CONECTARTE – EXCERTOS

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Porquê uma Área protegida

 Um Parque Natural é, por definição, um lugar onde a Natureza é particularmente rica, mas é também um lugar onde a paisagem é marcada e influenciada pela presença humana. Ao contrário de um Parque Nacional, onde a Natureza é selvagem, um Parque Natural é o testemunho da integração do Homem na Natureza: é visível a utilização dos recursos naturais e as transformações que elas impõem – como os vales que as actividades agrícolas humanizaram -, mas é igualmente clara a presença de aspectos naturais valiosos – e por isso se protegem os processos naturais.

No Parque Natural da Arrábida a vegetação é o principal motivo de protecção. A evolução natural geo-morfológica da região, há 180 milhões de anos, criou irregularidade no relevo, e variedade de micro-climas, enquanto se instalava uma imensa diversidade de espécies de árvores e arbustos.

A combinação de espécies mediterrânicas, também original pela influência do Atlântico, forma diferentes tipos de vegetação e de habitats nas diferentes áreas do Parque: há áreas que conservam características desde a sua origem, onde a vegetação atinge um elevado porte – aqui, nas Matas do Vidal, Solitário e Coberta, o livre acesso público é interdito. Onde o acesso era mais fácil, a vegetação foi sendo transformada pela agricultura, o pastoreio, lenhadores, uso de fogo para a caça e revitalização das pastagens, sendo hoje a maioria da área do Parque coberta pelos matos.

No entanto, e é essa a grande lição de um Parque Natural, a vegetação nestes matos, por onde o Homem passou, não deixou de apresentar uma enorme variedade de espécies – folhado, murta, aroeira, medronheiro, carrasco, azinheira, carvalho Cerquinho, madressilva, esteva, rosmaninho, tomilho, alecrim… – e hoje o Parque é um lugar de ocupação humana em convivência com outros utilizadores dos ecossistemas.

 “Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

 Nas origens da criação do Parque

 Parque Natural da Arrábida: Surge a 28 de Julho de 1976 pelo D.L. nº 622/76. Estende-se por parte significativa da área designada cadeia da Arrábida, que compreende o conjunto de montes que acompanha o rebordo costeiro meridional da península de Setúbal; deste destaca-se a serra da Arrábida, a sua mais importante elevação e que constitui o núcleo orográfico da cadeia.

 Porque foi criado o Parque Natural da Arrábida?

O principal objectivo da criação do Parque Natural da Arrábida foi a imperativa necessidade de conservar a sua Flora e Vegetação, que constitui um património natural de importância internacional.

 “Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Conservação

As áreas protegidas da Europa dentro das quais se engloba o Parque Natural da Arrábida, são de importância vital para todos nós. Elas abarcam os mais excitantes, dramáticas e inspiradoras paisagens, onde se encontram as mais belas áreas de vida selvagem e muitas das mais duradoras culturas na Europa, em si própria um continente de várias riquezas ambientais.

Na sequência da criação do PNA foi sendo criada mais legislação complementar de modo a permitir a existência de uma base legal para a protecção das Reservas Integrais e Parciais, para o enquadramento das actividades que se realizam nesta área protegida, em particular para a regulamentação das actividades de construção e posteriormente da actividade cinegética.

Reservas Naturais Integrais – são áreas destinadas à observação científica e ao estudo. Pelo elevado valor científico dos biótopos dessas áreas é interdito o acesso livre do público, veículos ou animais domésticos, para que não seja alterada a evolução natural dos ecossistemas.

 Reservas Naturais Parciais – são zonas de protecção especial sobre determinados elementos naturais, ficando sujeitas às disposições internacionais sobre a protecção da natureza e cujo acesso será também limitado. Estas reservas poderão ser botânicas, zoológicas e geológicas.

 Reservas Paisagísticas – são áreas de elevado valor paisagístico, cultural, histórico e estético, quanto aos locais e paisagens.

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

Fauna

 Durante muitos anos, já após a formação do Reino de Portugal, a área em que hoje se encontra o Parque Natural da Arrábida foi uma importante coutada de caça, onde existiu um afauna diversificada que incluía, entre outras espécies , lobos, javalis e veados, estes últimos extintos nesta zona, já no nosso século (1901).

 Hoje, embora menos rica, a fauna da Arrábida apresenta ainda grande diversidade que importa salvaguardar. Nos mamíiferos destacam-se o gato-bravo (Felis silvestris) , o geneto (Genetta genetta), o saca-rabos (Herpestes ichneumon) o texugo(Meles meles), o toirão(Mustela putoris), a doninha (Mustela nivalis), a raposa (Vulpes vulpes), a lebre (Lepus capensis), o coelho (Oryctulagus cuniculus) e ainda a existencia de colónias de morcegos.

