Lisboa. 3 horas da manhã. Todos os caminhos levam-te ao Tramps. A porta abre-se. Ninguém te questiona, não te olham. Uma luz difusa, um palco, um painel povoado de rostos masculinos. Tudo a preto e branco. A escuridão invade-nos, sombras, rostos, corpos… Os sentidos vão-se habituando lentamente à ausência de luz.
Tudo se joga no masculino. Pensa-se no fio de uma navalha.
Frases sussurradas, despidas… Gestos e palavras desprovidos de subtileza… somos surpreendidos pela nudez do olhar. Os gestos são agressivos, determinados. Desconhecem-se os tons, o claro/escuro, tudo nos reporta a uma primitividade ancestral: comanda o corpo – a sua vaidade, as suas paixões…
Os bastidores. Um espaço pequeno, afunilado. Cinco homens despidos olham-se ao espelho. Dialogam entre si sem se afastarem do espelho. Os rostos vestem-se de emoção, transmutam-se. O espectáculo da cor (os tons fortes, quentes ) , a purpurina, as unhas, as perucas, as transparências.
Esquecemos as pessoas e preparamo-nos para o nascimento do personagem. O momento sublime da criação. Tudo se processa com rapidez e precisão. Mãos experientes movem-se entre cosméticos e adereços.
Não conseguimos deixar de pensar naqueles seres andrógenos, para além do bem e do mal. Não se sabe ao certo quem são, de onde vieram. Existem. Quantos rostos habitam um Drag Queen?
Começa o espectáculo. Um silêncio imenso invade a sala. Abrem-se as cortinas.
A música. O palco é repentinamente povoado de personagens ferozes que se movem freneticamente. Tudo decorre rapidamente. No final, recordamo-nos das cores, do brilho…da chuva de purpurina.
Texto: Carla Marques
Fotos: Mafalda Marques
(Estas fotos fazem parte de um trabalho escolar da Mafalda, aluna da ESBAL, que gentilmente se prestou a deixar-nos publicar)
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