a verdade. Há um pouco de verdade e um pouco de mentira em todas as afirmações. Se não conseguir dados objectivos para optar só lhe resta o que é normal: desistir de procurar Anjos e Santos porque esses ou são ficção ou estão afastados da cena pública.

 É que a lei da “sobrevivência” não se aplica só aos animais na selva mas também à nossa sociedade humana. Todos se movem numa teia de interesses, compromissos, tácticas e estratégias para sobreviverem, seja o Sr. Joaquim, seja o Partido da Malta, sejam os profissionais de qualquer ramo, a Polícia ou a Comissão do Bairro de Cima.

Tal não significa, necessariamente,  que todos sejam desonestos apesar de muito frequentemente se tratar disso mesmo: simples carreirismo e interesse próprio. Mas como é num mundo-cão que vivemos, não se pode ter a ilusão de resolver as coisas apenas com as boas-intenções. Muitos vezes há que engolir sapos para  se levar a água ao nosso moinho. Ou seja:

 Nem sempre a verdade é o mais conveniente.