Na avifauna, entre as rapinas diurnas existentes salientam-se a águia de Bonelli (Hieraetus fasciatus), a águia de asa redonda (Buteo buteo), o peneireiro (Falco tinunculus); das nocturnas salientam-se o bufo real (Bubo bubo) e a coruja das torres (Tyto alba). A perdiz (Alectoris rufa), o andorinhão real (Apus melba) e abelharucos (Merops apiaster) são, entre muitas outras, espécies que se podem observar nesta Área Protegida. Foram identificadas cerca de 300 espécies de lepidópteros (borboletas) e 450 de coleópteros (escaravelhos e afins), e há muitos outros insectos.

 Alguns destes animais encontram-se protegidos por leis (convenções) internacionais, uma vez que são hoje pouco numerosos no mundo. Alguns estão em vias de extinção, outros são considerados como espécie em perigo, enfim há um conjunto de categorias para definir o perigo em que uma espécie se encontra.

Para todas elas, o nosso esforço de pretecção dos animais deve ser reforçado nestes casos, ou os nossos filhos e netos já nunca vão conhecer estes animais, excepto nas fotografias dos livros.

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Geologia

 Como se formou a cadeia da Arrábida?

O espaço onde se veio a formar a cadeia da Arrábida encontrava-se, durante o Mesozóico (entre 248 e 144 milhões de anos B.P.), na orla sedimentar ocidental de Portugal, mais concretamente na bacia lusitânica. Ao longo desta ter-se-iam depositado sucessivas camadas de fácies marinha constituídas por dolomites compactas, calcários marinhos, argilas lagunares e argilas húmicas.

Durante a sedimentação não houve grandes perturbações de origem tectónica, havendo apenas a registar o movimento da crosta que originou um vale na direcção N-S e que resultou num diapiro embrionário, na zona onde hoje se localiza a vila de Sesimbra.

Depois do Lusitaniano surgiram os grandes movimentos tectónicos que iniciaram a formação do relevo, com uma forte elevação e consequente erosão das regiões fronteiras à bacia lusitânica e uma nova elevação do diapiro. A fronteira continuou a subir, do que resultou um relevo muito acidentado.

Durante o Paleogénico, ou Cenozóico Inferior (entre 64 e 24 milhões de anos B.P.), deram-se no sector ocidental da cadeia, em especial no diapiro de Sesimbra, intrusões vulcâncias.

No Oligocénico (ou Paleogénico Superior), a bacia mesozóica foi quase completamente coberta por um grande mar interior, em que foram depositados lamas vermelhas, conjuntamente com calcários brancos de água doce e ainda conglomerados e areia.

No Burdigaliano deu-se nova trangressão: o mar do Miocénico (há cerca de 24 milhões de anos) cobriu todo o território e depositou calcários, argilas e areias. No Miocénico superior (ou Helveciano) a área da actual cadeia foi sacudida por uma forte orogénese e dobrada num sistema de anticlinais de eixos paralelos, tendo as estruturas sido bastante elevadas e fortemente erosionadas. No Turoniano deu-se nova regressão do mar, acompanhada de elevação das estruturas.

No Pliocénico, ou Cenozóico Médio, a estrutura da Arrábida sofreu uma forte aplanação e só as serras da Arrábida e de S. Luís apareciam acima da superfície aplanada, como montes-ilhas.

Assim, a construção tectónica da cadeia consta da estrutura diapírica de Sesimbra, de origem mais antiga, e do sistema alpídico de estruturas anticlinais, de formação mais recente (anticlinais do Espichel, do Burgau e do Risco e Solitário).

 Relação bioclimática: Segundo Rivas-Martinez existem na Arrábida, 2 dos 6 termotipos dos pisos bioclimáticos mediterrânicos; o termomediterrânico, cujo indíce de termicidade [It=(T+m+M); em que T=temperatura média anual, m=temperatura média da mínimas do mês mais friodo ano, M=temperatura média das máximas do mês mais quente do ano] está compreendido entre 350 e 450 e o mesomediterrânico, cujo índice de termicidade está compreendido entre 210 e 350.

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Flora da Arrábida

 Em consequência dos estudos, registaram-se até hoje 1450 taxa (espécies e subespécies) na região designada por sector arrabidense, no qual sobressaiem as espécies de distribuição mediterrânica (Elemento Mediterrânico) acompanhadas em algumas áreas, nomeadamente nas soalheiras e nas escarpas e arribas marítimas, pelas espécies macaronésicas (Elemento Macaronésico) e noutras, sobretudo nas umbrias, vertentes expostas ao quadrante norte, nos covões e ao longo dos cursos de água (Elemento Eurosiberiano).

