A MORTE
Inevitável destino de todo o facto, de todo o acontecimento, de toda a forma de existência, de tudo o que é conhecido ou adivinhado.
O reverso da vida. Desde o seu primeiro instante, a vida é uma luta para evitar a morte.
Noutra perspectiva (da fé em meta-realidades, meta-físicas, multi-dimensões, por exemplo) a morte pode ser encarada não como um fim mas como, precisamente, o oposto: um início de um novo tipo de realidade.
Numa perspectiva simbólica a morte (simbólica) é uma etapa nas caminhadas de desenvolvimento, permitindo desembaraçar-nos do que se tornou um empecilho e ficarmos abertos para o que é positivo.
Economicamente, a morte é um óptimo negócio e também acompanha as novas necessidades da sociedade de consumo: funeral-espectáculo, drive-velórios, …
Nas relações de poder, apesar da passagem dos séculos, continua a ser um parâmetro de decisão. Causar a morte de mais inimigos do que mortes que eles nos inflingem determina a vitória, o poder, o direito a impôr políticas.
Estatisticamente, a morte tem uma distribuição muitíssimo desigual no mundo, quer no que se refere às causas quer quanto às classes etárias. Nos países desenvolvidos a morte já quase é um luxo da velhice. Nos países subdesenvolvidos é ainda a coisa mais fácil de acontecer.
Apesar de tudo o que se diga, parece um facto que a morte não agrada a ninguém, excepção feita aos suicidas (embora não deixe de ser um último recurso) e aos visionários de outros mundos.
Não sabemos ainda como a morte é encarada por outras formas de vida, como todos aqueles seres a quem diariamente tiramos a vida: moscas, baratas, aranhas, lagartos, caracóis, pombos, faisões, perdizes, ratos, cães, gatos, vacas, porcos, galinhas, borregos, cabritos, javalis, veados, avestruzes, coelhos, perus, sardinhas, atuns, lulas, polvos, pescadas. Sabe-se apenas que, apesar da facilidade com que encaramos esses actos de morte, nos parece tanto mais difícil quanto maior for o animal, ou mais afectuoso.
Para bem das nossas consciências seria bom que eles nada sentissem sobre o facto. Apenas causa algum desconforto o facto de todos os animais possuírem instinto de sobrevivência, o que implica que tudo fazem para evitar a morte, desde que se apercebam da sua eminência.
Mais negro ainda é o conhecimento sobre o sentimento da morte nos vegetais.
Nos minerais parece não ter que se colocar a questão, uma vez que, por definição, são formas de existência inanimadas, pese o facto de quem defenda que os cristais são vivos…
Não negro mas estranho é tudo o que possamos pensar sobre o que poderiam pensar sobre a morte uma bactéria e um vírus.
A morte pode vir de fora ou de dentro.
Para que a morte não nos apanhe antes de tempo devemos viver sem pensar que ela existe, o que só é possível depois de tomar consciência que ela existe.