CONECTARTE – EXCERTOS

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AS ORIGENS DO JAZZ

O jazz de New Orleans

O estilo de música americano, que seria único e conhecido como jazz, começou a tomar forma em New Orleans, no Louisiana, por volta de 1900. A cidade era uma importante encruzilhada cultural e comercial, onde se misturavam correntes de influências africanas, europeias  e latinas. Neste contexto, os músicos começaram a misturar elementos do ragtime, do blues, das canções tradicionais de origem africana, americana e europeia, clamores do campo, hinos de igreja negra e música de bandas de metais.

As teorias sobre como soava o jazz mais primitivo, envolve alguma especulação, porque o primeiro disco representativo de músicos de New Orleans só foi feito em 1923 (por King Joe Oliver e a sua “Creole Jazz Band”). Contudo, fica claro que uma das mais importantes características do jazz de New Orleans era o estilo do grupo a tocar compactamente integrado, em que cada membro do grupo improvisava as suas partes simultaneamente, havendo concordância com algumas convenções então aceites. O músico de cornetim podia improvisar caracteristicamente, embelezando a melodia principal da canção, enquanto o músico de trombone definia a estrutura harmónica tocando importantes notas de baixo (notas de raiz) dos coros.

O clarinista era responsável pela criação da contramelodia para entrelaçar à volta das notas do cornetim, enquanto elaborava a harmonia implicada pelo trombone.

Embora a noção da estreita cooperação entre os músicos permanecer no Jazz dos nossos dias, o estilo de New Orleans, na improvisação de grupo, tornou-se menos central sendo o ênfase adicional substituído pelos solos extensos e individuais. Num tempo mais remoto os valores  e os processos do jazz de New Orleans, têm influenciado os estilos de improvisação de grupo praticados pelos artistas, tais como Ornette Coleman e “The Art Ensemble de Chicago”.  

O jazz mudou-se para o norte

No início do século XX, centenas de milhares de americanos negros mudaram-se do sul rural para as cidades industrializadas do norte, mudança que ficou conhecida como a “grande migração”. Os músicos negros foram entre os que fizeram a viagem , e Chicago, em Illinois, foi um dos seus destinos principais. Muito do que se conhece sobre o jazz de New Orleans veio dos discos feitos nos anos 20 em Chicago. Dos músicos de New Orleans, em Chicago, na altura, os mais proeminentes foram Louis Armstrong, Jerry Roll Morton e King Oliver.

Jerry Roll Morton é lembrado como um dos mais importantes compositores do jazz primitivo. As suas canções, enraizadas no estilo do ragtime, esboçava arranjos originais, que misturava com novas formas os sons dos  instrumentos. Estes progressos nos timbres e texturas instrumentais foram mais tarde expandidas por compositores como Duke Ellington. Os discos de Morton gravados com os “The Red Hot Peppers”, uma banda que ele dirigiu de 1926 a 1930, representam o apogeu do estilo de New Orleans na improvisação colectiva.

A banda de King Oliver, “Creole Jazz Band” fez uma série de discos, em Chicago, em 1923, a qual do mesmo modo representa o auge do estilo de New Orleans no seu pico. Realçando Oliver e o jovem Louis Armstrong nos cornetins, acompanhados por Johnny Dodds no clarinete, a “The Creole Jazz Band” tocava uma música compactada, controlada e polifónica (múltiplas melodias tocadas em simultâneo). No final da década contudo, Armstrong foi criando o som a solo, que podia suplantar a estabilidade delicada da improvisação em grupo.

O músico de clarinete e saxofone soprano, Sidney Bechet, também foi de New Orleans para Chicago durante a primeira vaga da “grande migração”, embora a sua viagem depressa o tenha levado para New York e para a Europa. Primeiro foi em digressão, pela Europa, em 1919, com Will Marion Cook e, finalmente, fixou-se em França. Tal como Armstrong, Bechet foi um solista soberbamente dotado, cujas viagens influenciaram grandemente a recepção do jazz na Europa.

O jazz em França

As oportunidades para os músicos negros começaram a aumentar durante a primeira década do século XX, embora as actuações fossem, geralmente, limitadas a locais inferiores com um pagamento menor. Nos anos seguintes, o líder da banda James Reese Europe gerou uma significativa posição de vida, melhorando a situação laboral em New York. Europe começou a sua carreira musical como maestro de uma orquestra de teatro musical. Em 1910, quando os negros foram impedidos de entrarem nos sindicatos de brancos, ele tornou—se presidente fundador do sindicato de músicos negros, O “Clef Club”.

