O Natal
(respirar fundo e…)
O Natal é época de alegria, confraternização e paz entre os homens, de músicas de Natal nas ruas, nas lojas, nos comerciais da radio e televisão, de mensagens de Natal por correio electrónico, de jogar na lotaria de Natal com os colegas, tempo de dar presentes de Natal aos conhecidos, amigos e família, compra-se uma árvore de Natal plástica e enche-se com todo o tipo de enfeites e luzinhas de Natal muito brilhantes, compram-se as figuras de Natal e sacos de musgo para fazer o presépio de Natal sob o pinheiro de Natal, fazem-se ou compram-se na pastelaria os doces de Natal, as filhós, as fatias douradas, as broas, mandam-se o cartões de Boas-Festas para os que estão mais longe, faz-se uma típica ceia de bacalhau e/ou peru, todas as iguarias expostas numa mesa onde impera o verde e o vermelho, à meia-noite vem o Pai Natal pela chaminé, pôr os presentes nos sapatos dos meninos e das meninas que se portaram bem durante esse ano e aí surgem as barbies, os carecas, os carros teleguiados, telemóveis, videogames, super-heróis (recuando uns anitos,os soldadinhos de chumbo)já para não falar nas meias, lenços de assoar com monograma, cuecas ou mesmo uns outros pares de sapatos, garrafas, tudo envolto em papel colorido e harmonia, junto da árvore de Natal toda decorada com fitinhas, bolinhas, estrelinhas, Pais Natais de chocolatinho e neve artificial (que se compra em latas, dá-se uma spreisada e já estamos em pleno inverno no norte da Europa), à espera do Conto de Natal, que é escutado com muita atenção pelas crianças, no dia seguinte visita-se a família e recebe-se mais barbies, cuecas, chocolates e livros da Papelaria Prazeres, patrocinador oficial desta rubrica do Conectarte – Suplemento Cultural (passe a publicidade, coisa imoral nesta época).
A verdade é que é Natal e, esquecendo agora todo o consumo excessivo que presentemente caracteriza esta época – … neste Natal compre um telemóvel e leve dois; novidade deste Natal, compre para a menina a “Barbie na sala de partos”, que expele trigémeos em momento real e ganhe uma consulta gratuita no ginecologista Afonso de Albuquerque de Almeida; para o menino ficar feliz, neste Natal temos uma metralhadora rambólica com balas de borracha para ele se defender dos colegas e ganha para o pai um curso intensivo de “Caçadores de Galinhas” com garantia de três épocas de caça…– pratica-se a caridadezinha por 100$00 dados a uns pedintes da Baixa, 200$00 aos arrumadores de carros (porque 100$00 é a tabela durante todo o ano) e 300$00 para os peditórios da igreja ou organizações humanitárias.
Há também os filmes especiais e grandes programas de televisão que, por causa da concorrência, já obrigam o “Natal dos Hospitais” a três dias de duração, com música “mais ou menos” pimba até dizer chega (como o “Natal é todos os dias” não era mal pensado fazerem este programa 365(6) dias/ano, já agora…) ou então os programas especiais com os apresentadores profissionais a fazerem figura de “patriarcas” ou ainda com o “Big Brother” a ser o Pai Natal de três instituições de caridade.
Mas acima de tudo esta época continuará a ser a comemoração do nascimento do menino Jesus (mesmo que se seja de outra religião ou ateu), continuará a haver o Pai Natal bondoso, com as suas longas barbas brancas e fato vermelho, a ceia da família terá sempre o bacalhau com as couves e ainda que não se cante nem se leiam Contos de Natal haverá alegria, confraternização e paz estampados nos rostos de todos nós. Então,
para todos os meninos e meninas, senhoras e senhores de qualquer raça ou etnia, cultura, religião ou crença, profissão e esquema de vida, pobres ou ricos, novo-ricos e novo-pobres, bués da nice, betinhos, retro, góticos, elitistas, artistas (ou pseudo), homo-hetero-bissexuais, doentes ou saudáveis, bichosos e parvalhotes, políticos e honestos, presidentes e simplórios, tarados sexuais (ou com outras taradices), programadores e consultores, prostitutas profissionais ou em part-time e respectivos proxenetas, vigaristas e honestos, os sem-abrigo e todos os excluídos, militares de carreira, delinquentes e assassinos, guardas prisionais, prisioneiros e evadidos, despedidos e reformados, desempregados e administradores, agricultores e ministros da agricultura, solitários e sociáveis, glamorosos e sisudos, eurodeputados e top-models, artistas e managers, sindicalistas, gestores públicos e ventrílocos, cozinheiras, voluntários de ajuda, pilotos comerciais ovnis, ET’s e mais alguém que venha:
Um Feliz Natal!