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Carl Gustav Jung: Psicólogo e Filósofo Suíço
Jung foi o membro mais conhecido do núcleo do movimento psicanalítico inicial – seguidores e estudantes de Sigmund Freud.
As suas descobertas incluem conceitos como o inconsciente colectivo, arquétipos, tipos psicológicos, imaginação activa, sincronicidade e o processo vitalício “ si mesmo” conhecido como “individuação”. A sua interpretação da religião e fenómenos parapsicológicos, o seu trabalho com sonhos, e o seu profundo entendimento da linguagem dos mitos e dos símbolos são apenas algumas das poucas realizações que têm contribuído na exploração da consciência humana na nossa era.
Nascido em Kresswill, Basileia no dia 26 de julho do ano de 1875, filho de um pastor protestante chamado Johann Paul Achille Jung e de Emilie Jung, proveniente dos Preiswerk, família bem sucedida de Basiléia .
Um pouco negligenciado e solitário na infância, ele meditava sobre os grandes aspectos da vida. Já nessa época tinha uma inclinação para o sonho e para a fantasia, pensamentos os quais ele procuraria conscientemente desenvolver. Foram estas habilidades que influenciaram grandemente o seu trabalho quando adulto.
Dos dezasseis aos dezanove anos foi a época dos grandes estudos, do contacto com o intelectualismo aristotélico de São Tomás, a filosofia crítica do século XVIII, a filosofia de Schopenhauer.
Completou o curso de medicina em 1902, na universidade de Basiléia, tendo sido a sua tese de doutoramento “ A Psicologia e a Patologia dos Chamados Fenómenos Ocultos”, que era a análise do caso da sua prima, Helly Preiswerk que começou a desenvolver “poderes mediúnicos”.
No mesmo ano da sua formatura, Jung obteve um cargo como segundo assistente do hospital Burghoelzli, Manicómio e Clínica Psiquiátrica da Universidade de Zurique.
Lá, trabalhou com pacientes que sofriam de esquizofrenia, enquanto também conduzia a pesquisa sobre a associação de palavras. Quando um paciente fala, a linguagem desenvolve a sua própria lógica de continuidade – ligando o pensamento, o impulso e a recordação de eventos, portanto a resposta de um paciente a uma palavra-estímulo do analista irá inevitavelmente revelar o que Jung denominou de complexos, um termo que já se tornou universal.
Em fevereiro de 1903 casou-se com Emma Rauschenbach, uma psicanalista com quem teve cinco filhos. Emma foi muito importante para Jung nas suas actividades científicas, dando-lhe sempre muito apoio. Eles viveram juntos até a morte de Emma, em 1955.
Jung teve contacto com a obra de Freud através do livro “A interpretação dos sonhos“, cuja leitura o fez perceber a extensão e a profundidade com que Freud tratou a questão dos sonhos. Jung decidiu falar-lhe sobre o seu trabalho a respeito da associação de palavras. Enviou uma cópia do seu livro, e também começou a usar o tratamento psicanalítico de Freud com os seus pacientes.
Isso iniciou uma troca de cartas entre os dois que foi se intensificando ao longo do ano.
Em 1906 Freud convidou Jung para ir a Viena, encontrando-se pela primeira vez a 3 de Março de 1907. O encontro foi de grande impacto para Jung, que escreveu no seu diário o seguinte:
Ninguém pertencente a minha área de experiência seria capaz de ser comparado a Freud. Na sua mente, não havia lugar para triviata; Eu o achei deveras inteligente, analítico, penetrante e extraordinário em todos os sentidos.
Iniciou-se, então, uma relação profissional séria com intensa colaboração entre eles. Jung nunca concordou inteiramente com as posições de Freud, mas sentia-se como um aluno frente ao mestre e, dessa forma, colocava-se no dever de seguir as suas idéias. Logo Jung caiu na boa graça de Freud para ser seu sucessor no novo e crescente movimento psicanalítico.
Através de Freud, Jung foi nomeado Presidente Permanente (1910-1914) da Associação de Psicanálise durante o Segundo Congresso Internacional de Psicanálise em Nuremberg.