Em 1914, Europe juntou-se a Irene e Vernon Castle, um par de bailarinos brancos bem conhecido, servindo-lhes de director musical. Com a sua banda, a “Europe’s Society Orchestra”, ele fez arranjos de música sincopada para dar à dança inovadora dos Castle um som jazístico. Em 1914, a orquestra de Europe tornou-se a primeira  banda afro-americana a assinar um contracto de gravação com a “Victor Record Company”.

Europe alistou-se na tropa durante a II Guerra Mundial (1914-1918), ascendendo ao grau de tenente no regimento da 39ª infantaria, só de negros e organizou a banda do regimento (conhecida como a “Hell Fighters Band”). Enviado para França, a banda deu concertos, em cidades e metrópoles tocando ainda para as tropas. Estes concertos deram a conhecer aos franceses a música afro-americana, que depressa incidiu no jazz.

Tragicamente, Europe foi “apunhalado” com a morte do seu baterista em 1919, logo após a ter voltado para casa, em New York. Ele foi o primeiro afro-americano a receber um funeral público em New York, em reconhecimento do seu serviço militar, da sua musicalidade criativa e dos seus esforços na obtenção da igualdade de pagamento e de dignidade para os músicos negros.

Louis Armstrong

Nascido e criado em New Orleans, no Louisiana, o trompetista Louis Armstrong foi bem ensinado no estilo do jazz de New Orleans . Juntando-se aos numerosos americanos negros na “grande migração”, ele viajou para o norte de Chicago, no Illinois, em 1922.Três anos mais tarde, conduzia a sua primeira actuação como dirigente de grupo, no agora disco lendário “Hot Five e Hot Seven”. Armstrong indestrutivelmente mudou o curso do jazz, guiando a música da improvisação colectiva, que caracterizava o estilo de New Orleans, para a música que ampliadamente valorizava e dava ênfase à individualidade criativa e hábil do solista. Ele foi o primeiro grande solista de jazz, um artista bastante original com uma melodia fortemente expressiva e uma imaginação rítmica. Enquanto ele não é particularmente lembrado pelo seu trabalho com as bandas de swing, as suas inovações rítmicas, nos anos 20, ajudaram a lançar a era do swing. Armstrong era um músico completo, não só por influenciar gerações, mas também por exercer um efeito profundo nos cantores de jazz. Em contraste com as actuações preferidas das vozes estiliarizadas das canções populares durante, os anos 20 e 30, Armstrong foi capaz de personalizar a interpretação de uma canção, elevando a actuação sobre a melodia e a letra. Foi também um dos maiores embaixadores da música. As suas viagens pela Europa e África, nos anos 50 e 60, falavam a linguagem do jazz, uma música que ele tinha retocado com uma criatividade prodigiosa.

Billie Holiday

Billie Holiday permanece para muitos, em todo o mundo como a personificação da cantora de jazz. Tal como uma das suas primeiras influências, Louis Armstrong, ela teve uma extraordinária habilidade em pegar numa canção popular e retocá-la completamente, desenvolvendo as actuações originais, que foram impressionando com o seu poder emotivo. A sua primeira gravação foi em 1933, com a idade de 18 anos. Entre 1935 e 1938 gravou para cima de 100 canções, um arquivo maliciosamente criativo dado a sua maneira pessoal, em que ela recompôs as melodias comuns daquela época. Estes discos mostram o seu incomparável e relaxado sentido do swing. Ela foi uma grande actuante de grupo, misturando-se naturalmente com os acompanhamentos instrumentais, Os seus discos, onde foi acompanhada pelo seu amigo chegado, o tenor saxofonista Lester Young, exibiam a delicada e dominante interacção entre a voz e o saxofone.

Em 1939, gravou “Strange Fruit”, um protesto contra o linchamento racial, que marcou  o afastamento decisivo da alegria aparente presente na maioria das canções populares da época. A canção foi um disco marcadamente corajoso para um artista de qualquer cor, em 1939, e estabeleceu Holiday como uma cantora séria. Nos finais dos anos 40 e 50, o alcance das canções de Holiday foi apertado, mas o seu trabalho ganhou uma profundidade emocional. Embora os problemas pessoais que ela encontrou ao longo da vida e que muitas vezes influenciaram negativamente a sua significativa contribuição para o jazz, Billie Holiday tinha uma profunda influência na arte de cantar o jazz. Ela continuou a actuar até à sua morte, em 1959.

Excerto adaptado do Microsoft ® Encarta ® Africana 2000.

                                     Billie Holiday       Creole Jazz band