CONECTARTE – DIVULGAÇÃO

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INSITU – ENTREVISTA

Conectarte – Salvador Peres é um dos membros do grupo musical In Situ e o seu porta-voz habitual. A propósito do próximo espectáculo queríamos fazer um balanço da vossa existência e do vosso projecto.

Para já, em poucas palavras, o que vai ser “O Canto de Pandora”, no dia 16 de Dezembro?

Salvador – O Canto de Pandora começou por ser um espectáculo centrado na temática feminina. Em Março deste ano, o In Situ apresentou, em Setúbal, um espectáculo integrado nas comemorações do Dia Internacional da Mulher. Esse espectáculo tinha como ponto de partida a busca da essência feminina em poesia feita por grandes poetas e poetisas portugueses. Buscava-se, nessa essência, a afirmação da mulher, não como fenómeno igualitário ou contraponto do homem, mas sim como elemento de substância marcadamente diferenciado dele. Ao longo das várias apresentações, porém, o grupo sentiu a necessidade de ir adaptando o concerto a uma nova concepção estética, agora menos centrada na mulher, mas com uma maior aproximação à substância poética acima da dicotomia dos sexos.

No dia 16, O Canto de Pandora vai manter o seu formato intimista, com a apresentação de 12 temas musicais de autoria do In Situ, declamação de poesia de grandes poetas portugueses e pintura ao vivo pelo consagrado Nuno David e pelo alunos da Escola de Pintura de Eduardo Carqueijeiro. Este último vai executar, acompanhando a declamação poética, paisagens sonoras de sua autoria, feitas à base de remistura de temas da música clássica.

 Conectarte – O vosso grupo pode dizer-se “amador”, uma vez que todos têm outras actividades profissionais e apenas se reúnem à noite para ensaiar.

O que vos faz correr? O que os mantém, após sete anos, nestas condições difíceis e fora das luzes da ribalta?

 Salvador – Julgo que aquilo que nos move é o desejo de expressar, através da música, a nossa visão do mundo e a nossa vontade de mudança. A música produz um sentido que transcende o acto de a criar e executar. O objecto musical que vamos criando em conjunto, depois de trabalhosamente retirado do nada, é moldado, aparado, polido, até que se transforma, ele próprio, numa coisa individual, com uma linguagem própria, fruto do colectivo e não pertencendo a ninguém. Essa experiência única une-nos e, de certa forma, compensa-nos dos sacrifícios por que temos de passar para a criar.

 Conectarte – O In Situ existe desde 1993. Tem actuado com regularidade embora com pouca frequência, talvez uma média de três ou quatro espectáculos por ano. Não me parecendo, por isso, que estejam a ganhar dinheiro significativo, quer em absoluto quer face ao esforço – recordo que o grupo só executa composições próprias, arranja, ensaia e produz os seus espectáculos, tudo isto para além dos empregos –  qual é então a contrapartida que esperam de todo esse tempo e trabalho dispendidos?

 Salvador – Isso é uma questão que começa cada vez mais a afectar o grupo. No início, em 1993, o In Situ tinha um projecto musical inovador, claramente marginal em relação à música e aos grupos de sucesso. Nesse tempo, o grupo estava centrado em três pessoas (Fernando Cameira, Diná Peres e eu próprio) que tinham um grau de identificação muito grande e assumiam que o que faziam era, prioritariamente, um exercício de criação pelo puro gozo de criar e que se esgotava praticamente no acto criativo. Ou seja, nessa altura, podíamos dizer que o In Situ era, verdadeiramente, um grupo “amador”. As coisas foram mudando ao longo do tempo. Hoje, o In Situ, sacrifica um pouco da sua “marginalidade” criativa na tentativa de se aproximar de outros públicos. E, embora mantenha o seu núcleo duro, ele teve de se socorrer de músicos profissionais para crescer tecnicamente e consolidar, numa componente mais madura e profissionalizada, a sua algo caótica veia criadora. Isso traz-nos alguns problemas, mas coloca-nos perante outros desafios. O problema é manter a motivação alta com tão poucos concertos; o desafio é partir desta estrutura semi-profissionalizada para algo mais sólido em termos de projecto futuro.

 Conectarte – Acha que o grupo tem o reconhecimento que merece? Qual o âmbito desse reconhecimento?

 Salvador – Admito que as pessoas e os grupos tenham sempre o reconhecimento que merecem. O In Situ não foge à regra e tem, certamente, o reconhecimento que merece, porque não soube ou não quis, até à data, conquistar um “reconhecimento” maior. Embora, aqui, caiamos inevitavelmente na questão filosófica da aparente dicotomia entre o ser e o parecer. Julgo que pode dizer-se do In Situ que é mais do que parece, ao contrário de muitos outros grupos que parecem mais do que são. Mas isto não nos deve servir de consolo, porque não nos vale de nada. Num mundo marcado pelo “parecer”, dificilmente podemos esperar reconhecimento apenas pela coerência do “ser”. Também precisamos de parecer qualquer coisa. De qualquer forma, o In Situ, nos meios “marginais” em que é conhecido, é respeitado como um grupo que não cede à facilidade, que tem um projecto consequente e procura que a sua música seja afirmativa.