Jung e Freud mantinham um entendimento em comum do profundo papel do inconsciente. Todavia, esse entendimento começou a divergir.
Em 1912, Jung quando foi convidado para dar um ciclo de conferências em Nova York, critica a teoria freudiana da sexualidade por considerá-la demasiado reducionista. Nessa conferência então, ele propõe que os desejos incestuosos do filho em relação à mãe são mais espirituais do que biológicos, e reflectem um desejo de retorno à matrix para que possa renascer, inaugurando então um período de desenvolvimento espiritual do filho. Esses posicionamentos de Jung quanto à questão do incesto não são perdoadas por Freud e assim, cada vez mais os dois caminham para uma separação.
O livro Metamorfoses e Símbolos da Libido, hoje denominado de Símbolos da Transformação, vem selar essa ruptura. O próprio Jung, mais tarde, expressou-se sobre o assunto:
“Quando ainda estava a escrever “Metamorfoses e Símbolos da Libido”, perto do fim, sabia de antemão que o capítulo “O Sacrifício” me custaria a amizade de Freud. Nele expus a minha própria concepção de incesto, da metamorfose decisiva, do conceito de libido e de outras idéias que representavam a minha separação de Freud… Durante dois meses não consegui escrever, de tal forma sentia-me atormentado por esse conflito. Deveria calar o meu modo de pensar ou arriscar a nossa amizade? Finalmente, decidi escrever. Isto custou-me a amizade de Freud. “
Entre 1913 e 1917, quando Jung foi condenado ao ostracismo pela comunidade psicanalítica., ele embarcou num profundo, extenso, e potencialmente perigoso processo de auto-análise ao que ele chamou de uma “ confrontação com o inconsciente” ( Jung, 1961, cap. 6, pág. 170-99).
Jung agora passa a dedicar especial atenção ao material dos sonhos, aos grandes temas mitológicos, e aos desenhos dos seus pacientes, percebendo a similitude entre os símbolos gerados pelo inconsciente e os das várias culturas e tradições religiosas do mundo inteiro. Lá estariam as figuras, símbolos e conteúdos arquetípicos de carácter universal, geralmente expressos na forma de temas mitológicos.
Jung emergiu da sua jornada pessoal com estruturas definidas para a sua teoria sobre arquétipos, complexos, o inconsciente colectivo, e o processo de individuação.
Essas teorias, juntamente com o seu entendimento do simbolismo encontrado nos sonhos e noutros processos criativos, formaram a base da sua abordagem clínica, ao que ele denominou Psicologia Analítica.
Em 1921 publica Tipos Psicológicos, onde estabelece as distinções entre os tipos introvertido e extrovertido, além de estabelecer 4 funções básicas para o funcionamento da psique: sentimento ( água), pensamento ( ar), sensação (terra) e intuição (fogo).
Nesse período que vai de 1920 até 1940, ele elabora um minucioso mapa da psique, desenvolve as suas teoria dos arquétipos e gera obras de grande impacto, tais como: Tipos Psicológicos, Dialética entre o Eu e o Inconsciente, A Energia Psíquica, e o Tratado sobre o segredo da Flor de Ouro.
Enveredou no estudo dos símbolos orientais em parceria com Richard Wilhelm e empreendeu importantes viagens à África do Norte, Novo México, Quênia e Uganda, procurando perceber como se realiza a dinâmica psíquica dos indivíduos saídos de contextos diferentes.
Em 1944 sofre um enfarte e vivência a sua própria experiência de proximidade com a morte, declarando que essa é uma prova da qual a pessoa sai mais lúcida e esclarecida.
Em seis de junho de 1961, na cidade de Küsnacht, na Suíça, faleceu o Dr. Carl Gustav Jung. Dez dias após ter escrito o “ Ensaio de Exploração do Inconsciente” para o livro “ O Homem e os seus Símbolos”.
“ A minha vida é o que realizei, o meu trabalho científico; ambos são inseparáveis. O trabalho é a expressão do meu desenvolvimento interior, porque o compromisso com o conteúdo do inconsciente forma o homem e produz as suas transformações. Os meus trabalhos podem ser vistos como ponto de parada ao longo do caminho da vida”.
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