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Vegetação da Arrábida

Os estudos fitossociológicos, seguindo a Escola de Montpellier, iniciaram-se nos anos 50, por uma equipa coordenada pelo próprio Prof. Braun-Blanquet, com a participação dos agrónomos Pinto da Silva e Rozeira. O primeiro trabalho engloba os carvalhais da Arrábida (Mata do Solitário).

Desde então, foram determinadas para a Arrábida 35 associações, enquadradas em 16 classes fitossociológicas e admite-se que com o prosseguimento das investigações se possam definir mais unidades, não obstante a sua menor expressão territorial.

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Habitats Naturais de Interesse Comunitário

  São os habitats cuja conservação exige a designação de Zonas Especiais de Conservação (Anexo I da Directiva Habitats), ocorrentes na Arrábida:

 Recifes

Vegetação anual da zona intertidal

Falésias com vegetação das costas mediterrânicas (c/ Limonium spp, endémicas)

Falésias com vegetação das costas macaronésicas (flora endémica)

Matos litorais de zimbros (Juniperus spp.) (*)

Dunas com vegetação esclerófita (Cisto-lavanduletalia)

Águas mesotróficas calcárias com vegetação bentónica de Characea

Charcos temporários mediterrânicos (*)

Troços de cursos de água com dinâmica natural e seminatural (leitos pequenos, médios e grandes), em que a qualidade de água não apresente alterações significativas

Curos de água mediterrãnicos intermitentes

Charnecas secas (todos os sutipos)

Formações de zimbro

Florestas termomediterrânicas e pré-estépicas de todos os tipos

Prados calcários cársicos (Alysso-Sedion albi) (*)

Formações herbáceas secas semi-naturais e fácies arbustivas em calcários (Festuco brometalia) (importantes habitats de orquídeas) (*)

Subestepes de gramíneas e anuais (Thero-Brachypodietea) (*)

Montados de Quercus suber e/ou Quercus ilex

Comunidades pioneiras de ervas altas de orlas de cursos de água em planície

Vegetação casmófita das vertentes rochosas calcárias

Rochas calcárias nuas (*)

Grutas não exploradas pelo turismo

Grutas marinhas submersas ou semisubmersas

Carvalhais de Quercus faginea (Península Ibérica)

Galerias ribeirinhas termomediterrânicas (Nerion-Tamaricetea) e do Sudoeste da Península Ibérica (Securinegion tinctoriae)

Florestas de Olea e Ceratonia

Florestas de Quercus suber

Florestas de Quercus ilex

(*) Tipos de habitats prioritários da Directiva Habitats

“Governo avança com  co-incineração na Arrábida”

 

Desenvolvimento sustentável é um conceito que se passeia na boca do mundo, especialmente desde a Cimeira da Terra no Rio de Janeiro em 1992, mas que muitas vezes as pessoas não sabem definir.

 O desenvolvimento sustentável é aquele que procura satisfazer as necessidades das gerações actuais sem comprometer o acesso a recursos das gerações futuras.

 Num Parque Natural, e, de forma mais geralizada, na Rede Nacional de Áreas Protegidas, podemos falar referir o desenvolvimento sustentável como aquele que tem por objectivo:

O respeito e a preocupação por um presente e fututo melhores, tendo em vista as populações, os ecossistemas e os habitats das Áreas Protegidas.

Ou seja:

  • Melhorar a qualidade de vida humana. O crescimento económico faz parte do desenvolvimento, mas não poderá constituir um objectivo por si só, nem o poderá ser indefinidamente.
  • Conservar a diversidade cultural e vitalidade da Área Protegida.
  • Conservar os sistemas de suporte da vida, ou seja, os processos ecológicos que ajudam a “criar”, definir, ou melhorar, os climas, o ar e a água, regulando canais de água, reciclando elementos essenciais, regenerando solo, permitindo a renovação dos ecossistemas.
  • Conservar a diversidade biológica, incluindo todas as espécies de flora e fauna, garantindo que o stock genético das espécies mais em perigo é preservado.
  • Garantir que o uso dos recursos renováveis seja sustentável. Nestes recursos podemos incluir o solo, organismos e espécies selvagens edomesticadas, floresta, solo agrícola e os habitats e recursos marinhos e de água doce.
  • Garantir que o uso dos recursos não-renováveis seja minimizado, que a sua “vida” possa ser prolongada através da reciclagem, da melhoria ambiental nos sectores produtivos e tentando que o seu uso seja absorvido por recursos renováveis alternativos.

Fonte:IUCN/WWF/UNEP (1991)

Retirado do site do Parque Natural da Arrábida

http://educom.sce.fct.unl.pt/~pna/pnatural.html