Celebrações oficiais e alternativas
Efeméride: No dia 15 de Setembro Bocage nasceu. Foi há 235 anos.
O modelo das comemorações oficiais como as que pretenderam homenagear este Nome da cidade de Setúbal está mais que gasto.
É uma das coisas que muitas vezes me pergunto: porque insistir neste tipo de festividades se é tão óbvio que elas só conseguem sensibilizar, naturalmente, as personalidades que são compulsivamente envolvidas por tabela, as que são condecoradas neste dia ou aqueles que, de algum modo, participam profissionalmente nas mesmas (artistas, técnicos, jornalistas…)?
Se estas acções se destinam, por definição e porque não há qualquer outra razão que as possam justificar, a Evocar, isto é, a sensibilizar a população para o Homenageado, a Reavivá-lo, a não deixar que seja esquecido porque faz parte do património da cidade, porque repetir ano após ano um modelo de festejo que apenas sensibiliza os próprios participantes? É que estes apenas deveriam ser agentes e não destinatários. O público… esse nem dá por nada.
Gostaria de fazer um inquérito à população sadina, no próprio dia ou no dia a seguir.
Perguntas:
– Acha que Bocage é um nome assim tão importante que mereça um dia municipal?
– Porquê (porque não?)
– Sente hoje mais interesse por Bocage?
– Está hoje mais sensibilizado para a sua importância na nossa História?
Tenho a certeza que as respostas seriam…. o que se imagina. Quem já sabia continua a saber, quem não sabia continua a não saber. Porque as comemorações institucionais são, precisamente, o que menos motiva. É o velho esquema dos discursos, sempre para os mesmos, dos actos solenes, umas medalhinhas da cidade (por este andar em breve todo o cidadão de Setúbal será medalhado, e ainda dizem que não há democracia) e um ou outro espectáculo que tanto é no dia de Bocage como podia ser no dia da Nossa Senhora da Conceição.
Todo este triste arrastar de efemérides cria-me a urgência da ideia de cidadania. Cada vez mais temos que nos deixar de apenas criticar as entidades por não fazerem. Há que esperar que elas cumpram o que lhes compete, sim, há que lhes exigir empenho e criatividade, mas não podemos limitar-nos a isso. É isso mas não só.
No nosso próprio interesse, se criticamos porque sentimos a falta de algo ou porque acreditamos que esse algo está mal feito, se não o dizemos apenas por razões políticas, então… porque não o fazemos nós e como nós queremos?
Foi isso que fizeram, este ano, alguns cidadãos. Sentiram a falta de uma evocação mais viva, mais actuante. O programa oficial não era motivador, mais uma vez. Puseram então mãos à obra e surgiu, em duas semanas de preparação, uma Tertúlia informal (como deve ser uma tertúlia), com mais de cem pessoas de todas as tendências e status, comes e bebes, poesia e música e um ambiente muitíssimo agradável num belo salão.
Foi isso que fizeram, este ano, alguns cidadãos. Sentiram a falta de uma evocação mais viva, mais actuante. O programa oficial não era motivador, mais uma vez. Puseram então mãos à obra e surgiu, em duas semanas de preparação, uma Tertúlia informal (como deve ser uma tertúlia), com mais de cem pessoas de todas as tendências e status, comes e bebes, poesia e música e um ambiente muitíssimo agradável num belo salão. |
Certamente haverá críticas a fazer. Poderia ter sido mais assim, menos assado, faltou isto, teve demais daquilo. Mas foi um impulso, um exemplo de cidadania, um modelo a seguir. Provou-se que se pode fazer algo, que há pessoas que criticam porque realmente lhes faltam alternativas e não apenas por gostarem de morder as canelas de quem tem buracos nas meias.
Esperemos que para o ano haja Tertúlia de novo. E outras coisas mais. Era bom que, quem tem ideias, quem tem iniciativa, quem tem conhecimento, começasse a pensar em aplicar também esses seus recursos na realização prática do que exige aos outros. Não se trata de fazer o trabalho dos outros. Trata-se do nosso próprio bem-estar. |
Porque… se a minha empregada da limpeza faltar durante um mês, só tenho dois caminhos:
Ou espero que ela me limpe a casa porque é a ela que lhe compete e vivo na porcaria enquanto espero o cumprimento do dever… ou arregaço as mangas se quero viver num ambiente limpo.
(claro que no fim do mês não lhe pagarei o ordenado)
Acima a Tertúlia, Reviva Bocage, Reviva Luisa Todi, Reviva Calafate, Reviva Lima de Freitas, Viva Pacheco (quando morrer como será homenageado este escritor incógnito na cidade?), vivam e revivam os grandes nomes! (Ninguém bata palmas, sff. Comprem os livros deles, vejam os quadros deles,…)
Abaixo as medalhas por percentagem, abaixo os discursos por obrigação oficial, abaixo a cultura de calendário, abaixo a Animação por livro de receitas (aqui já podem bater palmas! E assobiar).
Classificados:
CMMS (Criativos Muita Malucos de Setúbal), SCRL Pelouro da cultura, Departamento de animação. |
Ou para Arte Dabliu, Lda.
Porque não?