CONECTARTE – DIVULGAÇÃO

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 Nasceu em 1966 na cidade de Setúbal. Licenciado em História, possui também o Curso de Especialização em Ciências Documentais.
Actualmente, exerce as funções de bibliotecário na Biblioteca Municipal de Vendas Novas e é docente do Curso de Especialização em Ciências Documentais na Universidade Autónoma de Lisboa.

 Em relação à escrita, ela desenvolve-se em duas áreas:
na área técnica, para além de ter publicado mais de uma dezena
de artigos e de estudos na área das bibliotecas, encontra-se neste momento a preparar um livro sobre promoção da leitura para a Editorial Caminho; 
na área da literatura, a sua de forma natural
de expressão é a poesia, tendo mantido ao longo dos anos uma produção contínua que busca novas temáticas e novas formas.

 O seu percurso poético é marcado por duas grandes fases. Na juventude, foi colaborador assíduo do DN-Jovem, onde publicou meia centena de poemas, tendo muitos deles sido premiados e incluídos em antologias.

Nos últimos anos a sua produção tem sido menos regular, tendo optado por fazer circular os seus poemas somente no círculo restrito dos amigos.

 

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 I.

Hoje acordei com um pássaro morto sobre o peito.

Não explico porque me guiam os ritmos solares e o secreto rumor do sangue. Mas, enquanto dormia, feridas vagarosas sorveram a frescura da minha boca, impossibilitando a nomeação das coisas do mundo. Talvez, talvez o espanto me tenha desalinhado os pensamentos mais secretos ou a ignorância não seja suficiente para dar leveza ao coração.  Não explico porque me foi marcado o corpo com carreiros de cinza e os olhos cobertos de sal. Mas, enquanto sonhava, o ar tornou-se mais transparente, impossibilitando a natural propagação da luz. Talvez, talvez seja possível reduzir os cinco sentidos a um discernimento oculto ou a loucura seja a ciência de um fluir muito mais profundo. Não explico o súbito amadurecimento dos frutos ou a cegueira dos animais. 

Mas, enquanto despertava, as mãos encheram-se de água, impossibilitando o erguer do corpo para uma posição mais definitiva. Talvez,  talvez os pássaros não sejam animais guiados pela sede ou os rios subterrâneos não libertem fragrâncias vegetais.

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II.

Por um instante suspendo o rumor do mundo e recentro meredianamente o meu corpo vegetal. Um fogo mnemónico invade-me a garganta enquanto expando a voz através das partes húmidas do ar, procurando o teu nome fecundo. Tudo em mim pede água, todo o corpo converge  para a boca. Sorvo a frescura de um dos teus gestos e descubro os rios subterrâneos que te percorrem. Sempre soube a sede  como o mistério de encontrar as fontes mais secretas. Por vezes ocorre-me que pactuas com o mar, resgatando-lhe a morte ou talvez o silêncio. Nesses momentos, vejo a tua profunda alma azul.
Pudesse eu somente ser um pássaro absurdo com asas vegetais, e respiraria todo o azul do mundo, demoradamente.

 

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