“(…)Todo o processso de mudança que se vislumbrava no último quartel de Oitecentos, fez que em Setúbal se recordasse que a vila fora um importante centro de cultura desde os finais do século XV. Lembravam-se poetas de nomeada como Miguel Cabedo de Vasconcelos, António Cabedo, Manuel Cabedo,Vasco Mousinho de Quevedo (autor do poema heróico Afonso Africano), Tomás dos Santos e Silva, Frei Agostinho da Cruz, Manuel Maria Barbosa du Bocage, António Maria Eusébio (o calafate), Manuel Maria Portela, António Januário da Silva, Paulino de Oliveira e António Casimiro Arronches Junqueiro.
Mesmo com precaríssimas instalações, os concertos não deixavam de se realizar em Setúbal, cidade de longas tradições musicais. As salas de que dispunha eram frequentemente utilizadas para espectáculos, especialmente musicais. Como exemplo, apresentaremos o concerto pelo violoncelista Frederico do Nascimento, «conhecido em Lisboa e no Brasil (entre outros artistas de renome)», realizado na sala da Academia Filantrópica Setubalense, no dia 24 de Setembro de 1881.
Sob a influência do desabrochar cultural que se verificava na capital portuguesa, Setúbal, a partir de 1880 atravessou uma época áurea de espectáculos, com concertos, horas de arte, saraus e festas de caridade; criaram-se orquestras, grupos corais e instrumentais, grupos dramáticos e de teatro musicado, onde os valores citadinos, jovens compositores e concertistas de mérito reconhecido, a nível nacional e mesmo internacional, se revelaram em ciclos musicais, organizados pelas associações artísticas de Setúbal.
Foi também o período das filarmónicas e bandas que proliferavam na cidade, desde a banda de Caçadores 1 às existentes em várias sociedades, como a Firmeza, o Sol e Dó e a Capricho, entre outras que tocavam pelas ruas e nos velhos coretos do Bonfim e da Rua da Praia.”
QUINTAS, Maria da Conceição. Setúbal nos finais do século XIX. Lisboa : Caminho, 1993, p.236/237.