CONECTARTE – CRÍTICA E OPINIÃO

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Viriato contra Rei Artur VI

(já no seu videoclube)

Muitas vezes me pergunto como é possível, o país mais antigo da Europa, com uma História de quase 1000 anos repleta de histórias e “heróis”, bons ou maus, não ver consagrados, a nível do imaginário universal, nem essas histórias nem esses heróis. É certo que o mundo continua colonizado pela cultura francófona e anglo-americana mas, agora que o nosso país fervilha  de escritores e realizadores, que internacionalmente a nossa cultura já merece algum destaque até por força de inúmeros MEGA-EVENTOS em que Portugal tem sido o centro (Expo, Feira do Livro, Capital da Cultura, Prémio Nobel, …) não seria de esperar o aproveitamento de todo o nosso património como material fantástico a revelar ao mundo?

Manuel de Oliveira fê-lo há pouco com o Padre António Vieira e registe-se, como curiosidade, que o actor brasileiro Duarte Lima, um dos que encarnou o personagem, confessou sentir-se outro homem desde que tomou contacto com o pensamento desse vulto português. Será tão difícil assim vender os nossos heróis e histórias? Recorrendo apenas à memória, ocorre-me, por exemplo: Viriato, as suas vitórias sobre o todo-poderoso Império Romano e a sua derrota por morte traiçoeira! Afonso Henriques, rei guerreiro e fundador da mais antiga nação da Europa! A trágico-poética-aventureira vida de Camões!

A aventura de Fernão Mendes Pinto com todos os condimentos do fantástico tão ao gosto de hoje! A incrível demanda do Preste João de que apenas se suspeitava a existência! Já para não falar das incontornáveis epopeias das Navegações, incluindo o Fernão de Magalhães e a sua quase volta ao mundo, sempre tão esquecido!

João Aguiar, no seu maravilhoso livro “A voz dos Deuses” recuperou Viriato para o mundo dos personagens de ficção e o resultado foi o sucesso. Imagine-se aquela história também traduzida em cinema para venda no exterior, com toda a força que este meio de comunicação possui no mundo.

Dirão os eternos puristas que para fazer sucesso no estrangeiro teria que se transformar o Viriato numa espécie de Rambo, falsificar, desvirtuar, fazer cinema comercial. Bom… mas não é isso que vemos, sem criticar, nos filmes do imaginário do Rei Artur? E não seria melhor isso do que a ignorância absoluta?

A minha ideia, nesta pequena reflexão, não era tanto a de pôr o mundo a ler os nossos livros de História mas a de mostrar a esse mundo e a nós próprios, que temos Uma História, tão ou mais rica que a dos Rambos enlatados que nos massacram diariamente. 

Ou será que ainda, como antes, só acreditamos nos Quintos Impérios se vierem de fora?


Albrecht Dürer registou, neste desenho, o primeiro rinoceronte visto na Europa. Veio da Índia para Portugal, recebido pelo Rei D. Manuel I que depois o ofereceu ao Papa.