 Conectarte – Deixe-me ser um pouco provocador: O In Situ merecia ficar em uma qualquer história da música? Repare, a minha pergunta tem subentendida uma outra: o que é relevante para o “Panorama Musical” de um país, de uma época: o sucesso independentemente da qualidade, porque é um retrato da época e do que se faz, ou a qualidade que todos acham que se deve procurar  mas que, se não for (re)conhecida, pode ser um simples episódio das memórias de um grupo de admiradores?

 Salvador – A posteridade tem uma lógica: deixar que as paixões se esbatam para tentar compreender o fenómeno que está por detrás dos acontecimentos. A moda provoca uma adesão primária, avassaladora, quase inconsciente. E o sucesso imediato está quase sempre associado à moda. Mas temos, em Portugal, exemplos de sucesso que estão para além da moda e, até, vão contra a corrente: Madredeus, Sérgio Godinho, Dulce Pontes, Sétima Legião… Não sei se algum deles ficará na História da Música, mas que são relevantes para o panorama musical português, disso não tenho dúvidas. O In Situ não tem “estatuto” para figurar numa história da música, embora tenha conteúdo, sobretudo a sua fase mais experimental, a que chamo música ambiental, à falta de melhor termo. Trata-se de uma busca da síntese entre os sons e as palavras, tendo como pano de fundo preocupações com a natureza e o indivíduo.

 Conectarte – Passemos agora a questões mais artísticas. O In Situ possui um estilo? Segue uma linha estética? Como se definem musicalmente?

 Salvador – A música do In Situ é erudita e contemplativa, sem ser intelectualóide e chata. O grupo bebe a sua inspiração num heterogeneidade musical muito vasta, procurando retirar das essências musicais mais diversas, sonoridades de aroma subtil e personalizado. Muitos temas do grupo podem considerar-se poemas musicais, pois o que resulta dessa ligação íntima , entre som e verbo, é o perfume dessa magnífica síntese. Somos, de certa forma, um grupo alquímico, que procura a Pedra Filosofal no recôndito da alma dos sons.

 Conectarte – Enquanto cidadãos, os membros do In Situ (ou o grupo em si mesmo) têm preocupações face ao actual panorama de gestão da cultura? Quer falar um pouco da vossa visão, e até experiência, face ao papel da cultura na vida das pessoas e ao papel do Poder nesse âmbito?

 Salvador – A nossa postura como grupo assenta naquilo que julgo ser o verdadeiro exercício da cidadania. O In Situ não se esgota no seu projecto musical nem nos seus músicos. O grupo vive no seio de uma família cultural muiti-facetada e inspirada (prefiro o termo família a tertúlia), onde se reúnem pintores, fotógrafos, declamadores, actores e “performers”.  O entendimento geral deste grupo de pessoas é o de que a cultura não é exclusivo de ninguém, nem precisa do formalismo ou do patrocínio de quem manda na cultura para se afirmar. A cultura pertence às pessoas. E as pessoas, à semelhança do que sempre fizeram, desde tempos imemoriais, todos os povos do mundo, devem começar por organizar-se para a produzir e partilhar com a comunidade onde se inserem. Embora aceitemos a inevitabilidade da chamada “cultura de massas”, recusamo-nos a aceitar que ela esmague a cultura genuína que nasce do nosso olhar particular, das vivências e experiências únicas. O poder tem obrigação de, a par da promoção dos enlatados que apresenta nos seus eventos, incentivar a produção de arte que provenha desse imenso e rico caldo cultural das comunidades de cidadãos. É isso a cidadania.

 Conectarte – Por fim, não vamos acabar como de costume,  perguntando sobre os vossos projectos pois eles irão vindo a lume no seu tempo. Queria terminar perguntando ao Salvador o que faria o In Situ se lhe pusessem à disposição os meios necessários para qualquer projecto consistente?

 Salvador – Se calhar, se nos dessem todos os meios necessários, fugia a inspiração e a motivação. O In Situ vai continuar a crescer técnica e conceptualmente, procurando o seu espaço, que é o espaço único da sua música. O nosso sonho é que essa música possa ser significativa para as pessoas e que possa produzir nelas uma química de prazer, de sedução e de harmonia. Quando Deus quiser, gravaremos o nosso primeiro trabalho. Talvez no próximo ano, quem sabe? 

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