Luisa Todi
.”(…) A mais importante figura feminina das últimas três décadas do século XVIII – e a mais importante em absoluto… – não só do País como da Europa, foi, quanto a mim, Luísa Todi. Relembremos, pois, os passos essenciais da sua carreira.
Natural de Setúbal, em cuja Rua da Brasileira nasceu em 9 de Janeiro de 1753, Luísa Todi veio para Lisboa ainda de tenra idade, na companhia de suas irmãs, de sua mãe e de seu pai, este último contratado como copista para o Teatro do Conde de Soure, no Bairro Alto.
Até 1771 cantou também no Teatro da Rua dos Condes e no Teatro do Corpo da Guarda, no Porto. Em 1777 saiu pela primeira vez do país, contratada pelo King’s Theatre in the Hay-Market, de Londres, onde se manteve desde Novembro de 1777 até Junho de 1778, período durante o qual cantou um total de 27 récitas.
Ainda em 1778, estreou-se em Paris, no primeiro de uma série de concertos espirituais, e aí se manteve durante sete meses. A crítica francesa, após o seu segundo concerto, considerou-a como a mais perfeita cantora estrangeira que até então se ouvira naquela capital.
Depois de outras actuações.
Em Abril de 1783, iniciou em Paris mais uma série de concertos espirituais, datando desse período a sobejamente referida rivalidade com a alemã Gertrud Mara. E, exactamente a propósito dessa rivalidade, vale a pena ler a parte final de uma crítica referente às duas cantoras, publicada no Mercure de France:
“ Numa palavra, a primeira [a Mara] é apenas uma cantora, talvez a mais perfeita que existe para deleitar o ouvido; a segunda [a Todi], penetra no coração e comove-o”.
Creio que estas breves palavras exprimem de uma maneira sucinta a diferença que há entre uma grande cantora e uma grande artista. Resta ainda dizer, a propósito, que a Todi foi então apelidada de “Cantora da Nação”.
Luísa Todi faleceu em Lisboa, na rua que tem hoje o seu nome, em 1 de Outubro de 1833. Faltavam ainda quase 40 anos para nascerem outras duas cantoras portuguesas de grandeza comparável: Maria Júdice da Costa e Regina Pacini. Como se vê, e lamentavelmente, o nosso país não tem sido fértil em grandes vultos da cena lírica mundial.
Nem seria de esperar que o fosse, com a falta de incentivo e de condições de trabalho que os artistas portugueses sempre têm encontrado – e continuam a encontrar – na sua própria terra. Mas esse é um outro assunto, que nos levaria longe de mais e que não tem aqui cabimento.”
MOREAU, Mário. “A mulher Portuguesa e a Música na Época de João João Domingos BomTempo”, in Arte Musical : revista de ensaísmo, noticiário e crítica. Lisboa : Juventude Musical Portuguesa, s/d, p.120-121, 125.