CONECTARTE – EXCERTOS

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·   Confere prioridade aos instrumentos e sistemas técnicos e não às pessoas e organizações humanas. Os indivíduos só são relevantes enquanto produtores e consumidores;

· a Atribui primazia aos custos financeiros de curto prazo. Gera sobreprodução e escassez;

· r Reduz o carácter concorrencial do mercado interno nacional e aumenta a concentração industrial e financeira a ní­vel global. Ao fazê-lo, favorece o desenvolvimento de mer­cados oligopolistas globais;

· f Fortalece a desigualdade regional dentro dos países e en­tre países no acesso ao processo de inovação (os mais ricos e fortes aumentam a sua riqueza e a sua força);

·    Fortalece a divisão da população e regiões do mundo em mundo «integrado» e mundo «excluído»;

·   Contribui para um elevado nível de ruptura ecológica, apesar de isso poder estimular a procura de novos produtos e processos;

·    É fonte de importante exclusão social. Os indivíduos, empresas, cidades e nações não competitivos são deixados à margem. Deixam de ser sujeitos da história. Não têm qual­quer préstimo porque são os «vencidos»;

·   Sustenta o «círculo virtuoso» da agressividade individual e colectiva e impede o desenvolvimento da solidariedade e do diálogo entre indivíduos, nações e comunidades;

Reduz a capacidade de acção das organizações públicas e da democracia representativa, a todos os níveis, no interior da empresa e ao nível local, nacional e global.

Face a semelhantes condições, é muito difícil falar da exis­tência de instituições e regimes democráticos. A democracia poderá existir em termos formais mas não em termos substanciais num sistema onde impera a lógica das guerras económicas e a lei do mais forte e onde os direitos dos mais fracos se limitam aos que são, pelo menos, bons elementos de produção (se lhes for dada a hipótese de trabalhar) e bons consumidores (dentro dos limites dos custos razoáveis para a assistência pública à pobreza).

Por último, a ideologia da competitividade conduz a um empo­brecimento cultural em larga escala, como é ilustrado pelas actuais análises e debates sobre questões relacionadas com ciên­cia, tecnologia, riqueza, ética, democracia, ambiente, relações Norte‑Sul, paz e solidariedade: tudo é reduzido a uns quantos slo­gans centrados na empresa, no mercado, na gestão, na eficiência, na produtividade, na inovação, na transferência tecnológica, na comercialização, no poder e nos clientes.

 A competição não pode governar o planeta

 Com base no que foi referido anteriormente é agora possível responder à questão: «Poderá a competição governar o planeta?»
E a resposta é claramente negativa. A competição não pode governar o planeta.
A competição constitui uma resposta claramente insuficiente e inadequada para as novas formas de coexistência e de co-desenvolvimento, exigidas por um mundo finito e por um sistema global cada vez mais interdependente e interactivo: o papel da competi­tividade, enquanto modalidade duma específica configuração de mercado, tem que ser repensado e redefinido à luz das condições e dinâmicas do novo «mundo global».

A competitividade tem uma contribuição limitada, em termos de eficiência e eficácia, para a provisão de bens e serviços social­mente relevantes e «amigos do ambiente» que satisfarão, no curso de uma ou duas gerações, as necessidades e aspirações básicas du­ma população que «tem pouco» e compreende 3 a 5 mil milhões de pessoas: a competitividade prova não ser um instrumento eficaz, ou eficiente, para a solução do mau desenvolvimento urbano, do desemprego, da distribuição da riqueza e da protecção social nos países mais avançados da Tríade. Uma das grandes fraquezas da competitividade advém do facto de ser claramente incapaz de reconciliar justiça social, eficiência económica, preservação ambiental, democracia política e diversidade cultural, no mundo em que vivemos. Fica claro que temos que procurar uma alternativa mais eficiente, mais efectiva e mais segura. 

(Excerto de “LIMITES À COMPETIÇÂO”, do Grupo de Lisboa, ed. Europa-América, col. Economia e Gestão).

O Grupo de Lisboa é composto por 19 membros, provenientes do Japão, Europa Ocidental e América do Norte, com diferentes formações académicas e com experiência na comunidade empresarial, na administração, em organizações internacionais e no mundo universitário.